No dia 5 de agosto, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), por meio do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual, promoveu para psicólogas(os), estudantes de Psicologia e demais segmentos da sociedade o II Seminário sobre “Saúde Mental da População LGBTIA+ no Estado do Rio de Janeiro”, na cidade de Petrópolis/RJ.
O seminário aconteceu presencialmente na Casa dos Conselhos na manhã do sábado e reuniu cerca de 50 pessoas para debater sobre a comunidade LGBTQIA+, suas lutas, direitos, saúde mental, fala e escuta, divididos em um painel e duas mesas temáticas.
O evento também foi transmitido nas redes sociais do conselho, podendo ser conferido na íntegra acessando aqui.
Mesa de AberturaA mesa de abertura foi composta pelo mediador Maycon Pereira (CRP 05/57178), conselheiro do CRP-RJ, coordenador do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual e do Eixo de Políticas e Práticas Anticapacitistas, psicólogo da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de Armação dos Búzios e da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia de Armação dos Búzios, Karine Vieira de Almeida, advogada, coordenadora do CCLGBTI Serrana II e presidente da CDSG OAB/Petrópolis, Tiago Ezequiel, coordenador da Casa dos Conselhos e Victoria Gutierrez (CRP 05/20107), especialista em Terapia de Família pelo IPUB- UFRJ, especialista em Atendimento ao Usuário de Álcool e Drogas pelo IPUB-UFRJ, conselheira, coordenadora da Comissão Especial de Estudantes, coordenadora do Eixo de Políticas sobre Álcool e outras Drogas e coordenadora do Eixo de Políticas para População Migrante e Refugiada do CRP-RJ.
Dando início ao evento, o conselheiro e mediador da mesa Maycon agradeceu o público presente no seminário e a Casa dos conselhos por “receber mais uma vez um evento promovido pelo CRP-RJ, pensado e articulado pelo eixo de Gênero e Diversidade Sexual em conjunto com a subsede da região serrana”.
A advogada e coordenadora do CCLGBTI Karine, iniciou as falas dos palestrantes convidados agradecendo o convite que recebeu do eixo em pode explicar um pouco sobre o Centro de Cidadania LGBTIA, que funciona em Petrópolis e em diversos municípios do Rio. “O Centro é um equipamento que funciona ligado ao Programa Estadual Rio Sem LGBTQIfobias, que fortalece a política pública e cuja missão é efetuar atendimentos a população LGBT em um escopo jurídico e psico-social, com aconselhamentos e orientações tanto nos seus direitos quanto nos seus benefícios sociais, requalificação civil e principalmente a luta pelo cessar da violência no Brasil”.
Karine pontou a felicidade do Centro em receber o convite para falar sobre as lutas, pautas e direitos fundamentais para a sobrevivência da população LGBTQIA+.
O coordenador da Casa dos Conselhos Tiago Ezequiel, agradeceu o convite e sentiu-se orgulhoso em poder receber, mais uma vez, um evento promovido pelo CRP-RJ. “É com muito orgulho que como coordenador da Casa dos Conselhos possamos receber o CRP-RJ em mais uma parceria que já vem se consolidando. Esse tema é muito importante e precisamos lutar a favor da causa. Nós não podemos achar natural qualquer tipo de violência seja ela qual for, física ou psicológica”.
A última da mesa a falar foi a conselheira e coordenadora da Comissão Gestora da Região Serrana Victoria Gutierrez que recordou que esse evento foi pensado pela comissão desde 2020. “Há muito tempo sentimos necessidade de aproximarmos as pessoas que lutam pela causa. É muito importante ter vocês aqui, mas, devemos pensar o porquê o evento não está mais lotado. Por medo? Por que não acha o assunto relevante? Portando precisamos avaliar esses motivos”.
Painel Temático: “A Transversalidade e a Mobilização Diante da Saúde Mental da População LGBTQIA+”
Maycon também fez parte como mediador do painel temático que discutiu “A Transversalidade e a mobilização diante da saúde mental da população LGBTIQA+”.
O painel contou com Ernane Alexandre Pereira, superintendente de Políticas LGBTI+ da SEDSODH, coordenador do Programa Rio Sem LGBTIfobia do Governo do Estado – RJ e vice-presidente do Conselho Estadual LGBTI+/RJ e Maria Eduarda Aguiar, advogada, presidente do Conselho Estadual LGBTI+, especializada em Direitos Humanos para pessoas LGBT e atua nas áreas previdenciária e criminal.
