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NOTA SOBRE A VIDA E OBRA DO PSICÓLOGO E ESCRITOR JOÃO W. NERY


Data de Publicação: 1 de novembro de 2018


 joaownery_faceO Eixo Diversidade Sexual e de Gênero da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro se solidariza com todos os familiares, parentes e amigas(os) de João Nery pelo seu falecimento no dia 26 de outubro.

Desde a juventude, João Nery sempre foi um questionador da sociedade que trata travestis e transexuais como pessoas inferiores. Em fala para psicólogas e psicólogos na 10ª Mostra de Práticas em Psicologia do CRP-RJ no dia 27 de julho de 2016, João Nery relatou sua dificuldade em continuar exercendo a profissão de psicólogo clínico e docente na academia, simplesmente por assumir sua condição de homem trans. Graças à luta incansável de bravas (os) travestis e transexuais como João Nery, as pessoas trans podem hoje ter sua travestilidade e transexualidade respeitadas de forma minimamente razoável.

Desde a década de 70 – período em que João Nery teve que abandonar a profissão de psicólogo –, algumas conquistas importantes foram alcançadas pela Psicologia brasileira, mas não sem luta e resistência:

– Criação da Resolução CFP 01/99, que proíbe o tratamento da homossexualidade como patologia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS.

– Criação da Resolução CFP 14/2011, sendo o primeiro conselho profissional a permitir o Nome Social na Carteira Profissional de psicólogas (os) trans.

– Criação da Resolução CFP 01/2018, que proíbe o tratamento da travestilidade e da transexualidade como patologia, se antecipando à OMS, que, somente cinco meses depois, retirou as pessoas trans do grupo de transtornos mentais do CID-10.

– E a criação da Resolução CFP 10/2018, que atualiza a Resolução 11/2014, aprimorando o respeito ao uso do Nome Social das (os) psicólogas (os) trans.

Em tempos de retrocesso nessas conquistas, relembramos aqui mais uma fala de João Nery na 10ª Mostra, que alerta para a necessidade de aprovação da Lei João W. Nery (Lei de Identidade de Gênero), e sobre as dificuldades que a pauta dos Direitos Humanos tem enfrentado no cenário político atual.

João Nery nos deixou ainda uma grande obra, seu livro “Viagem Solitária – Memórias de um Transexual 30 Anos Depois (2011, Ed. Leya)”, em que narra com riqueza de detalhes os desafios do que era ser uma pessoa trans na década de 70, em plena ditadura militar no Brasil, uma obra fundamental para quem estuda a transexualidade e as identidades de gênero.

Em última mensagem postada no seu facebook nos mês passado, e talvez prevendo tempos difíceis pela frente, João Nery nos convoca à luta e ao combate, mas pede também que não percamos a doçura e o respeito por todes:

Continuem a nossa luta por nossos direitos, se unam, não oprimam os nossos irmãos oprimidos já por tanta transfobia e sofrimento. (…) Vamos nos respeitar, nos unir, nos fortalecer (…). Façam grupos, ampliem a rede, se orgulhem de ser trans. Faremos um novo mundo! Mais humano, sem machismo, preconceito ou misoginia. (…) Beijos no coração de todos e não se acovardem. Ser o que somos não tem preço, viver uma mentira nos enlouquece“. João W. Nery (1950 – 2018)

DESCANSE EM PAZ, JOÃO NERY, QUERIDO! CONTINUAREMOS NA LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS E PARA QUE TODA PESSOA LGBTI TENHA ORGULHO DE SER QUEM ELA É! NÃO HÁ CURA PARA O QUE NÃO É DOENÇA!

Clique aqui para assistir à fala de João W. Nery na 10ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia – 27 julho de 2016 (a partir de 1h05m).



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