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CRP-RJ PRESENTE EM ATO PELA DEFESA DA UFRJ, CONTRA O DESMONTE E O CORTE DE ORÇAMENTO


Data de Publicação: 1 de junho de 2021


Créditos: Thiago Melício

Créditos: Thiago Melício

Na noite da sexta-feira, 15 de maio de 2021, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro – CRP-RJ -, participou do Ato em Defesa da UFRJ, Contra o Desmonte e o Corte de Orçamento.

O Ato foi organizado por estudantes e corpo docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) defendendo a manutenção da instituição que vem sofrendo duros ataques e anunciou uma possível suspensão de parte de suas atividades a partir de julho deste ano, em razão do corte de orçamento imposto pelo Governo Federal.

Thiago Melício (CRP 05/35915), conselheiro do CRP-RJ e professor do Instituto de Psicologia da UFRJ, esteve presente no Ato.

“Temos observado a progressiva redução do investimento em pesquisa, em ciência e, em de maneira destacada, nas instituições públicas de ensino superior. O atual governo federal, por meio do MEC e Ministério de Ciência e Tecnologia, investiu orçamento inferior ao que tivemos 11 anos atrás. Isso é retrato do negacionismo e do desinteresse político nas instituições que produzem reflexão crítica sobre a realidade. A UFRJ, por exemplo, é a maior universidade federal do país, tendo cerca de 9 hospitais e unidades de saúde, 13 museus, 65 mil estudantes, 19.000 trabalhadores, sendo um dos sustentáculos para produção de conhecimento e enfrentamento qualificado da pandemia”, destacou Melício.

A UFRJ apresentou, em entrevista coletiva a diversos órgãos de imprensa, ocorrida no dia 12 de maio, a situação orçamentária da instituição. A maior universidade federal do país afirmou que corre o risco de ter que fechar no meio do ano por falta de verba. E a UFRJ não é a única instituição a sofrer com cortes no orçamento: nos últimos 11 anos, em todo o país, o Ministério da Educação – MEC – reduziu as verbas para as universidades federais em 37%.

Segundo dados da assessoria de imprensa da UFRJ, o orçamento discricionário da universidade caiu R$ 340 milhões em 10 anos: de R$ 639 milhões em 2011 para R$ 299 milhões em 2021. Orçamento discricionário é a verba reservada para pagamentos com gastos como água, luz, segurança, estrutura física das unidades, alimentação e alojamento de alunos.

Além do prejuízo científico, tecnológico e humano que esse possível fechamento da Universidade já traria em qualquer momento, no atual contexto de pandemia, enfrentando a maior crise de saúde do país, essa perda torna-se ainda mais dramática. As universidades públicas são os maiores polos da ciência no Brasil. A UFRJ, por exemplo, realizou testes moleculares do mais alto padrão por RT-PCR quando a rede privada sequer tinha esses diagnósticos.

As universidades públicas estão na linha de frente dos desafios enfrentados da Covid-19.

Melício acrescentou que “o CRP-RJ defende o distanciamento interpessoal, utilização de EPIs, principalmente máscaras, além de higienização constante para evitar exposição e transmissão viral. Entende igualmente a necessidade de investimento adequado às políticas de ensino e de assistência à população promovida pela integração ensino-serviço-comunidade”.

“Não é admissível o governo ter alguns bilhões para emendas e apoio parlamentar, enquanto políticas públicas sofrem com o sucateamento e o desmonte”, finalizou o professor e psicólogo.

O conselheiro presidente do CRP-RJ, e também professor da UFRJ, Pedro Paulo Bicalho (CRP 05/26077) ressaltou a importância histórica da UFRJ na formação de psicólogas(os) e no desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão no Brasil. “O Instituto de Psicologia iniciou suas atividades na década de 1930 e foi protagonista dos processos que culminaram na regulamentação da profissão no país. É da UFRJ a revista científica mais antiga em Psicologia do país, Arquivos Brasileiros de Psicologia, em circulação há mais de 70 anos. A quem interessa paralisar a UFRJ? A quem interessa negar sua importância na afirmação de uma ciência brasileira?”

