O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, através de suas diferentes composições em defesa dos direitos humanos, das políticas públicas e do estado democrático de direito vem através desta convidar a categoria e toda a sociedade em geral a refletir sobre como o exercício profissional da psicologia precisa ser entendido em consonância direta com as garantias constitucionais para todas as pessoas. O dia de hoje (31/03) marca um triste episódio de nossa história recente. Marca-se o dia em que em 1964 um golpe de Estado inaugura no Brasil uma ditadura civil-militar que produziu efeitos nefastos que ainda hoje seguem reverberando na vida das populações brasileiras. A naturalização da tortura como política de Estado, perseguições arbitrárias e a suspensão de direitos civis foram algumas das ferramentas cotidianamente utilizadas contra a população e que, a duras penas ainda hoje seguimos combatendo.
Entendemos que os processos constituintes e a materialização da constituição federal de 1988 é este sim, um acontecimento da nossa história enquanto nação que é digna de comemoração, ao passo em que os atos contrários a garantia plena de direitos, os assassinatos com ocultação de cadáver, o desmonte das políticas públicas que ocorreram durante todo o período da ditadura civil-militar em definitivo não são elementos a serem comemorados. É nosso dever disputar a memória e a verdade dos fatos, para que enquanto categoria saibamos bem o que significa estar sob um estado autoritário e produtor das mais diversas violências.
Seguimos enquanto psicologia ocupando e produzindo espaços de garantia de direitos e espaços de controle social das políticas públicas. Seguimos acompanhando os sistemas de combate à tortura e produzindo uma psicologia atenta às violações de direitos que seguiram incidindo sobre as populações negras e pobres mesmo após a redemocratização. Mas apesar de tudo entendemos que produzir psicologia em toda a sua multiplicidade é em alguma medida, produzir campos onde a vida é um pouco mais possível.
Produzir vida possível é também, portanto, atentar e se opor às forças produtoras de morte.
Hoje é um dia de resgatar a memória e a verdade sobre os anos de ditadura para que, enquanto categoria não naturalizemos a produção estatizada da morte nem tampouco aceitemos o retorno ao Brasil da ditadura civil-militar.
