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Ciclo de palestras em comemoração ao Dia da Luta Antimanicomial lota auditório da Subsede do CRP-RJ na Baixada


Data de Publicação: 28 de maio de 2018


Na semana em que se comemorou o Dia da Luta Antimanicomial, a Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada realizou, com o apoio da Secretaria de Saúde de Nova Iguaçu, um ciclo de palestras que lotou, no dia 15 de maio, o auditório da Subsede do CRP-RJ em Nova Iguaçu.

A primeira mesa do evento teve como tema “Depressão e Suicídio” e contou com a fala de Danilo David Silva, doutorando em Saúde Mental, médico e psiquiatra do CAPSI de Nova Iguaçu. O psiquiatra deu início ao debate falando sobre suicídio. “Eu preferi começar pelo suicídio e não pela depressão porque as pessoas têm um pensamento de que todo o indivíduo que tenta o suicídio está deprimido, e isso não é verdade”.

Danilo conceituou o suicídio como “ato deliberado, executado pelo indivíduo, que ocasiona a morte”, chamando, em seguida, a atenção para o cuidado que as (os) psicólogas (os) devem ter no acolhimento a um sujeito com histórico de tentativas de suicídio. “Nós temos que ficar atentos para o risco de suicídio, não só quando o indivíduo tenta cometê-lo, quando toma um remédio, um veneno ou se joga na frente de um carro. Existem pensamentos e comportamentos que são anteriores a essas tentativas, e nós devemos estar atentos”, afirmou ele.

IMG_4742Sobre depressão, o palestrante falou sobre os transtornos de humor e apontou que casos de depressão são mais comuns quando o indivíduo possui um histórico familiar dessa doença. “Filhos de depressivos tendem a ter mais depressão do que pessoas que nunca a tiveram na vida, mas isso não quer dizer que uma pessoa que tem uma mãe depressiva vai ser depressiva”.

“No campo da Psiquiatria, não trabalhamos com verdades, trabalhamos com subjetividades e individualidades, pois cada indivíduo é único”, ponderou.

A segunda mesa do ciclo de debates teve como tema “Comunidades Terapêuticas” e foi ministrada pela psicóloga e integrante da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada Rogéria Thompson (CRP 05/52415). “As Comunidades Terapêuticas (CT) são centros alternativos que surgem para o tratamento das pessoas usuárias de álcool e drogas sob um viés preocupante, pois elas são majoritariamente comandadas e dirigidas por organizações religiosas cristãs”, iniciou a psicóloga.

Rogéria, que também atua no CAPSAD de Nova Iguaçu, apontou o assédio que esses equipamentos vêm sofrendo diante da expansão das CT. “Membros dessas CT vão ao CAPSAD, com várias pessoas que são acolhidas nesses espaços, querendo atendimento do psiquiatra e medicamentos. Nós explicamos como é a lógica de trabalho dentro de um CAPS, que o usuário precisa participar das oficinas, que são feitos atendimentos individuais semanalmente, entre outras ações de intervenção junto a esse sujeito”, relatou.

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Danilo, Rogéria e Vera na mesa de debates do evento

Segundo ela, muitos usuários são internados de forma compulsória nessas CT e, na maioria dos casos, os familiares e os próprios usuários são convencidos pelos líderes religiosos da necessidade dessa internação. De forma geral, o acompanhamento e as visitas dos familiares e esses usuários é restrita, o que facilita práticas manicomiais nesses espaços.

O terceiro e último debate teve como tema “Clínica de Psicose” e contou com a fala da psicóloga clínica e psicóloga do CAPS III Jair Nogueira em Nova Iguaçu, Vera Lúcia P. Lima (CRP 05/51313). A psicóloga iniciou sua fala explicando porque escolheu atuar no campo da Saúde Mental, apresentado reflexões sobre a produção de discursos na construção do imaginário social da loucura associado à figura do “monstro”. Ela abordou o percurso histórico e social no qual a loucura foi retirada do ambiente social, apoiado em um discurso científico de produção de verdades, problematizando os conceitos de normal e patológico.

Em seguida, Vera discorreu sobre as estruturas com viés psicanalítico, destacando a psicose. A psicóloga falou sobre a importância de os técnicos de Saúde mental não interpolarem o sujeito psicótico com as suas “interpretações” e sim ouvir o modo particular desse sujeito, defendendo a importância de não tentar remover o “sintoma delírio”, mas, ao contrário, possibilitar sua ressignificação.

Por fim, a psicóloga falou sobre a Luta Antimanicomial, que completou 31 anos, e ressaltou a grande ameaça à Reforma Psiquiátrica e ao Sistema Único de Saúde diante do desmonte das Políticas Públicas da Saúde Mental e de tantas violações dos Direitos Humanos.



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