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15ª MOSTRA: SÁBADO COMEÇA MOVIMENTADO COM A MESA “OS DESAFIOS ATUAIS DA CONJUNTURA PARA A PSICOLOGIA BRASILEIRA”


Data de Publicação: 18 de agosto de 2022


Logo no início da manhã do dia 30 de julho, o debate “Os desafios atuais da conjuntura para a Psicologia Brasileira” ocupou o auditório da Universidade Veiga de Almeida, na Tijuca.

WhatsApp Image 2022-08-18 at 12.03.44Com a presença de Mônica Cunha, educadora social antirracista, colaboradora da CDH Alerj, cofundadora do Movimento Moleque, Rede nacional de familiares vítima do Brasil; Claudia Simões Psicóloga  (CRP 05/30182), coordenadora do Núcleo de Assistência Social do CRP-RJ; e                   Rachel Gouveia Rachel Gouveia, pós-doutoranda em Direito (PUC/RJ), professora adjunta na Escola de Serviço Social da UFRJ, docente colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da UFF, co-coordenadora dos projetos de pesquisa e extensão “Luta Antimanicomial e Feminismos” e “Encruzilhadas: diálogos antirracistas”. A mediação foi de Alexandre Trzan Ávila (CRP 05/35809), pós-doutorando em Filosofia no Centro de Filosofia, Política e Cultura na Universidade de Évora (Portugal), sob orientação da Dra. Irene Borges Duarte, doutor e mestre em Psicologia Social (PPGPS/UERJ), especialista em Psicologia Clínica, docente e supervisor de estágio na USU, coordenador geral do Núcleo de Clínica Ampliada Fenomenológica Existencial (NUCAFE) e conselheiro XVI Plenário do CRP-RJ.

Este foi mais um encontro potente promovido pela 15ª Mostra, que assim como os outros debates trouxe diversas problematizações sobre o fazer psi inserido na realidade brasileira. Fica nítido pela fala de todas (os) as (os) palestrantes que passaram pelo evento que o contexto sócio-histórico é fator determinante na produção de subjetividades dos sujeitos, bem como é intrinsecamente conectado à formação da Psicologia, enquanto ciência e profissão. Não existe ciência “pura”, descolada das disputas ideológicas e da realidade na qual se insere.

WhatsApp Image 2022-08-18 at 12.03.57Segundo Rachel, “temos uma tarefa de problematizar as disputas em torno da concepção de saúde mental, do sofrimento, do adoecimento que estão colocados para nós que pensamos os novos processos de subjetivação. Não tem como a gente relacionar na realidade brasileira a conjuntura sem pensarmos a formação socio-histórica política da nossa nação e trazermos para o eixo central as relações de gênero, raça e classe. Por muito tempo foi ignorado esse debate que interssecionaliza as opressões e pensa nossa sociedade. É como se a nossa sociedade não fosse forjada em sua particularidade por essas opressões e explorações. Pensamos o sofrimento e o adoecimento descolado da conjuntura e da própria construção da concepção de nação, como se o Brasil não tivesse esse problema”.

“Por muito tempo foi dito ’aqui não temos problema sobre racismo’, por exemplo. Aqui somos o povo miscigenado e a gente não se atenta para isso, mas isso impacta diretamente nos nossos modos de vida e na forma como nos constituímos sujeitos. Nós não somos sujeitos isentos da racialização, pelo contrário, cada um de nós tem uma localização étnico-racial, de gênero, de sexualidade, de localização de classe, territorial, locacional e por aí vai. Só que pensar a nossa conjuntura e a formação da sociedade não dá mais para fragmentar ou entender que há recortes, pensar, por exemplo, as opressões como um recorte. Nós entendemos o estrutural estruturante da sociedade capitalista e que tem manifestações particulares na formação social brasileira”, explicou Rachel.

