
O I Encontro de Arte e Saúde Mental teve o objetivo de pensar as práticas que ocorrem nos dispositivos da reforma psiquiátrica que, em grande parte, utilizam a linguagem artística como intervenção no tratamento.
Nos dias 21 e 22 de setembro foi realizado, no Teatro Noel Rosa do Centro Cultural da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o I Encontro de Arte e Saúde Mental. O evento foi organizado pelo Espaço Artaud em parceria com o Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da UERJ, com apoio do CRP/05, do Departamento Cultural da UERJ e da FAPERJ.
O evento foi aberto, no dia 21, com a inscrição dos presentes, seguida de uma mesa de abertura composta por Ademir Pacelli Ferreira, professor do Instituto de Psicologia da UERJ, Maria Travassos, Diretora Geral do Espaço Artaud, Ana Carla Souza da Silveira Silva, representante do Movimento da Luta Antimanicomial do Rio de Janeiro e Ana Lúcia Furtado, conselheira do CRP-RJ.
Maria Travassos apresentou o Encontro e a programação, explicando o objetivo do evento: “Queremos pensar as práticas que ocorrem nos dispositivos da reforma psiquiátrica que, em grande parte, utilizam a linguagem artística como intervenção no tratamento”. Ademir Pacelli Ferreira elogiou a iniciativa do Espaço Artaud: “O Encontro é um convite a refletir o que fazemos quando usamos esses recursos na clínica psiquiátrica”, disse. Ana Lúcia Furtado salientou a importância do evento e o apoio do CRP-RJ: “O CRP apóia essa iniciativa porque apóia a Luta Antimanicomial e os princípios do SUS na saúde pública”, afirmou. Ana Carla Silva encerrou a mesa concordando com Ana Lúcia Furtado e elogiando o Espaço Artaud: “O encontro é muito importante porque leva em conta os princípios do SUS, especialmente a integralidade. Discutir o uso da arte dentro da reforma é discutir integralmente o tratamento. Assim, tanto na realização dos eventos do Fórum de Direito e Saúde Mental quanto neste evento, o Espaço Artaud está contribuindo para a reforma”.
Após a mesa de abertura, deu-se início a primeira mesa do dia, que tinha como tema Literatura. A mesa foi coordenada pela professora do Instituto de Psicologia da UERJ, Heliana Conde. O primeiro a falar foi Leonardo Guelman, do Centro de Artes da UFF. Leonardo Guelman falou sobre seu trabalho sobre o Profeta Gentileza, explicando um pouco de sua biografia e como seus escritos ajudaram na continuação da transmissão da mensagem passada pelo Profeta. “A obra de Gentileza se deu essencialmente no contato com as pessoas. Ele foi às ruas, pregou em todo o Brasil, às vezes era revolucionário, às vezes clown. O livro da vida dele, escrito nas paredes do viaduto do Caju, ajuda hoje a manter esse contato, essa mensagem. E as pessoas vêem a importância desse relato, tanto que os escritos são respeitados, não há pichação, não há rabiscos em cima. É um patrimônio afetivo da cidade”.
Ariane Ewald, professora do Instituto de Psicologia da UERJ, foi a segunda a falar, explicando seu trabalho sobre as crônicas publicadas em jornais no século XIX. Segundo Ariane Ewald, as crônicas podem ser vistas como representações do cotidiano, dos modos de pensar e agir de uma determinada época: “O texto da crônica é a criação de um mundo novo, com características do real. Acredito que a arte auxilia no processo de compreensão do que se vive, pois tem uma relação muito próxima dele”, afirmou.

Comunicaçõe orais relataram experiências de diversas cidades do Brasil no campo da Saúde Mental.
Após o almoço, foram realizadas as apresentações das comunicações orais inscritas no evento. Os trabalhos relataram experiências de diversas cidades do Brasil no campo da Saúde Mental e foram organizados nas sessões: Música e modos de subjetivação; Ressignificando a loucura e suas possibilidades terapêuticas; Infância, arte e saúde mental; e Espaço, cotidiano e saúde mental.
Após os trabalhos, ocorreu a apresentação da performance “Camisas de forças sociais”, realizada por usuários do Espaço Aberto ao Tempo, serviço de atenção diária do Instituto Nise da Silveira e pelo grupo de música Sistema Nervoso Alterado, formado por usuários e trabalhadores do serviço de saúde mental do Instituto. A performance trazia as diversas camisas de forças da sociedade brasileira.

A segunda mesa do evento relatou experiências com o uso da arte no tratamento e sua importância para se estabelecer uma comunicação entre paciente, terapeuta e mundo ao seu redor.
Depois da performance, foi realizada a segunda mesa do dia, com o tema Artes Plásticas. A mesa foi coordenada pela representante do Espaço Artaud, Maria Travassos, e teve participação de Lula Wanderley, médico e artista plástico do Espaço Aberto ao Tempo, e de Walter Melo, representante do Espaço Artaud e professor da Universidade Federal de São João del Rey. Lula Wanderley e Walter Melo falaram de suas experiências com o uso da arte no tratamento e salientaram sua importância para se estabelecer uma comunicação entre o paciente, o terapeuta e o mundo ao seu redor.
Segundo Walter Melo, “não há realmente limite entre terapia, reinserção social e arte. A arte aponta tanto para a reinserção e quanto para a terapia. Ela dá espaço para que o poder da vida apareça, ao invés de se apoderar da vida do paciente”. Lula Wanderley concordou: “não há diferença entre arte e terapia, porque ambas são feitas a partir da criação da vida. É preciso criar vida onde só há vazio, subtrair a psiquiatria e dar lugar à poesia”.
O primeiro dia do Encontro foi encerrado com a apresentação “Mutilados” do grupo de teatro do Instituto de Artes da UERJ, coordenado pela professora Denise Espírito Santo.