No dia 26 de julho, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), por meio da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnicos-Raciais, promoveu o evento “Psicologia na Contra-Colonialidade no Sul-Fluminense”, para psicólogas, psicólogos e estudantes de Psicologia.
A atividade foi realizada no Auditório da UBM – Universidade de Barra Mansa, localizado na rua Ver. Pinho de Carvalho, n.º267. O encontro também serviu como preparação ao 12º Congresso Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, que ocorrerá em 2025.
Entre os assuntos abordados pelos palestrantes, destacaram-se temas sobre o racismo no Brasil e a importância da Psicologia estar alinhada com as consequências da colonialidade.
O evento também contou com uma reunião ampliada dos estudantes da região Sul Fluminense que teve objetivo apresentar a Comissão Especial de Estudantes, bem como seus interesses e modelo de funcionamento, para aproximar e integrar cada vez mais estudantes de Psicologia do local.
Para acompanhar na íntegra como foram as palestras, acesse o canal oficial do CRP-RJ no YouTube @realCRPRJ.
Mesa de Abertura Institucional
O encontro foi apresentado pelo psicólogo Marwyn Soares de Souza (CRP 05/65099), colaborador da Comissão Gestora do Norte Noroeste Fluminense, Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnicas e Raciais, e integrante do Eixo de Práticas Anticapacitistas que compõem a Comissão de Direitos Humanos do CRP-RJ.
A mesa de abertura institucional foi composta por Viviane Martins (CRP 05/32170), vice-presidenta e colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, Carolina Silva (CRP 05/29816), colaboradora da Comissão Gestora do Sul Fluminense do CRP-RJ na Região Sul Fluminense, Mônica Lugão, coordenadora do curso de Psicologia da Nova UBM, Thais Lourenço (CRP 05/62992), colaboradora da Comissão Especial de Eventos e Coordenadora Adjunta da Comissão Especial de Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ.
Na abertura, o apresentador Marwyn Soares de Souza descreveu os elementos presentes no cartaz do evento e seus significados. Ele também leu um texto que analisa a relação entre o Brasil e suas questões étnico-raciais, e sugeriu uma reavaliação da Psicologia afim de contribuir na desconstrução da colonialidade e promoção da igualdade social.
Em seguida, a vice-presidenta do CRP-RJ, Viviane Martins, agradeceu a parceria do Conselho Regional com a Universidade de Barra Mansa, e reconheceu a importância da regionalização para que discussões temáticas sejam descentralizadas da capital. Ela destacou que a Psicologia precisa estar preparada para acolher as pessoas negras, indígenas e ciganas da região Sul Fluminense. No final, Martins explicou que o CRP-RJ está associado em orientar estudantes e profissionais em vez de fiscalizar e punir eventualmente.
Carolina Silva (CRP 05/29816), colaboradora da CG Sul Fluminense do CRP-RJ, comentou sobre a movimentação das(os) psicólogas(os) em 2010 ter sido essencial para que hoje houvesse uma subsede em Volta Redonda.
Psicóloga e ex-estudante da Universidade de Barra Mansa, Mônica Lugão, considerou o evento como uma oportunidade de encontrar parceiras(os) de profissão e trocar experiências. Segundo a psicóloga, o encontro foi pensado para produzir inquietações sobre diversidades daqueles que serão atendidas(os) pelas políticas públicas ou setor privado. Ela completou dizendo que o papel da(o) psicóloga(o) precisa sempre ser ético e garantir os direitos dos pacientes. Em relação à faculdade de Psicologia, Lugão comentou sobre a importância da academia em instruir os alunos para espaços além da sala de aula, como exemplo os cursos de extensão, para que não haja limitações no aprendizado.
Thais Lourenço, Coordenadora Adjunta da Comissão Especial de Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, apresentou as(os) componentes da Comissão e seus respectivos cargos. Ela também complementou o que foi dito por Viviane Martins em relação ao CRP-RJ que trabalha com prevenção em vez da punição. No dia 25 de julho foi celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, marco nacional instituído pela Lei n.° 12.987/2014. Lourenço leu um texto sobre a data comemorativa, que resgata a memória da ancestralidade na figura personificada de Tereza de Benguela, líder quilombola que viveu no século XVIII, no Mato Grosso. O momento foi oportuno para reforçar a existência da Lei da Resolução CFP n.º 018/2002, que define as normativas de atuação seguindo os princípios éticos do código profissional da(o) psicóloga(o).
Antes do encerramento da mesa, Viviane Martins explicou as etapas de Ações de Mobilização, Pré-COREP, COREPSI (Congresso Regional de Psicologia), CNP (Congresso Nacional de Psicologia) e o processo eleitoral do sistema conselhos. O COREPSI e o CNP ocorrem a cada três anos, com a próxima edição programada para 2025. O COREPSI reúne psicólogas(os) e estudantes que discutem propostas a serem apresentadas no CNP, onde serão debatidas e implementadas no próximo triênio da gestão subsequente. A vice-presidenta do CRP-RJ destacou a relevância da participação de psicólogas(os) e estudantes nesse processo coletivo e democrático de elaboração e execução de políticas para a profissão. Durante o evento, todos os participantes puderam submeter suas propostas por meio de um formulário online.
