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Nota do CRP-RJ sobre Ataques às Escolas


Data de Publicação: 18 de abril de 2023


IMG-20230417-WA0006O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) vem prestar sua mais profunda solidariedade às vítimas dos recentes ataques escolares ocorridos em unidades educacionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Como parte de um cenário mais geral de crescente extremismo de direita no Brasil, eventos como esses se tornam mais frequentes no contexto brasileiro. Jovens com ressentimentos e frustrações algo comuns na idade são interpelados por redes e fóruns de doutrinação onde discursos misóginos, homofóbicos e racistas são vendidos como “solução” para esses impasses. De acordo com um levantamento da Unicamp, nos últimos oito meses ocorreram nove episódios violentos em escolas. E nos últimos 20 anos houve 22 ataques. Esses números demonstram um crescimento considerável. Por isso, é necessário saber como podemos prevenir e minimizar os danos, em todos os níveis.

Precisamos oferecer espaços de empatia e acompanhamento psicossocial para o conjunto da comunidade escolar. É preciso evitar respostas demagógicas de caráter policialesco para um problema tão complexo. É preciso compreender que todos os envolvidos saem impactados (vítimas, autores do ato, familiares e a sociedade em geral), demandando um esforço da família, da sociedade e do Estado com seus cuidados psicossociais, de saúde e de proteção à vida. É fundamental investigar as motivações e seguir com um olhar atento aos sinais. Mais do que individualizar o problema e vê-lo como caso isolado, para prevenir a repetição de tais eventos, é preciso compreender toda a gama de atravessamentos e produção de subjetividades que levam a um evento como esse.

Os últimos anos têm sido marcados por disputas de narrativas e acirramento de visões de mundo que promovem discursos de ódio, racistas e machistas que, embora não justifiquem, contribuem para o aumento dos episódios de violência vivenciados no espaço escolar. Somado a isso, vivenciamos um cenário pós-pandêmico nas escolas, que, como um espaço de convívio social, são permeadas pelos mesmos conflitos vivenciados na sociedade.

O crescente uso da Internet e das redes sociais, que foram a principal forma de interação durante os tempos de distanciamento social, também fornece espaço para a disseminação de discursos de ódio e para o fomento de grupos extremistas. É imprescindível o acompanhamento de tais espaços virtuais pelas forças de segurança pública ea responsabilização das empresas onde os mesmos se hospedam.

Ressaltamos que divulgar fotos, nomes, métodos e demais informações de quem pratica esses atos (conduta que se repete na mídia e nas redes sociais) confere uma espécie de heroísmo que o agressor desejava, além de potencializar um efeito de contágio para novos ataques. Dessa forma, deve-se evitar o compartilhamento dessas informações e seguir o nosso compromisso ético.
Para os atendimentos psicossociais oferecidos às vítimas e à comunidade, é de suma importância que as(os) profissionais de Psicologia tenham capacidade técnica necessária para atuação em situações de emergências. O objetivo da intervenção é minimizar os danos em saúde mental com ações preventivas como preconiza o artigo 1° do Código de Ética Profissional da Psicologia.
Nas escolas, é essencial a atuação a partir da comunicação não violenta, com relações construídas na base da cooperação e empatia, com respeito às diferenças. A presença de psicólogas e assistentes sociais (como preconiza a Lei 13935/2019) com um trabalho em rede com toda a comunidade escolar é urgente e fundamental para a capacidade da escola lidar com questões de saúde mental. Do ponto de vista estrutural, o Estado precisa investir na política pública com aumento de profissionais, com formação e remuneração justa.

Por último, é preciso estar atento para o perigo de propostas de soluções imediatas e improváveis para o problema. Não se prevenirão outros ataques, transformando a escola em um ambiente ainda mais violento ou de vigilância policial constante. A responsabilização das empresas que alocam esses ambientes virtuais de incentivo ao ódio, a oferta de atendimento psicossocial e multidisciplinar na perspectiva da saúde coletiva, além da justiça restaurativa, fazendo o sujeito entender a consequência de sua ação na sua vida, na do outro e na comunidade ao redor, são as respostas sugeridas pela literatura especializada que já se acumulou sobre o tema.



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