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PSICOLOGIA, RELAÇÕES RACIAIS E DIREITOS HUMANOS SÃO DEBATIDOS NA UERJ EM COMEMORAÇÃO AOS 20 ANOS DA RESOLUÇÃO 018/2002


Data de Publicação: 4 de janeiro de 2023


No último dia 7 de dezembro, ocorreu na UERJ, o seminário “Psicologia, Relações Raciais e Direitos Humanos”. O evento que contou com três mesas de diversos temas em asserção à temática proposta, foi organizado pelas Comissões de Relações Raciais e de Eventos do CRP-RJ.

A mesa de abertura foi conduzida pela psicóloga (CRP 05/62992), Thais Lourenço – formada pela UNISUAM-RJ. Pós-Graduada em Direitos Humanos, Saúde e Racismo pela FIOCRUZ, mestranda no Programa da Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER) – Cefet/RJ; coautora do livro “Autoamor”; colaboradora da Comissão de Relações Raciais do CRP-RJ; cofundadora do Projeto de Relações Raciais Sankofa na UNISUAM-RJ; e co-coordenadora da ANPSINEP-RJ, que agradeceu e salientou sobre a escolha da UERJ como o espaço do evento, “não foi uma escolha casual, foi uma escolha pensada e bem elaborada, devido à UERJ ser a primeira instituição a implementar a política de cotas”.

Em seguida, a professora Amana Mattos desejou as boas-vindas e abriu em primeira mão o desejo da instituição em anexar a disciplina “Psicologia e Relações étnico-raciais”, de forma obrigatória na grade curricular. “Estamosprevendo que esta disciplina seja uma lecionada de forma obrigatória, para que toda estudante de Psicologia passe por essas discussões”.

A conselheira vice-presidenta do CRP-RJ, Viviane Siqueira Martins (CRP 05//32170), também se fez presente à mesa e apontou a importância dessa temática na educação. “Quando nós falamos de relações raciais, nós entendemos que a educação é muito do princípio de tudo isso”. “Quero agradecer as pessoas que vieram antes de nós que nos permitiram estar hoje, aqui, sentadas numa mesa de um seminário tão importante, dentro desta universidade. Essa trajetória sempre é de muita luta”, completou.

Viviane também deixou um recado importante, diante ao cenário de desvalorização da luta: “Nós não queremos um lugar igual ao dos brancos, porquê hoje nós entendemosque os brancos têm um lugar de privilégio. Nós não queremos lugar de privilégio, nós queremos um lugar de estar com os nossos e com os outros, onde todos possam estar”.

Iniciando as mesas temáticas, ainda pela manhã, tivemos a mesa “Raça, Direitos Humanos e Saúde Mental”, que também mediada pela psicóloga Thais Lourenço, recebeu a Professora da Pós-graduação em Psicologia da Puc-Rio e participante de redes nacionais e internacionais de pesquisa nos temas de direitos humanos, racismo, socioeducação, Psicologia comunitária e políticas públicas, Maria Helena Zamora, que defendeu uma descolonização, destacando a forma estrutural, colonizadora, que nos foi empregado sobre o conceito de raça.  “Não precisamos somente, racionalmente, compreender as coisas, é preciso que a gente procure descolonizar, tirar o racismo de dentro de nós, seja num ponto que nos coloca numa posição de surpresa diante de um ataque, por que essa possibilidade da humilhação, ela acompanha a vida das negras e negros do Brasil” e completou, “ele sofre efeitos de ter sido criado uma forma racista, num lugar oprimido e ele demora a ter esse estranhamento – obviamente não estou falando isso para que a pessoa que além de ter sofrido racismo, se recrimine total; ‘não porque que eu não reagi, o que eu não fiz?’, a gente faz o que pode, porque é possível fazer e o que possível muitas vezes também é respeitar a suas possibilidades de reação diante disso. Por outro lado, quando uma pessoa reage a uma afronta racista num contexto individual ou institucional e mais ninguém se pronuncia, é muito difícil e acaba por confirmar essa mesma possibilidade de opressão, essa mesma forma institucional. ‘É, mas a queixa é muito difícil’, isso não constitui desculpa nem álibi nenhum para nada. Isso apenas normaliza a nossa subserviência e talvez cumplicidade com o sistema opressor.

Logo após, Mônica Cunha – mulher preta, mãe de três filhos, educadora social, defensora de direitos humanos e feminista, que foi coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ e atua como liderança no Movimento Moleque; vencedora do Prêmio AMAERJ Patrícia Acioli DH 2018; relatou sobre a sua trajetória na militância na luta anti-racista e dos direitos humanos, após a perda do seu filho. “Quando comecei a minha luta, vi que sozinha o questionamento não aconteceria, então outras mãos juntam o Movimento Moleque – que completará 18 anos. Nessa conjuntura, nesse coletivo que em sua maioria tem mais mulheres negras, a gente começa a questionar o não cumprimento do estatuto (Estatuto da Criança e do Adolescente). Quando conheci em 2005, uma instituição chamada Criola, foi quando entendi o não cumprimento do que estava escrito no estatuto para uma parcela de adolescentes – a maioria dos que estavam no sistema, o não cumprimento não era uma coisa sem querer, era proposital, o sistema tem uma política formada há mais de 500 anos, uma política genocida”. E continuou expondo seu ponto de visão da prática do estado sobre as medidas socioeducativas. “O que significa uma política genocida? É quando não se dá oportunidade para a maior população existente, que somos nós, os negros. Não há saúde, educação e nem cultura, mas mesmo assim eles querem destacar meritocracia, que é quando um se destaca, eles fazem questão de pegar este e exibir; ‘olha esse não teve nada, mas chegou’. A gente não discute por conta de um, a gente discute por conta de um povo, queremos essa unidade, esses direitos, para um todo”.

Encerrando a mesa, Rosane Romão (CRP 05/11714) – doutoranda em Comunicação – Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais, Identidade e Comunicação/ MIDICOM, do Coletivo Negro Marcos Romão/CNMR, do PPGCOM/UFF, e, do Laboratório de Identidades Digitais e Diversidade/LIDD/UFRJ.  Mestra em Administração UFF e Membra da Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) /ANPSINEP. Atuou como Consultora do SOS Racismo Brasil, citou alguns autores de renome que deixaram legados para a Psicologia junto as relações étnicos-raciais e comentou sobre um recente acontecimento, onde um advogado negro, em sua corrida esportiva diária, foi abordado por policiais, por apenas estar correndo de máscara. “Era um advogado que só foi respeitado após mostrar a sua OAB e foi abordado por nada. Estamos falando de saúde mental e no racismo o sujeito é cirurgicamente retirado e violentamente separado de qualquer identidade. No início da colonização a identidade ficou para os portugueses, eles podem tudo e nós somos um nada”.

TARDE

No período da tarde tivemos a mesa que reuniu autores para diálogos sobre suas obras, mediada pela psicóloga clínica, pós-graduada em Teoria Psicanalítica e Prática Clínico-Institucional; colaboradora da Comissão de Relações Raciais e co-coordenadora da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) – ANPSINEP – Núcleo RJ, Carina Cruz (CRP 05/37581).

Abrindo a mesa a autora do livro: “Psicologia, raça e racismo: uma reflexão sobre a produção intelectual brasileira” (Ed. Telha), Roberta Maria Federico –Psicóloga (CRP 05/37813) e mestre em Psicologia pela UFRJ; filiada à ABPsi – The Association of Black Psychologists, professora universitária, diretora fundadora do Instituto Sankofa de Psicologia e Educação, que realiza formações em Psicologia Preta/Africana; autora do livro “Psicologia, raça e racismo – uma reflexão sobre a produção intelectual brasileira”; atuante nas áreas clínica e escolar, lembrou do ponto de partida e da importância das ações afirmativas aprovadas em 2001. “Estamos num país onde grande parcela da população negra é excluída do acesso e aos lugares de poder. Nós começamos a debater as ações afirmativas em 2001 e eles disseram que a nossaentrada na universidade iria fazer a qualidade do ensino cair. Nunca podemos esquecer o caminho que foi feito, quem é mais jovem precisar ter consciência do passado. Hoje estamos aqui, psicólogos negros e negras com as suas publicações acadêmicas”.

Roberta também destacou o que mais gostou de ter escrito em seu livro. “A parte que eu mais gostei de escrever foi a fundamentação teórica dele, onde faço um apanhado da psicologia da libertação, da psicologia crítica e falo da psicologia preta, que são disciplinas que a gente não via na universidade. É fundamental dizer que psicologia preta não é nenhuma novidade, tem 60 anos, novidade é a gente falar disso num país de língua portuguesa”.

Seguindo, a autora do livro: “Mas essa criança não tem perfil de abrigo: Raça, gênero e pobreza no acolhimento institucional de crianças e adolescentes.”, Tatiana Oliveira Moreira – psicóloga pela UFMG; mestre em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ (PPFH/UERJ) (2019), com especialização em abordagem psicossocial da adolescência – PUC Minas, psicóloga no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, lotada na 2ª Vara da Infância, Juventude e Idoso da capital; coordenadora do núcleo RJ da Articulação Nacional das Psicólogas(o) Negras(os) e pesquisadores (Anpsinep-RJ), iniciou sua fala explicando a frase que dá nome ao livro. “É uma frase provocativa, porque ao longo do trabalho na vara de infância a gente escuta essa frase, vindo dos diversos setores e profissionais, como se houvesse um perfil esperado que merecesse estar no abrigo, então é uma provocação e um questionamento”.

