O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, por meio da Comissão Especial de Emergências e Desastres – CRP RJ, realizou a 1ª edição do Ciclo de Rodas de Conversa “A Psicologia em situações de Emergências e Desastres, atuação, desafios e limites”, no dia 20 de julho, na Defesa Civil de Angra dos Reis.
O evento foi sucesso de público, tendo o auditório lotado com cerca de 60 psicólogas e psicólogos, não somente de Angra, mas também de Paraty e localidades circunvizinhas.
Logo no início da tarde, a conselheira presidenta do CRP-RJ, Mônica Sampaio (CRP 05/44523), abriu o evento dando as boas-vindas ao público presente e falando da forma participativa com a qual o evento foi construído: “Estamos aqui hoje porque um grupo de pessoas nos ajudou a construir um evento de todas nós. A importância de construir momentos como esse é que estamos também construindo saberes e produzindo conhecimento. O ser humano não é estático, estamos em constante movimento, conectados com a informação e nossa prática acompanha tudo isso.”
Foi iniciada uma mesa institucional de abertura que contou com a participação de Jaqueline Rabelo, representante da Secretaria de Assistência Social do município de Angra dos Reis, Júlio Almeida, representante da Defesa Civil, Tereza Leite, representante da Secretaria Municipal de Saúde, e Melissa Barra, representante da Secretaria Municipal de Educação de Angra.
A fala comum a todos foi destacar a importância de encontros como esse, que fomentam o compartilhamento de conhecimento sobre uma atuação tão complexa no âmbito da gestão de riscos, emergências e desastres.
Em seguido, foi a vez da tão esperada mesa temática, composta por Ariel Pontes (CRP 05/64806), psicóloga/UFRJ, que coordenou o Programa de Restabelecimento de Laços Familiares (RLF) da Cruz Vermelha Brasileira RJ, pós graduada em Psicologia das Emergências e Desastres e em Defesa Civil / Unyleya, pesquisadora do Grupo de ensino, extensão e extensão de saúde em emergências e desastres (GEPESED- UFRJ), além de colaboradora da Comissão Especial de Emergências e Desastres do CRP-RJ; Thaís Vargas Menezes (CRP 05/33228), conselheira da XIV Plenária, coordenadora da Comissão de Orientação e Fiscalização – COF, psicóloga atuante no Degase; Ariadne do Prado Goulart (CRP 05/43211), psicóloga do SUAS CREAS de Angra dos Reis.
Ariel abriu as falas da mesa temática trazendo uma contextualização sobre a atuação da Psicologia neste contexto de emergências e desastres, pontuando que o trabalho psi compõe também a prevenção, não somente as demandas posteriores ao acontecimento. A prevenção passa por mapeamento de riscos e também das vulnerabilidades de cada contexto social, principalmente porque desastres são tão imprevisíveis: pelo contrário, existem uma série de condições prévias, de toda ordem, que podem indicar os locais e comunidades com maior propensão a sofrer com grandes acontecimentos emergenciais.
A psicóloga ressaltou ainda a necessidade de capacitação constante da (o) psicóloga que pretende ou já atua neste contexto extremamente complexo e desafiador. “A gente vai lidar com inúmeras perdas, materiais, físicas e emocionais. O papel do psicólogo não é comparar dor, nosso papel é validar essa dor, seja qualquer tipo de dor, porque a partir do momento que você coloca afeto em algo e você perde aquilo, aquilo pode se transformar em dor. Para entender tudo isso precisamos estar capacitados para esta atuação e para este tipo de acolhimento”, explicou.
Logo depois, Thaís trouxe uma visão sobre como é fundamental o trabalho em rede no acolhimento às pessoas atingidas por desastres, pois a partir da ocorrência diversas vulnerabilidades afloram e a necessidade de serviços diversos fica nítida. As atuações devem ser em rede e o acolhimento deve ser continuado, daí a importância das políticas públicas: garantir esta continuidade, para que não haja a produção de mais uma violência, num contexto já tão doloroso.
Além disso, Thaís chamou atenção para a importância de se observar as normativas que guiam a atuação da Psicologia: “Precisamos olhar pro nosso Código de Ética e respeitar, aquilo é nossa responsabilidade. Uma das nossas responsabilidades é saber o que estamos fazendo, ter clareza da nossa atuação naquele espaço. Se entendemos que não temos ferramentas pra lidar com a situação, o encaminhamento é a coisa mais importante de ser feita. Observar as normativas, observar o conhecimento já sistematizado, se capacitar, é primordial para desempenhar o trabalho”.
Por fim, Ariadne, que atuou junto à população atingida pelas últimas fortes chuvas em Angra dos Reis, falou “nós percebemos também como pessoas em uma situação de vulnerabilidade social são muito mais afetadas por emergências (…) Não tem como a gente falar da atuação na emergências sem falar do compromisso da Psicologia social, do nosso compromisso enquanto profissional. E isso faz parte da prevenção”.
Além disso, Ariadne trouxe uma outra questão de extrema pertinência: a saúde do trabalhador. “Quem cuida de quem cuida?”, questionou a psicóloga, justamente para trazer a reflexão sobre o cuidado com as (os) profissionais que atuam nesta realidade extrema, que tem contato com tanto sofrimento, e que no âmbito emergencial, por vezes também são atingidos pela tragédia.
Após as falas da mesa temática foi aberto um amplo debate com o público presente, no qual diversas (os) profissionais puderam compartilhar os desafios encontrados e trazer questionamentos. Essa proximidade com as (os) profissionais que estão envolvidos nas diversas políticas públicas, atuando no território e interferindo nos fatores de risco e vulnerabilidade da população, é justamente um dos principais objetivos desse ciclo de rodas de conversa que o CRP-RJ está promovendo.
A próxima edição ocorrerá na Subsede Baixada Fluminense, neste sábado (23 de julho), às 10h.