Abrindo a agenda de eventos comemorativos do Dia (o) da (o) Psicóloga promovida pelo CRP-RJ na Baixada Fluminense, aconteceu, no dia 8 de agosto, na Subsede de Nova Iguaçu, a 4ª edição do Seminário em Comemoração ao Dia da (o) Psicóloga (o). Com tema “Sexualidades Periféricas”, o evento reuniu cerca de 70 participantes, entre psicólogas (os), estudantes de Psicologia e representantes de instituições parcerias do CRP-RJ na região.
O evento foi iniciado pela conselheiras Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), coordenadora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, e Viviane Siqueira Martins (CRP 05/32170), integrante da Comissão Gestora, que destacaram que o IV Seminário faz parte também do calendário de eventos preparatórios para o 10º Congresso Regional de Psicologia (COREP), que acontecerá no primeiro semestre de 2019 para que psicólogas (os) votem diretrizes de ações políticas para a gestão do CRP-RJ no triênio 2019-2022.
O IV Seminário teve três mesas de debates. A primeira, “Quem tem direito à diversidade?”, contou com as falas de Thiago Rodrigues, psicólogo no Espaço Refazendo Caminhos, voluntário e coordenador do Grupo de Estudos em Direitos Humanos e membro do Ocupa Baixada, e Vera Lima, psicóloga do CAPS III Dr. Jair Nogueira, em Nova Iguaçu, coordenadora da ONG Instituto Conselheiro Macedo Soares e membro do Fórum do Campo Lacaniano Nova Iguaçu.
“Quando falamos em sexualidade, ainda é a norma heterocisnormativa judaico-cristã, que determina quem pode possuir direitos a exercer ou não a sua sexualidade. Não podemos esquecer que o direito é sempre determinado pela norma social e, no nosso caso, a norma judaico-cristã e heterossexual”, afirmou Thiago Rodrigues, abrindo o debate.

Mônica e Viviane na abertura do evento
“A discussão sobre direitos sexuais não é recente e sempre foi atravessada pelos diversos saberes no campo cientifico e jurídico”, acrescentou o palestrante. “No Ocidente, os discursos sobre a sexualidade, nos séculos XVIII e XIX, enfatizaram um modelo de normalidade baseado na monogamia heterossexual, que reproduziu um discurso concebido ainda hoje como regra, como padrão de normatividade”.
O psicólogo também defendeu que “as práticas sexuais não podem pertencer ao domínio de um campo de saber específico, como o da Medicina, ou de um padrão moral estabelecido, como o judaico-cristão”.
Vera Lima, por sua vez, propôs ampliar o conceito de sexualidade, pontuando que, para a Psicanálise, sexualidade não se restringe ao ato sexual, em si, mas compreende a energia que está ligada ao funcionamento do aparelho psíquico. Ela também problematizou o estigma do “louco” como um sujeito assexuado ou cuja sexualidade é encarada como doença.

Thiago e Vera na primeira mesa de debates
“Questões relacionadas à reprodução e à sexualidade se afiguram como preocupação para a população geral, mas em particular para os usuários de serviços de Saúde Mental, pois os mesmos se encontram em situação de maior vulnerabilidade. Culturalmente o Psicótico é tratado como um ser assexuado ou como uma pessoa com a sexualidade ‘exacerbada’ e que precisa ser medicada para controlar esse excesso, tirando toda a possibilidade de exercer sua sexualidade. Exercer a sexualidade assim como conceituou o filosofo Michel Foucault, não é só o ato sexual, mas também sentimentos, desejos e afetos”, afirmou.
“Quando falamos sobre sexualidade não a separamos dos valores morais, uma vez que estamos habituados a tomar como verdade a base da nossa cultura, especialmente quando pensamos de reconhecimento da sexualidade enquanto sujeito”, acrescentou a psicóloga. “Entender que estamos capturados pelas regras e repressões nos faz pensar como somos subjetivados por formas de normatividade, uma vez que o exercício da sexualidade é regulado através dos saberes, poderes e subjetividades. Por essa razão, é inevitável escapar do discurso sobre a sexualidade sem as deliberações históricas sociais, já que as instituições alastram os discursos e regras, estabelecendo saberes e verdades, regulando a convivência entre as pessoas, entretanto nesse jogo de poder e saber, estamos intimamente envolvidos, mais do que participantes, somos produtores nessa lógica de poder”.
Após esse debate, teve início a segunda mesa do evento, com tema “Polimorfismo sexual”, na qual foram debatidas a sexualidade na infância, na velhice e nas unidades de execução de medidas socioeducativas. Clique aqui para continuar acompanhando a cobertura do evento.