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“PSICOLOGIA NA CONTRA-COLONIALIDADE”: ÚLTIMA EDIÇÃO DO ANO OCORREU NO DIA 3 DE DEZEMBRO EM NITERÓI
Data de Publicação: 20 de dezembro de 2024
No dia 3 de dezembro, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), por meio da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais, realizou o último evento “Psicologia na Contra-Colonialidade” de 2024.
A atividade ocorreu no auditório da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), localizado na rua Marechal Deodoro, 217, no Centro de Niterói–RJ.
O encontro promoveu diálogos sobre impactos do racismo na população negra e como a Psicologia deve atuar na contra-colonialidade. Os palestrantes discutiram sobre ancestralidade, equidade e políticas públicas de prevenção ao suicídio.
Confira como foi o evento na íntegra pelo canal oficial do CRP-RJ no YouTube @realCRPRJ.
Abertura Institucional
Para introduzir o evento ao público, a mesa de abertura foi composta por Sandra Ricardo (CRP 05/21576), psicóloga, professora, doutoranda em Psicologia social e do trabalho, mestre em política social, especialização em violência doméstica contra criança e adolescente e em Psicologia organizacional, e MBA em gestão de pessoas e educação corporativa; Viviane Martins (CRP 05/32170), Vice-presidenta do CRP-RJ, colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais, psicóloga no SUAS por mais de 20 anos, especialização em gênero e sexualidade pela UERJ, coordenadora de programa e projetos do instituto observaSUAS; e Thaís Lourenço (CRP 05/62992), psicóloga clínica, mestra em relações étnico-raciais, Colaboradora da Comissão Especial de Eventos e Coordenadora Adjunta da Comissão Especial de Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, e co-coordenadora da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) – ANPSINEP – Núcleo RJ;
Representando a UNIVERSO, Sandra Ricardo agradeceu pela realização do evento. Ela destacou que a Psicologia está de braços abertos para novas conversas, como a Contra-Colonialidade, dos debates recorrentes sobre o racismo, agora a pauta recebe uma discussão mais crítica.
A vice-presidenta Viviane Martins explicou a importância das etapas do 12º COREPSI, que servem na construção de novas ideias entre profissionais e estudantes, e, em seguida, serem apresentadas no Conselho Nacional de Psicologia (CNP). Martins convocou o público a participar do processo coletivo de elaboração e execução de políticas para os próximos três anos da categoria.
Thaís Lourenço, Coordenadora Adjunta da Comissão Especial de Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, apresentou as(os) componentes da Comissão e seus respectivos cargos e comentou sobre os temas que seriam discutidos pelos palestrantes seguintes.
Mesa 1 – Só é Antimanicomial Se For Contracolonial
A proposta da mesa foi analisar contextos históricos do racismo e ancestralidade, com mediação de Carina Cruz (CRP 05/3758, psicóloga clínica, pós-graduada em teoria psicanalítica e prática clínico-institucional; colaboradora da Comissão de Relações Raciais e co-coordenadora da ANPSINEP – Núcleo RJ; a mesa debateu contextos históricos do racismo e ancestralidade.
As(os) palestrantes convidadas(os) foram Tainara Cardoso Nascimento (CRP 05/53339), cria do morro da Chumbada em São Gonçalo, psicóloga e mestre em Psicologia social e diretora no CAPSi Pequeno Hans. É uma das idealizadoras dos projetos “áfrica em nós” e do “Psicologia em diáspora”, priorizando os temas relacionados às questões raciais e direitos humanos, sobretudo direito da criança e do adolescente; e Abrahão de Oliveira Santos (CRP 05/39267), psicólogo, docente no Instituto de Psicologia da UFF, professor no PPGP-UFF, coordenador do kitembo onde trabalha em equipe para uma Psicologia afroindígena, antirracista e contracolonial.
Carina Cruz iniciou a mesa prestando homenagem ao Nego Bispo, autor da proposta de “contra-colonialidade”, pois na data marcava um ano de sua morte.
A psicóloga Tainara Cardoso indagou sobre como a saúde mental brasileira tem sido formada a partir de referências bibliográficas não inclusivas. Ela pontuou que o racismo gera um tipo de educação, no qual disciplina corpos e dita regras apenas para pessoas negras. Cardoso ressaltou a importância da equidade no atendimento, pois os profissionais precisam acolher e escutar com atenção o sofrimento dos pacientes, pois há casos em que o racismo é velado. Ela divulgou que o lançamento do censo da atenção psicossocial da Hans ocorrerá no dia 5 de dezembro e convidou os profissionais a conhecerem, por meio de dados coletados, o perfil dos pacientes que precisam de atendimento psicológico.