Para saber mais sobre o 23º Congresso Nacional de Psicologia e suas etapas acesse https://cnp.cfp.org.br/12/
Mesa de abertura: A Psicologia na Contra-Colonialidade no Sul Fluminense
A mesa de abertura teve o tema “A Psicologia na Contra-Colonialidade no Sul Fluminense”, explorando a relação entre a Psicologia e as consequências do racismo histórico presente na região.
O palestrante convidado foi Tiago Cabral, graduado em Psicologia, escritor e professor. Tem 14 anos de atuação em Políticas Públicas, é Conselheiro do XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro, Coordenador da Comissão Gestora da Subsede Sul Fluminense e da Comissão de Comunicação Social e Editorial do CRP-RJ.
Tiago Cabral comentou sobre os processos do racismo atravessarem a saúde mental das pessoas negras e afirmou que quem desconhece o tema está sendo negligente com um processo de adoecimento. Ele citou o pensamento da psicóloga Neusa Santos Souza sobre autonomia significar ter o seu próprio discurso, desse modo, temos o controle somente quando contamos nossa própria história.
O psicólogo também definiu a contracolinidade como uma imposição cultural sobre outro sujeito. Cabral contou como descobriu a existência do Vale do Café no Sul Fluminense apenas após deixar a região, destacando o tráfico de pessoas, um dos maiores da humanidade, que aconteceu no passado por conta da mão de obra na produção do café. Ele finalizou a mesa trazendo a ideia de que para pertencer a um local é preciso conhecer sua história.
Mesa 01 – Racismo na universidade e mercado de trabalho
O “Racismo na Universidade e Mercado de Trabalho” foi pauta da mesa 1 do evento. As participantes foram Yvanna Brito (CRP 05/66298), colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico Raciais, Comissão de Instrução e Comissão Gestora da Subsede Baixada Fluminense do CRP-RJ, Janine Procópio Muniz (CRP 05/42971), psicóloga, e Maria Eugênia Aparecida, estudante do 9º período de Psicologia na UFF, estagiária em Psicologia clínica pela análise do comportamento, monitora de disciplina e aluna apoiadora do Setor de Apoio Educacional UFF (SAE).
Janine Muniz foi aluna na primeira turma de Psicologia da Universidade da Barra Mansa e relembrou a ausência de alunos negros na época, mas que os poucos estudantes presentes conseguiram formar uma rede de apoio que existe até hoje. Ela também falou sobre trabalhar em ambiente institucional devido a várias situações ser desafiador e limitante para pessoas negras.
A estudante Maria Eugenia criticou o senso comum em relação às Universidades Públicas agregarem a todos, pois enxerga falta de apoio com pessoas de origem vulnerável. Ela comentou também sobre os corpos negros serem vistos nesses espaços como apenas corpos de estudo, no qual pessoas brancas querem falar sobre.
Yvanna Brito, colaboradora da Comissão Gestora da Subsede Baixada Fluminense do CRP-RJ, contou sobre a importância dos estudantes enviarem suas propostas ao COREPSI, pois a Comissão de Estudantes foi uma das deliberações. Ela falou também sobre a necessidade da regionalização para que todos tenham contato com o grupo, levando em consideração questões de mobilidade e o racismo ambiental.
Mesa 02 – Interseccionalidades e garantia de direitos
A segunda e última mesa teve como tema a “Interseccionalidades e Garantia de Direitos” e contou com a participação de Cláudia Ferreira (CRP 02/19503), membro da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico Raciais do CRP-RJ, Sandra Antão (CRP 05/45022), psicóloga e pesquisadora sobre os impactos do racismo na construção da identidade de adolescentes e estratégias de intervenção decoloniais para essa população, Marcos Paulo Nicolau, psicólogo atuando no Núcleo de Atendimento à Criança e Adolescente Vítimas de Violência.
Sandra Antão realizou uma pergunta reflexiva aos ouvintes sobre qual era a identidade étnico-racial dos adolescentes que são estudados na Psicologia e considerou que muitas vezes é tratado o jovem branco. De acordo com ela, o racismo se mostra como um fator de risco para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, relacionado ao conceito de mito da democracia, a formação de estereótipos e o desejo de querer embranquecer. Sandra também contou sobre o Programa Ginga que visa estudar o desenvolvimento da identidade étnico-racial na adolescência e estratégias no combate ao racismo.
O psicólogo Marcos Paulo citou o conceito “Conflito por Procuração” de Tilman Furniss que tem o significado de diversidade no local de fala. Ele também elaborou uma correlação entre o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e o quilombo, baseados na execução da autonomia e resistência.
Intervenção Cultural sobre Saberes Tradicionais
A intervenção cultural da atividade foi realizada por Alder Angola, mestre de Capoeira Angola com graduação em Educação Física (UFRJ), pós graduação em Educação em Direitos Humanos (IFPinheiral), e professor do Estado no colégio Presidente Roosevelt em Volta Redonda, além de ministrar aulas de Capoeira Angola em Pinheiral semanalmente na sede da Escola de Capoeira Angola Caroço de Dendê.
Alder Silveira explicou que a Capoeira Angola surgiu no Brasil como uma forma de se afirmar a negritude e a africanidade. Ele completou explicando sobre o funcionamento do berimbau e seus adereços. A apresentação contou com a participação dos seus alunos Renata, Lucas e Gabriel.
O CRP-RJ está preparando diversos eventos para a região Sul Fluminense, sempre abordando os assuntos que a categoria do território solicita. Aproximem-se das subsedes, dos pontos focais, queremos construir com vocês.
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