Foi lançado, no dia 20 de setembro, na sede do CRP-RJ, no Centro do Rio de Janeiro, o livro “Psicologia e Diversidade Sexual: Assim se passaram 20 anos…”. Organizada pelo Eixo de Diversidade Sexual e de Gêneros da Comissão Regional de Direitos Humanos (CRDH) do CRP-RJ, a publicação reúne artigos de diversas (os) psicólogas (os), nos quais são debatidas importantes questões relacionadas à prática da Psicologia no campo da diversidade sexual e de gênero, tais como: processo transexualizador, políticas públicas e garantia de direitos para a população LGBTI+, LGBTIfobia, laicidade e a Resolução CFP nº 001/99, que veta psicólogas (os) de práticas de patologização da homossexualidade.
O evento de lançamento do livro contou com a participação de alguns dos autores desses artigos e foi aberto pela então conselheira-presidente do CRP-RJ, Marilia Álvares Lessa (CRP 05/1773). “Estou bastante emocionada, pois, neste último dia de gestão do XV Plenário, estamos lançando este livro emblemático porque fala do nosso compromisso com a discussão da diversidade e dos direitos sexuais”, destacou.
Alexandre Nabor França (CRP 05/32345), então conselheiro-coordenador do Eixo de Diversidade Sexual e de Gênero da CRDH, se disse “emocionado” pelo resultado do livro. Além de agradecer a todos os integrantes do Eixo e aos que colaboraram na criação do livro, ele sublinhou a importância da atuação do Eixo.
“No primeiro momento, o Eixo era um grupo de trabalho. Depois, com as demandas sociais, ele foi se ampliando e se tornou um dos eixos mais emblemáticos dentro do CRP-RJ. Temos trazido discussões muito importantes em relação ao direito de as pessoas poderem ser quem elas são. A discussão da diversidade sexual e de gêneros dentro da Psicologia é fundamental”, afirmou.
Em seguida, alguns dos autores presentes falaram sobre suas participações na construção do livro.
Paula Smith (CRP 05/34667, psicóloga, especialista em Psicologia Jurídica pela UERJ, mestranda da UFF – Subjetividade e Exclusão Social e diretora suplente do Sindicato dos Psicólogos do Rio de Janeiro, falou sobre os 20 anos de construção e luta no trabalho em defesa da diversidade sexual e de gênero. Conforme explicou, em seus dois artigos no livro, ela aponta a importância da Resolução CFP nº 001/99 e destaca o uso da arte como estratégia de resistência ético e política. “Minha fala é uma aposta na arte como resistência, uma aposta em uma Psicologia que atua em prol da vida”, disse.
Daniela Murta Amaral (CRP 05/29141), psicóloga, mestre e doutora em Saúde Coletiva e docente UNESA, lembrou do “delicado momento” vivido atualmente em nosso país, pautado pelo conservadorismo, e como ele afeta a defesa de direitos da população LGBT. “A minha tentativa, nesse texto, é fazer um histórico de todos os ataques que sofremos e trazer à cena também o que está acontecendo no momento, que é a ampliação da vulnerabilidade de um grupo [a população LGBT] que cotidianamente sofre violência, da hora que acorda à hora que dorme”, pronunciou.
Beatriz Adura Martins (CRP/34789), psicóloga, militante antimanicomial e professora do Instituto de Psicologia da UFF, reforçou o pedido para que a Psicologia brasileira intensifique o mapeamento oficial das violências e assassinatos sofridos pela população LGBT e falou sobre o tema central de seu artigo do livro. “Meu texto, especificamente, é sobre a minha pesquisa de doutorado e meu trabalho atual, que analisa os assassinatos de travestis em nosso país ”, revelou.
Lindomar Expedito Dáros (CRP 05/20112), psicólogo do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mestre em Psicologia Social, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana e conselheiro do XII e XIII Plenários do CRP-RJ, enfatizou a importância histórica das resoluções 001/99 e, da mais recente, 001/2018, que afirma que a diversidade de gêneros não constitui patologia e estabelece as normas para atuação psi junto a travestis e transexuais. “Conseguimos avançar muito em 1999, com a publicação da Resolução 001/99, e avançamos enormemente em 2018 quando publicamos a Resolução 001/2018, que trata das questões de gênero de maneira mais incisiva. Mas não conseguiríamos ter chegado lá se não tivéssemos passado pela Resolução 001/99, que tinha sido um resultado de lutas e enfrentamentos muito emblemáticos”.
Acyr Correa Leite Maya (CRP 05/11023), psicólogo, psicanalista, doutor em Teoria Psicanalítica e professor do curso de Psicologia da UNIABEU, problematizou a forma como a Psicologia vem sendo apropriada por um fundamentalismo religioso e científico e reafirmou a importância da Resolução CFP nº 001/99. “É bom estarmos juntos, 20 anos depois, mostrando a força dessa resolução. O meu artigo no livro examina o atravessamento desse viés conservador na Psicologia, através do qual ela vem sendo apropriada a serviço da moral religiosa, do conservadorismo e do fascismo”, alertou o psicólogo.
Pedro Paulo Gastalho de Bicalho (CRP 05/26077), conselheiro-presidente do CRP-RJ e autor do prefácio do livro, recordou o momento em que as discussões sobre diversidade sexual e de gênero ganharam força no CRP-RJ com a formação do grupo de trabalho. “Coordenei o GT de Psicologia e Diversidade Sexual em 2009, durante o XII Plenário. Naquela época, tínhamos como primeiro grande objetivo mapear esse debate e as ações desenvolvidas no âmbito do Sistema Conselhos de Psicologia. Outro objetivo nosso era dar visibilidade à Resolução CFP nº 001/99, ainda pouco conhecida na época. O que mais chama a atenção agora, 20 anos depois, é como essa resolução passaria a ser a mais conhecida e também a mais atacada da história do Sistema Conselhos”, revelou.
Ao final do debate, foram distribuídos exemplares do livros para o público presente. A versão on-line das publicação encontra-se disponível para download e visualização gratuitos no site do CRP-RJ, clicando aqui.