Já Cláudia Simões, contribuiu compartilhando experiências e práticas no âmbito da Assistência Social, política pública na qual atua como psicóloga. “Podemos usar o ano de 2022 como o ano base para essa discussão. Muitas vezes, esses eventos anormais que vem captando nossos territórios ultrapassam muito a capacidade de resposta dos municípios e estados e a união e gera uma grande desproteção para as famílias. Se pensar que no mês de fevereiro tivemos a calamidade de Petrópolis e em abril, logo depois, quando nem tínhamos nos recuperado do que aconteceu, tivemos também uma forte chuva que atingiu três regiões do nosso estado: a Costa Verde, a Baixada Fluminense e as Baixadas Litorâneas, no total de 11 municípios atingidos. Por que falar disso é muito importante? Porque estamos falando, por exemplo, em Petrópolis, de 800 pessoas desabrigadas. Tivemos que, naquele momento, abrir 14 abrigos provisórios. Falar disso é falar de uma organização que precisa acontecer dentro do caos. Estamos falando de organizar uma rede de proteção integral para 800 pessoas, estamos falando de criar 14 espaços com trabalhadores que garantam a proteção das pessoas que ali estão precisando. Imaginem uma rede de proteção social de um município que tem um serviço de acolhimento à população adulta, precisar naquele momento de 14”, contou Cláudia.

A psicóloga refletiu sobre as formas de fazer psicologia, em contextos como esse, com uma atuação em emergências e desastres, mas sempre pensando também em prevenção. “Podemos contribuir de diversas maneiras, queremos ampliar e promover um diálogo importante para a população que é usuária dos nossos serviços. Queremos contribuir para elaboração de planos de contingência do nosso lugar na rede de serviços, porque não adianta ter um plano de contingência que ninguém conhece e que foi feito por um órgão que não protege, que não está ali no dia a dia e não conhece o território onde as estratégias efetivamente se dão. (…) A ideia de tratar a temática a partir dessa gestão integral do risco é tratar de toda essa articulação anterior que precisa acontecer para minimizar aquele impacto na população”, concluiu Cláudia, apresentando a realidade de mais um grande desafio para a Psicologia brasileira.

Por fim, Mônica trouxe sua realidade de vida, uma mãe que perdeu o filho, e se viu impulsionada a lutar pela garantia de direitos de todos. Ela teve a generosidade de compartilhar sua trajetória na defesa dos direitos humanos a partir do trágico acontecimento que se deu em meio a inúmeras violências e violações de direitos. “Sem ser os livros da escola, o primeiro livro depois desse momento na minha vida foi o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ali eu começo a entender que mesmo tendo um filho que cometeu atos infracionais, ele tinha direitos e continuava sendo um ser humano, mas eu via que ali faltava algo que eu não entendia o que era”, contou.

“Eu ficava em uma eterna discussão por conta dessa situação. Enfim, fui conhecer uma instituição chamada Crioula, onde ali, ao decorrer do tempo, eu fui entendendo e compreendendo o que era racismo, e obviamente ficou muito mais escuro para entender aquele questionamento. Por que as coisas aconteciam daquele jeito? Então eu virei a chave, comecei a ir nesses espaços e dizer que esses profissionais não tinham uma atuação que deveriam ter, como estava na lei”, questionou Mônica, apontando o contexto de injustiça e violações, promovidas em grande parte pelo racismo estrutural que produz o pré-julgamento de pessoas negras, e principalmente de jovens negro que incorrem em algum ato infracional.

Alexandre Trzan pontuou ao fim da mesa que “estamos nesses lugares recordando o quanto uma política pública descuidada, genocida e proposital, pode ser extremamente impactante para a volta da fome, da miséria e do adoecimento. Hoje, na construção de uma saúde mental, por exemplo, que se contrapõe à lógica hospitalocêntrica, manicomial e de aprisionamento, temos que pensar alternativas possíveis para o território, sem necessariamente psicologizar e patologizar, em meio a uma realidade de desmonte e retrocessos”.

O cenário apontado pelo debate mostra nitidamente os grandes desafios que uma Psicologia de fato comprometida com seu Código de Ética profissional, calçado na garantia de direitos humanos, encontra atualmente. E isso é motivo para engajamento e resistência por uma Psicologia que seja realmente brasileira e decolonial.

Quer ver tudo o que aconteceu? Clique aqui e assista na íntegra 

Para ler a cobertura completa da 15ª Mostra, comece aqui .



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