Tainara parabenizou a Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ pelo evento promover uma discussão de aquilombamento, que ajuda a recontar a história. Ela finalizou exibindo um vídeo que enaltece a população negra da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, em que jovens acolhidos pelo Hans dançam e cantam.
O professor Abrahão de Oliveira Santos afirmou que os brancos precisam se descolonizar, pois o quilombo nunca foi colonizado. Ele questionou a centralidade do conceito de “eu” na Psicologia, criticando como essa ideia, ao ser implementada no SUS, pode desconsiderar o sofrimento coletivo e os desafios das populações marginalizadas. Para Abrahão, a Psicologia, ao adotar ideias europeias que ignoram as precariedades sociais, acaba sendo insuficiente na compreensão dessas comunidades. Por fim, o professor defendeu que, para uma cura, a Psicologia precisa se reconectar com a ancestralidade, onde novos textos e reflexões sobre o tema consiga fortalecer a categoria.
Mesa 2 – Suicídio e Interseccionalidades Na Saúde Mental
A segunda e última mesa foi mediada pela Natasha lane Magalhães (CRP 05/61840), mestra em Psicologia, subjetividades e exclusão social (UFF), e Colaboradora do CRP-RJ. Os palestrantes foram Paulo Navasconi (CRP 08/25820), psicólogo, especialista em Psicologia social, mestre e doutor em subjetividade e práticas sociais na contemporaneidade, e professor (UNESP-Assis); Saville de Almeida, odontóloga sanitarista, especialista em gestão da atenção básica e mestranda em saúde coletiva, e Gitonam Tavares Honorato, geógrafo, doutor e mestre em geografia, com ênfase em ordenamento territorial e ambiental, ambos compõem a Sala de situação de saúde de Niterói, que é um espaço físico e virtual onde a informação em saúde é analisada sistematicamente por uma equipe técnica, para caracterizar a situação de saúde uma população, a partir da visão integral e intersetorial.
Natasha Iane comunicou que o CRP-RJ, em 2025, ampliara os debates sobre a saúde mental dos povos indígenas. Ela também anunciou um evento em parceria com a Pajelança, para reflexão acerca das especificidades dos povos indígenas no território fluminense. Natasha enfatizou a importância de tratar o tema suicídio com cautela, relembrando que ele é provocado por multifatores.
O psicólogo Paulo Navasconi (CRP 08/25820) abordou como a literatura tem tratado o suicídio, apontando que, muitas vezes, não são considerados recortes sobre raça, classe e gênero. Ele fez uma analogia, comparando o suicídio a um incêndio em uma floresta densa, que começa aos poucos e silenciosamente, mas por conta da negligência das pessoas que o percebem, ele cresce até se tornar incontrolável. Navasconi criticou como a Psicologia lida com o suicídio de forma individualizada e negligenciando fatores sociais e estruturais, questionando também “para que e para quem” se fala sobre o tema.
Paulo também destacou o aumento de 9% nas taxas de suicídio no Brasil, alertando para a necessidade de investimentos em materiais teóricos de prevenção, em vez de campanhas focadas em setembro amarelo. Além disso, apontou a falta de notificações consistentes para o mapeamento de padrões de suicídio, o que dificulta a elaboração de estratégias efetivas para enfrentamento dessa questão.
A sanitarista Saville de Almeida apresentou um panorama dos óbitos por suicídio e das notificações de lesões autoprovocadas no estado do Rio de Janeiro e no município de Niterói, enfatizando como esses dados são fundamentais para a tomada de decisões da gestão municipal. Com base em registros de raça e cor, ela destacou que, no estado, as mulheres pardas apresentaram o maior número de notificações relacionadas à violência autoprovocada, enquanto, em Niterói, o grupo com maior incidência entre 2019 e 2024 foi o de mulheres pretas. Entre os homens, as maiores taxas de suicídio foram observadas na população branca.
Gitonam Tavares Honorato complementou a análise explicando dois mapas que detalham os territórios onde residiam as pessoas que foram a óbito por suicídio. Ele comentou que os mapas ajudam a compreender as condições territoriais que influenciam a reprodução do suicídio. Segundo ele, o adoecimento da população negra aumentou, mas o crescimento se tornou visível apenas após uma reamostragem que excluiu os números da população branca em Niterói.
Atividade cultural
Para encerrar o evento, a atriz Marcela Treze e Gabriel Gama apresentaram uma esquete da peça “Menina Mojibã”, que conta a história de uma criança brasileira que cresce nas ruas e descobre carregar consigo uma força ancestral.
Treze contou que a peça surgiu a partir das vivências do grupo com a religião de matriz africana e nos terreiros. Em dois anos, a peça ganhou 20 prêmios.