Contextualizando a transversalidade, saúde mental, acesso à saúde e o reconhecimento da identidade civil, a advogada Maria Eduarda perpassou também sobre a história LGBTQIA+ ao qual as pessoas eram encaminhadas a terem uma possível “cura” inexistente. “A história LGBT é de muito estigma onde colocam a essa população como pessoas que precisam de cura. Essa “cura gay” sempre fez parte dessa história. Em 90, a homossexualidade passou a se uma doença mental e só em 2020 você tem a padronização das sexualidades e das identidades”.
Maria Eduarda também falou sobre a resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia que estabelece normas de atuação para as(os) psicólogas(os) em relação à questão da Orientação Sexual, podendo ser acessada aqui.
O coordenador do Programa Rio Sem LGBTfobia Ernane Alexandre Pereira agradeceu o convite ao conselho e a recepção da Casa dos Conselhos. “Acho que as pessoas que estão enchendo esse local vieram debater, discutir e entender as transversalidades as políticas públicas para essa comunidade”.
Ernane também explicou e apresentou estatística sobre o Programa Estadual Rio sem LGBTIfobia, inaugurado em 2010, que atua no combate à discriminação e à violência contra LGBTI+, sendo 19 equipamentos em todo o Estado que funcionam para o acolhimento, atendimento social e psicológico, além de assessoramento jurídico dos casos que são necessários. O palestrante ainda lembrou o mês de agosto é comemorado a visibilidade lésbica e pediu palmas para as mulheres lésbicas presentes no evento. “É um mês muito importante, temos que festejar sim essas datas comemorativas e, que podemos realizar mais eventos como esse, não só em datas comemorativas, mas toda semana e todo mês.”
Mesa Redonda 1: Tecnologias de cuidados em saúde mental da população LGBTQIA+
A primeira mesa dispôs como palestrante Evelin Vaz, assistente social, especialista em promoção da saúde e desenvolvimento social e em políticas públicas de enfrentamos a violência contra a mulher, trabalhadora do SUAS e do Programa Rio sem lgbtifobia, Lívia Miranda, professora, doutoranda em educação, UFF, e dirigente nacional da União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, travestis e transexuais – UNALGBT, Mari de Oliveira (CRP 05/62290), psicóloga formada pela Universidade Católica de Petrópolis e pós-graduada em Saúde pública com ênfase em estratégia saúde da família e atuante no Centro de Defesa dos Direitos Humanos como educadora popular, Nícolas Camara (CRM 52/0108376-7), médico, formado pela Faculdade de Medicina Souza Marques, pós-graduação em Psiquiatria e dependência química na PUC/Rio, é plantonista da Clínica Revitalis – Araras e plantonista da emergência do hospital SMH Petrópolis e Juliana Tempone (CRP 05/57709), psicóloga clínica, especialista em saúde mental e atenção psicossocial, trabalhadora do SUS pelo CAPS II Araruama, redutora de danos, pesquisadora e profissional na área de Maconha Medicinal, colaboradora do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual do CRP-RJ, ativista pelos Direitos Humanos há 16 anos, é integrante do Coletivo Sementeia, Rede Psicocannabis e Frente Estamira de CAPS, na mediação.
A mediadora da mesa Juliana Tempone, leu um texto introdutório que falava sobre o espaço de diálogo e aprendizado que a mesa trazia, a fim de debater e explorar as diversas tecnologias de cuidados disponíveis. “Combinando essas abordagens, estamos promovendo debate sobre a saúde mental que se viabiliza de forma integrativa e que possa oferecer suporte adequado a população LGBTQIA+”.
Seguindo, a primeira palestrante foi Mari Oliveira que parabenizou a proposta do evento que trouxe todos os atravessamentos que possam surgir na comunidade LGBTQIA+. “Esses eventos vêm trazendo a possibilidade de reinventarmos a nossa história. Só estamos aqui porque alguém antes esteve lutando pela resistência e existência da LGBTQIA+”.
Mari falou também sobre a promoção da memória como tecnologia de cuidado. “A memória resgata a comunidade, sua história social e apropriação de seus lugares se abrindo também para novos caminhos”, concluiu.
A assistente social Evelin Vaz, falou dos determinantes sociais que influenciam na saúde mental e sobre a descriminalização da comunidade. “Ser LGBTQIA+ te coloca na mesma condição anti-social de perigo mental. A discriminação causa a falta de acesso ao mercado de trabalho, nos direitos à saúde, saúde sexual, reprodução e os esteriótipos de gêneros são temas que atravessam muito a população LGBTQIA+. Não queremos mais diretos do que as outras pessoas, queremos que os direitos básicos sejam atendidos, apenas.”