A psicóloga Cristal Oliveira Moniz de Aragão (CRP 05/37522) também professora do Instituto de Psicologia da UFRJ e colaboradora do CRP-RJ no Núcleo de Saúde da CRPPP, presente no Ato falou “fomos à rua para defender a universidade desses cortes que inviabilizam o nosso funcionamento. Já estamos fazendo a maior parte das nossas atividades em casa, usando nossos equipamentos e recursos, e mesmo assim, o dinheiro que foi recebido não é o suficiente para que a UFRJ continue funcionando. Ir para a rua, neste momento, foi uma posição ética necessária, mas também é importante dizer que todos estavam de máscara e tomando todas as medidas para que este Ato não trouxesse risco à saúde de ninguém”.

“É um dever ético não só lutar contra os cortes na UFRJ, mas lutar contra os cortes que estão acometendo a Educação, a Ciência, a Tecnologia, as políticas de Saúde, entre outras. Então essa convocação feita pela UFRJ e por diversos outros movimentos sociais, como LGBTs, Luta Antimanicomial, urge para que estejamos na rua nos manifestando contra um governo que é contra a saúde, contra os psicólogos, e contra os direitos humanos. Fomos lá, inclusive, cumprir nosso papel enquanto psicólogas e psicólogos comprometidas (os) com a transformação social, como preconiza nosso Código de Ética”, finalizou Aragão.

Nahan Rios Alves de Andrade Moreira de Souza, estudante pertencente ao Diretório Central dos Estudantes – DCE – da UFRJ, pontuou que “é necessário relacionar a questão dos cortes com o momento político que o Brasil está vivendo. A estratégia de impor cortes na educação pública não é de hoje, e nem é um acaso do governo atual, mas sim um projeto que se colocou no Brasil, desde 2016, principalmente, e que se mantém até hoje. Desde 2016, os orçamentos da universidade pública já vem sendo diminuídos e o DCE já vem mobilizando contra esses cortes na educação impostos por esse agenda neoliberal.  Lutar pela universidade pública é até mais do que lutar pela educação, é inclusive lutar pela possibilidade de ascensão social de pessoas negras e periféricas”.

Nahan também chamou atenção para o fato de que “nós só conseguiremos lutar contra esse contexto se for de forma coletiva. Só conseguiremos lutar contra os cortes com a participação das enorme massas de estudantes e professores, funcionários e sociedade civil,pressionando o Governo. Um governo que declaradamente é contra a ciência”.

A estudante de Psicologia, Bruna de Oliveira Bizarro, também falou do choque que foi para as (os) alunas (os)  mais esse ataque à universidade pública: “acho que, como todos os estudantes, sinto medo que esta realidade de precarização se faça tão presente. Ao mesmo tempo, nenhuma surpresa. Entrei na faculdade em 2017 e absolutamente todo semestre, principalmente ali em 2019, ouvi sussurros sobre o fechamento de portas da UFRJ e sempre acompanhado destes  rumores, políticas de privatização disfarçadas de solução. Nada disso, infelizmente, é novo. É por essa razão que vamos pras ruas, que nos mobilizamos sempre.  A diferença agora é o contexto brasileiro extremamente caótico. Quando o governo resolve cortar 18,4% do orçamento destinado para o ano de 2021, que já era menor que a verba de 2012 em 62%, isso é um ataque claro às instituições de educação pública. Isso nos indigna e revolta, nós que estamos todos os dias aos trancos e barrancos tentando gerar pesquisas, exercer a extensão junto à população e lutando para que a universidade não só exista, mas se expanda. E não podemos pensar que a privatização possa ser algum tipo de salvação. Não venderemos a UFRJ, nem partes dela, para salvá-la”.

Bruna também ponderou, “o ato foi a primeira vez que vi meus colegas e professores em mais de um ano. Entendemos os riscos que a pandemia impõe, o DCE distribuiu máscaras PFF2, cumprimos os protocolos possíveis. De qualquer forma não é mais possível ficarmos em casa vendo, não só a UFRJ, mas tudo que ela representa, ser degolada em praça pública. No dia anterior, o movimento negro também tinha puxado um ato nacional. Precisamos tentar ir nestes momentos. Parecem coisas separadas, mas não são: o genocídio do povo preto, a falta de vacina, o fim das universidades e a fome eminente são projeto desse governo que esta aí”.

Por fim, o CRP-RJ, reforça mais uma vez seu compromisso ético com a categoria e com a sociedade. Não será permitido que a política de sucateamento das instituições públicas, da ciência, da tecnologia, da educação, da saúde, encontre no atual contexto pandêmico terreno mais fértil para seu avanço de destruição. A Psicologia brasileira se une a todos os movimentos sociais e a todos que queiram estar sempre na resistência e na luta pela universidade pública e de qualidade.



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