Terminaram ontem as comemorações da Semana Nacional do Trânsito, que aconteceu entre os dias 18 a 25 de Setembro, em todo o Brasil. Muitos estados brasileiros realizaram uma semana com diversas programações em comemoração a esta semana. Este ano, o tema selecionado pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) foi “Você e a Moto: uma União Feliz”. Tal decisão apoiou-se no fato de que, nos últimos anos, houve um aumento considerável da frota de motocicletas no Brasil.
Atualmente, a frota de veículos no Brasil já ultrapassa os 44 milhões, desse total mais de 17% são motocicletas, o que representa mais de 7 milhões. As motos representam 26% dos veículos envolvidos em acidentes. A cada 100 acidentes com motocicletas, são registradas 70 vítimas fatais e não-fatais. Nos acidentes envolvendo automóveis, são oito vítimas fatais e não-fatais, para cada grupo de 100 acidentes. A Organização Mundial da Saúde projeta que, em 2020, os traumas provocados pelo trânsito nos países em desenvolvimento devem aumentar 85%, saltando da nona para a terceira posição no ranking de mortalidade mundial. O maior número de mortos em nossas grandes capitais é de pedestres e motociclistas – caracterizando o trânsito brasileiro como um dos mais violentos do mundo.
A Semana Nacional do Trânsito de 2006 tem como objetivo reduzir os altos índices de acidentes em todo o país, transmitindo aos motociclistas – foco central desta campanha -, uma mensagem que destaca a importância do convívio social harmônico entre os condutores de motocicletas e todos aqueles que são usuários das vias públicas.
Aos psicólogos do Trânsito, que além da técnica e do conhecimento acumulado são também usuários dos espaços de circulação rural e urbano, cabe refletir acerca das desfavoráveis estatísticas de acidentes, que assombra, sobretudo, pela dimensão humana. Nossos índices estão entre os mais elevados do mundo, dada a incompatibilidade entre o ambiente construído das cidades e o comportamento dos diferentes atores e interesses econômicos envolvidos: os condutores dos veículos; o grande número de pedestres em movimento; a precariedade da educação para o trânsito e da fiscalização; além das condições de trabalho impostas pelos empresários do setor.
O crescimento e o planejamento das cidades brasileiras não pode continuar sendo conduzido pelo desenvolvimento caótico, nem pela exigência do número de veículos – vulnerabilizando pessoas e priorizando as máquinas. Mudar este quadro depende principalmente de um grande esforço político e do compromisso social, ético e técnico de equipes interdisciplinares, no sentido de construir políticas públicas mais humanas.
Os psicólogos, nos últimos anos, caminharam em direção a uma profissão comprometida com as necessidades da maioria da população brasileira, conhecendo e interferindo nas políticas públicas de diversos segmentos. Entendemos que os psicólogos do Transito têm, em suas mãos, um grande desafio – neste setor que está por trás de todas as atividades da sociedade e que afeta todas as pessoas todos os dias.
O CREPOP – Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas, está à disposição para realizar o geoprocessamento dos psicólogos do trânsito e suas produções relacionadas a políticas públicas que façam avançar este setor.
Ana Mercês Bahia Bock – Presidente do Conselho Federal de Psicologia
Fonte: Site do CFP