O CRP-RJ marcou presença nesse importante ato público de resistência em favor da Reforma Psiquiátrica brasileira.
Centenas de foliões foram às ruas da Urca no dia 24 de fevereiro para celebrar a liberdade e a loucura. O desfile do coletivo carnavalesco “Tá pirando, pirado, pirou” reuniu profissionais, usuários de Saúde Mental, familiares e militantes num ato público de fortalecimento da Luta Antimanicomial e também de resistência contra os retrocessos que ameaçam a Reforma Psiquiátrica brasileira.
Foi a 15ª vez que o coletivo carnavalesco, composto por usuários e ex-usuários, familares e funcionários da rede pública de Saúde Mental, ganhou as ruas do bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Este ano, o tema do desfile foi “Na terra dos bruzundangas: Lima Barreto visionário!”, uma homenagem ao consagrado escritor brasileiro que, por duas vezes, esteve internado no antigo Hospício Nacional de Alienados.
Mas a tarde não foi somente de folia e integração. Diante do evidente processo de descaracterização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) – a partir do retorno dos hospitais psiquiátricos, do financiamento público de Comunidades Terapêuticas e do progressivo enfraquecimento dos CAPS – este ano o desfile teve um tom severo de crítica e resistência.
O CRP-RJ foi um dos apoiadores do desfile e também marcou presença na folia, prestigiando e fortalecendo a luta por uma política de Saúde Mental inclusiva, que respeita a dignidade e os direitos humanos.
Na avaliação do psicanalista Alexandre Ribeiro Wanderley, um dos fundadores do bloco e coordenador do Ponto de Cultura Tá Pirando, Pirado, Pirou! Folia, Arte e Cidadania, a escolha do enredo foi oportuna: “Lima Barreto dizia que sua literatura era militante, e a psiquiatria manicomial era um dos seus alvos. Poucos dias antes do desfile, a Reforma Psiquiátrica sofreu um ataque contundente, e aqueles que estão engajados na causa de uma sociedade sem manicômios se sentiram convocados a se manifestar no desfile do bloco. Desfilar na avenida onde se situava o primeiro hospício da América Latina é sempre um ato político, mas no atual contexto a nossa homenagem a Lima Barreto foi um verdadeiro ato de resistência”.
Como o coletivo carnavalesco não é patrocinado, o desfile só é possível graças a financiamento coletivo e ao apoio de entidades. “O CRP-RJ é uma entidade que se identifica com a Luta Antimanicomial e nos últimos anos têm dado apoio decisivo para que o bloco realize o seu carnaval da inclusão”, ressalta Wanderley.
SOBRE O COLETIVO CARNAVALESCO
Surgido em 2004 a partir de uma mobilização de usuários e profissionais do Instituto Municipal Philippe Pinel e do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, além da Associação de Moradores da Rua Lauro Muller e do Instituto Franco Basaglia, o coletivo carnavalesco “Tá Pirando, Pirado, Pirou!” tem-se mostrado um importante dispositivo político e terapêutico no empoderamento dos usuários de Saúde Mental. No coletivo carnavalesco, os usuários não são apenas foliões, mas também os protagonistas: são eles quem compõem e cantam os sambas-enredo e confeccionam as fantasias, adereços e alegorias.
Clique aqui e veja o samba-enredo deste ano do bloco: