Diante do cenário de calamidade pública que a cidade de Petrópolis está enfrentando, vem sendo necessários diversos tipos de ajuda e colaboração, que visam mitigar o efeito devastador deste desastre na vida das pessoas atingidas. Neste sentido, profissionais de Psicologia se tornam imprescindíveis, desde que capacitados para esta atuação tão complexa quanto necessária.
Por isso, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, traz algumas orientações importantes para que o trabalho de psicólogas e psicólogos corrobore para esta escuta qualificada e que impacte positivamente a vida de vítimas e famílias enlutadas.
Lembrando que ainda estamos vivenciando a pandemia da Covid-19 e que cuidados com a segurança sanitária de todos devem ser tomados.
Importante ter atenção também a riscos de novas chuvas fortes e deslizamentos. Não é possível ajudar, se colocando em risco.
Para trabalhos desenvolvidos de forma voluntária:
Não há impedimento na legislação profissional em prestar serviços psicológicos de forma voluntária e gratuita. Entretanto, alguns cuidados devem ser observados, principalmente porque a atuação psi é voltada para subjetividades e sentimentos. É necessário que o profissional esteja capacitado a desenvolver um trabalho de qualidade, principalmente num âmbito tão intenso como a atuação em emergências e desastres; é preciso que as(os) profissionais tenham uma proposta de trabalho que garanta a gratuidade por todo o período da prestação do serviço; não se pode usar o trabalho voluntário ou a gratuidade como publicidade dos serviços; é importante buscar por instituições que organizem este tipo de trabalho (voluntário).
Destaca-se ainda, que é necessário atentar aos preceitos do Código de Ética e demais normativas do Sistema Conselhos de Psicologia, como em qualquer outra atuação. Por exemplo,
São deveres fundamentais da (o) psicóloga (o) (*Artigo 1º):
Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;
Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal.
Para trabalhos desenvolvidos com o auxílio de estudantes de Psicologia:
Mesmo num contexto emergencial, é necessário lembrar que a formação em Psicologia requer a construção de aprendizados, “o domínio da observação das ações e comportamentos de pessoas e grupos, de técnicas de entrevista, de manejo das relações e interações, de sensibilidade à experiência do outro, de leitura do ambiente em que ocorrem as interações, de formas de comunicação de pensamentos e sentimentos, de leitura de linguagens oral e corporal, de suporte às emoções das pessoas” (Nota Orientativa do Sistema Conselhos de Psicologia em conjunto com ABEP – Associação Brasileira de Ensino de Psicologia).
E esses conhecimentos são gradativamente construídos. Assim, o tornar-se psicóloga ou psicólogo passa por processos cognitivos, afetivos e corporais, vivenciados e elaborados por processos reflexivos ao longo de toda a graduação.
É notório que num contexto de tragédia como o de Petrópolis todo trabalho desenvolvido no âmbito da Psicologia tem diversos desafios, até mesmo para profissionais experientes, e nesse sentido, qualquer estágio desenvolvido com estudantes junto à vítimas da tragédia deve ser orientado de muito perto por profissionais capacitados, na figura de supervisor responsável por aquela atividade.
A angústia, tristeza, luto em dimensões colossais torna muito mais contundente a complexidade do serviço psicológico em contexto de calamidade pública.
E é importante entender que o atendimento das necessidades de um segmento não pode se sobrepor aos riscos que causam em outro segmento. Todo o trabalho psi com o auxílio de estudantes deve estar pautado em manter a qualidade da formação da futura psicóloga (o), e, consequentemente, como condição necessária, deve visar o bem-estar e a promoção da saúde das pessoas atendidas, sem causar desconforto ou produzir quaisquer tipos de violência.
OBS: da mesma forma toda a legislação deve ser respeitada, em especial os princípios fundamentais e o Art. 17 do código de ética: “Caberá aos psicólogos docentes ou supervisores esclarecer, informar, orientar e exigir dos estudantes a observância dos princípios e normas contidas neste Código.”