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CRP-RJ HOMENAGEIA JOÃO W. NERY COM CARTEIRA SIMBÓLICA DE PSICÓLOGO NO DIA DA VISIBILIDADE TRANS


Data de Publicação: 3 de março de 2020


IMG_1678No Dia Nacional da Visibilidade Trans, 29 de janeiro, o CRP-RJ promoveu, na sua sede, no Centro do Rio, um evento em homenagem à memória de João Walter Nery, concedendo uma Carteira de Identidade Profissional (CIP) simbólica em reconhecimento às suas contribuições como psicólogo e como militante em defesa dos direitos da população LGBTI.

O evento, que reuniu mais de 60 participantes, foi aberto pela conselheira-coordenadora da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ, Céu Silva Cavalcanti (CRP 05/57816), que destacou a importância da figura de João Nery, considerado primeiro homem trans brasileiro. Falecido em outubro de 2018, João Nery  graduou-se em Psicologia pela UFRJ na década de 1970, mas sua condição de homem trans o impossibilitou, anos mais tarde, de existir documentalmente e de continuar atuando como psicólogo.

Em seguida, o conselheiro-presidente do CRP-RJ, Pedro Paulo Gastalho Bicalho (CRP 05/26077), ressaltou a representatividade de João W. Nery junto aos coletivos e movimentos sociais que militam em defesa dos direitos da população LGBTI. “João Nery foi fundamental para a construção da Psicologia brasileira e, por isso, no dia de hoje, o CRP-RJ vai simbolicamente afirmar: ‘João Nery, psicólogo, presente’”, destacou.

Pedro Paulo lembrou, ainda, que em 2019, as (os) psicólogas (os) brasileiras (os) elegeram, no processo eleitoral para o Sistema Conselhos de Psicologia, quatro conselheiras (os) trans. Também destacou que, em 2020, contemplam-se dois anos da Resolução CFP nº 001/2018, que impede psicólogas (os) de desenvolverem práticas de patologização da transexualidade. “Nós reconhecemos que não é possível nenhum ato de transfobia por nenhum profissional da Psicologia em território nacional. Passou a ser, com essa resolução, dever de todo psicólogo enfrentar a transfobia. Nenhum de nós pode patologizar a transexualidade nem testemunhar atos de transfobia e não construir atitudes de enfrentamento”, finalizou.

O diretor do Instituto de Psicologia da UFRJ, Arthur Leal, contextualizou que João Nery se formou como psicólogo em um período histórico – a ditadura civil-militar – bastante conturbado e enfatizou a importância material, e não somente simbólica, da concessão da CIP. “É simbólico, mas é de um simbolismo encarnado, pois reforça lutas corporais pelo direito de usar um nome. João Nery carregou, no seu corpo, as marcas de suas experiências e vivências”, afirmou o professor da UFRJ. IMG_1579

Dalcira Ferrão, conselheira do Conselho Federal de Psicologia, ressaltou o trabalho de João Nery na luta pelos direitos da população trans e destacou o papel das (os) psicólogas (os) nessa militância. “Nós, psicólogos, temos um dever no enfrentamento à transfobia e não vamos nos calar diante de toda a transfobia que acontece diariamente. Vamos lutar lado a lado, inclusive com outras categorias. A luta da despatologização é uma luta que nos cabe e que precisa ser organizada por nós, psicólogos”, defendeu a conselheira federal.

Após o encerramento da mesa, foi exibido um trecho da fala de João W. Nery como palestrante na mesa de debates “Temas em Direitos Sexuais e Reprodutivos”, durante a 10ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, promovida pelo CRP-RJ em 2016. A íntegra da fala pode ser acessada no nosso Canal no Youtube.

A seguir, foi exibida uma mensagem gravada de Jaqueline Gomes de Jesus, professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), em homenagem à memória de João Nery. Ela destacou a importância de sua figura para a memória e a história da população trans no país. “A luta do João Nery foi de resistência. A memória não é apenas para marcar uma data, mas para marcar um momento significativo de luta e de construção. A Psicologia cresce quando fazemos essa homenagem e quando reafirmamos esse compromisso social”, reiterou.

IMG_1623Na sequência, representantes de diversos coletivos, instituições e movimentos ligados à luta em prol dos direitos da população LGBTI prestaram tributo à memória de João Nery, emocionando o público presente com recitação de poesias e relatos pessoais de experiências e afetos vividos junto ao homenageado, tais como a Liga Transmasculina Carioca e o Instituto Brasileiro Trans de Educação. Também prestou homenagem à memória do psicólogo a conselheira do CRP de São Paulo Júlia Bueno.

Após esse momento de falas, o conselheiro-presidente do CRP-RJ assinou e entregou à viúva de João W. Nery, Sheila Salewski, a Carteira de Identidade Profissional (CIP) com o nome do psicólogo e com o nº de registro profissional 001-2018, fazendo alusão à resolução do CFP que reconhece que a transexualidade não constitui doença ou desvio. Emocionada, a viúva do psicólogo agradeceu o CRP-RJ e destacou “que a homenagem é muito importante. Nem tenho palavras para expressar este momento. Espero que toda essa dedicação do João, em torno da questão trans, sirva de inspiração para os psicólogos e para todos”.

O evento teve transmissão ao vivo e on-line pela página do CRP-RJ no Facebook. Clique aqui e confira.



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