Tatiana citou também uma observação que obteve durante as suas pesquisas. “Fui analisando ao longo da pesquisa que temos uma tendência na proteção à infância de uma maneira geral, de individualizar as questões, claro que cada família tem a sua história, mas existe um contexto estrutural que faz com que sejam as mesmas famílias, as mesas crianças que ao longo da história estão nos abrigos”.

ÚLTIMA MESA DO EVENTO

O evento seguiu com a mesa que abordou da temática “Resolução 018/2002: desafios e perspectivas depois de 20 anos”, mediada pela então aniversariante Maria da Conceição Nascimento – Psicóloga (CRP 05/26929),Psicoterapeuta, Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica – UFF Membra da Articulação Nacional de Psicólogas/os Negras/os e Pesquisadoras/es, que evidenciou a emoção de estar diante de uma plateia jovem e formada em sua maioria por negras e negros e destacou a presença das mulheres negras na luta pela psicologia ao longo dos anos da profissão.

Dando prosseguimento a mesa, Maria Conceição da Costa– psicóloga clínica e social (CRP 02/10078), doutora em Psicologia Clínica (UNICAP/2022); mestra em Psicologia (UFPE/2010); coordenadora geral da Articulação Nacional de Psicólogas(ues/os) Negras(es/os) e Pesquisadoras(res) – Anpsinep; pesquisadora no Grupo de Pesquisa Psicologia e Política (UNICAP) e da Clínica Antirracista, apontou a incitação ao reconhecimento da resolução 018/2002. “O principal desafio é que essa resolução seja reconhecida e conhecida pela categoria de psicólogas e psicólogos, mas o outro grande desafio dela é que a sociedade à conheça e à reconheça, pois, a resolução é uma defesa da prática da psicologia para a sociedade. E qual é o seu principal desafio? É que a psicologia reconheça a existência do racismo no Brasil, estudando, pesquisando e enfrentando o racismo”.

Seguindo, Hildeberto Martins – presidente da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) na gestão 2022-2023; conselheiro do CRP-RJ na gestão 2019-2022; psicólogo pela UERJ, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ (IMS-UERJ) e doutor em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP); professor associado da Universidade Federal Fluminense (UFF-CURO) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFF, pesquisando os temas relações raciais no Brasil, história da Psicologia e Psicologia social, frisou que “não podemos esquecer que só a partir de 2001 que o estado brasileiro reconhece que há racismo na sociedade brasileira e que é preciso produzir politicas preparatórias ou políticas de ações afirmativas, mas também não podemos esquecer que se essas transformações só começam a aparecer a partir dos anos 2000, essa discussão sobre racismo no Brasil é muito mais antiga que isso”.

Hildeberto também acentuou a sua visão sobre a forma de agir contra o racismo na Psicologia. “Tenho falado que podemos pensar a questão das relações raciais e o campo da psicologia, a partir de um grosso modo de três eixos de analises e que acho que eles atravessam não só a Psicologia, mas a própria sociedade brasileira. Quais seriam esses eixos de análise: Primeiramente seria no que se articula essa questão racial, racismo, sociedade brasileira de psicologia, com o eixo que chamo de Denúncia, uma série de atores sociais vão produzir, escrever, pensar e denunciar esse tipo de racismo que existe na sociedade brasileira. Há um segundo momento, que é na verdade uma tentativa de entender as formas e o funcionamento do racismo à brasileira e há um terceiro momento, que seria na verdade, superação de estratégias contra estas formas de racismo”.

Fechando a mesa Ivani Francisco de Oliveira – psicóloga (CRP 06/121139), autora da dissertação “Versões de mulheres negras sobre a transição capilar: um estudo sobre processos de descolonização estética e subjetiva”; mestra em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), integrante do Instituto Afro Amparo Saúde, docente e supervisora de estágios da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), enfatizou a importância do conhecimento da resolução e das orientações para a categoria, sob um olhar do profissional e da sociedade. “Tão importante quando a categoria ler as orientações, as referências técnicas, estudar e entender o racismo, é a sociedade saber que nenhuma psicóloga, nenhum psicólogo pode ser racista, isso é o mais importante, porque é importante que a sociedade atendida possa se levantar contra qualquer intervenção racista em seu atendimento”.

“Precisamos gerar enquadramento ético paras aquelas e aqueles que não respeitam esse princípio fundante de direitos humanos e de atuação profissional de serviço de Psicologia. Precisamos transformar essa resolução em algo que possa gerar, à princípio, uma inibição e por consequência, um enquadramento ou uma responsabilização ética pelas faltas que os profissionais comentem, que não são poucas”, enfatizou Ivani.

Após a última mesa temática do dia, o evento contou com uma apresentação cultural com Xandy MC, que recitou alguns poemas de sua autoria e cantou suas músicas para a plateia presente.

Confira as imagens do evento:

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