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CRP-RJ em luta: o assassinato de mais dois adolescentes expõe a crise no atual modelo de segurança pública


Data de Publicação: 27 de junho de 2018


Morreu mais uma criança na favela da Maré. Era o dia 20 de junho, durante a Copa do Mundo, ocorria uma operação policial e Marcos Vinicius, de 14 anos, uniformizado e a caminho da escola, foi baleado. Na mesma data, na Vila Vintém, outro jovem da mesma idade foi igualmente assassinado: Guilherme Henrique Pereira ia à barbearia quando foi atingido por tiros em um investida de bandidos na comunidade.

As (os) psicólogas (os) do Rio de Janeiro devem se interrogar o quanto e como isso lhes diz respeito na sua vida profissional, social e pessoal. A “normalização” [naturalização?] deste tipo de ocorrência, sua absurda frequência, não podem anular a indignação de tamanha brutalidade.

As favelas do Rio de Janeiro, também denominadas “comunidades”, são áreas de grande carência nos serviços e nas políticas públicas prestadas pelo Estado; locais onde direitos e normas básicas de proteção às pessoas são desconsideradas. A perpetuação de violações e a escalada da violência produz nestas localidades – e também em todo o estado – um número inadmissível de vítimas, inclusive de agentes policiais. Recentemente, com a intervenção militar no Rio de Janeiro, o conceito de “gueto”, de área conflagrada onde normas de direito não devem ou não precisam ser respeitadas, parece ter sido instituído.

CRP_LUTAAs (os) psicólogas (os) do Rio de Janeiro devem se interrogar o quanto essas tragédias, essa cultura de criminalização da pobreza e a segregação de uma parcela significativa da população se reflete na subjetividade de cada um e sobretudo nos habitantes destas áreas, nas crianças e jovens que ali crescem e se desenvolvem, expostos e desprotegidos.

Os moradores das favelas são em sua maioria negros, imigrantes pobres, pessoas que ali conseguiram viabilizar uma moradia, na maior parte das vezes precária. São detentores dos mesmos direitos à educação, à saúde, à segurança e aos demais serviços públicos como qualquer outro cidadão residente em qualquer outro espaço social. O fato de que nestes espaços se desenvolvam atividades criminosas não altera ou não deve alterar esses direitos.

As (os) psicólogas (os) do Rio de Janeiro devem se interrogar – em seus consultórios, ambulatórios, hospitais, na RAPS, nos consultórios na rua, equipamentos de atendimento do SUAS, na Justiça, nas escolas ou empresas – onde quer que estejam, enfim, nas suas vidas familiares e sociais, o que temos todas (os) nós a ver com isso. Não é possível acreditar que mais famílias chorem uma perda tão cruel, sem propósito ou razão, e que o restante da sociedade siga pensando que nada tenha a ver com isso.

O Brasil é a nona maior economia do mundo, porém, apesar disso, também é o décimo país em desigualdades sociais. É sabido que carregamos 400 anos de escravidão em nossa realidade social e cultural. A pobreza e a negritude caminham de mãos dadas em nossa sociedade e são as maiores vítimas da desigualdade e da violência. Nesse momento do país, quando direitos são subtraídos e verbas destinadas às políticas públicas são sonegadas ou desviadas para setores privados, como na saúde e na educação, nenhuma melhoria vislumbra.

Mais duas crianças morreram baleadas. Marcos Vinicius caminhava para a escola, onde não chegou. Guilherme caminhava para a barbearia, onde também nunca chegou. Um morreu durante uma operação policial; o outro, durante um ataque de bandidos. Ambos tinham família, irmãos, amigos.

A Psicologia não há de se calar!



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