Lívia Miranda também agradeceu o convite e compartilhou em sua fala a memória de ter participado como ouvinte de um evento promovido pelo CRP-RJ no passado que muito a atravessou e hoje ela está podendo participar como palestrante era um grande momento.
A convidada trouxe algumas pesquisas, estatísticas e resultados sobre a comunidade e relacionou o quando o tema ainda é pouco estudado. “Temos um quantitativo baixo de pesquisas sobre o tema. É uma temática recente que precisa ser mais falada, pois faltam muitos temas a serem debatidos e outras questões que refletem.”
O médico psiquiatra Nicolas Camara falou sobre o local, objetivo, aliança terapêutica, exame físico, anamnese do atendimento, do acolhimento como tecnologia e ressaltou que “O nosso atendimento não precisa ser pomposo, ele pode ser informal com objetivo de auxiliar a pessoa.”
Mesa Redonda 2: A clínica LGBTQIA+ na contemporaneidade: reflexões sobre o lugar de fala-escuta
A última mesa do evento foi composta por Héder Bello (CRP 05/51594), psicólogo pela UFF, especialista em Trauma e Urgências Subjetivas pela PUC-Rio, mestre e doutorando pelo Instituto de Psicologia na UFRJ, coordenador do Eixo de Laicidade do CRP-RJ, pesquisador do Grupo RELAPSO/USP, é um dos organizadores da publicação: “Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs, Mayara Rocha (CRP 05/59183), psicóloga, psicanalista em formação, pós-graduada em psicanálise com crianças – Intervenção Precoce sob coordenação do SEPAI e colaboradora da Comissão Gestora da Região Serrana do CRP-RJ, Nicolle Pires Kreischer (CRP 05/65917), psicóloga, pós-graduanda em psicanálise e relações de gênero, atualmente está como colaboradora do centro de cidadania LGBTI Serrana ll, faz parte do programa estadual Rio Sem LGBTIfobia, também é psicóloga clinica e possui qualificação pela Rainbow psicologia e Rafi Nobrega Andrade (CRP 05/68220), formade em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, atua em clínica com foco em saúde mental, saúde do trabalhador, questões de gênero e sexualidade é colaborador do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual e da Comissão de Orientação e Ética do CRP-RJ, na mediação.
O mediador da mesa Rafi Nobrega abriu as falas explicando que o evento foi pensado pelo Eixo de Gênero e Diversidade Sexual para que acolhesse toda a sigla do LGBTQIA+. “Grande para dessa temática nunca tem o hetero participando. Essa mesa é para todos vocês que também sendo heterossexuais abraçam a causa.”
A mesa seguiu com o psicólogo Héder Bello que pontuou sobre o processo da publicação do livro “Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs”, organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, por meio de sua Comissão de Direitos Humanos, que apresenta um mosaico de histórias de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTIs) que retratam os intensos sofrimentos ético-políticos e os processos de resistência decorrentes de diversas formas de violências, preconceitos, injustiças e exclusão. “O livro é fruto de ataques específicos a resolução 01/1999 que proíbe a(o) profissional da Psicologia a tratar a homossexualidade como doença. Passei por esse processo de “cura gay”. O mais importante é podermos contar nossas histórias”, contou.
A psicóloga Nicolle Kreischer falou sobre a falta do lugar de fala-escuta em diversos espaços. Kreischer chamou atenção para repensar na formação das(os) profissionais da Psicologia. “Precisamos repensar na graduação. Algumas instituições de ensino são muito conservadoras quando se fala em diversidade sexual”, falou a psicóloga.
Representando o gênero cis-heterossexual e finalizando as falas da última mesa, a psicóloga Mayara Rocha falou sobre suas experiências de clínica no atendimento a pessoas que se enquadram na sigla LGBTQIA+. “Eu vi uma diversidade muito grande e como cada um te um atravessamento diferente. Ter a orientação sendo questionada a todo tempo é devastador. O maior desafio que encontrei foram nas questões da sexualidade. Tive que correr e estudar muito para contribuir com o atendimento dessa população.”
A psicóloga ainda orientou para as(os) profissionais e estudantes que leiam a referência técnica sobre a Atuação de Psicólogas, Psicólogos e Psicólogues em Políticas Públicas para População LGBTQIA+ para melhor embasamento dos atendimentos.
Ao final de todas as mesas, o público presente no local e os telespectadores da live puderem fazer perguntas e colocações sobre os temas debatidos.
Assista na íntegra o II Seminário sobre “Saúde Mental da População LGBTIA+ no Estado do Rio de Janeiro acessando o canal oficial do YouTube do conselho.
#DescriçãoDaImagem: carrossel com quatro fotos dos palestrantes de cada mesa do evento.