“Setembro Amarelo: Precisamos falar sobre o suicídio”. Esse foi o tema do 52º Cine Psi Baixada, que aconteceu no dia 28 de setembro na Subsede do CRP-RJ em Nova Iguaçu com o objetivo de debater a temática do suicídio e as possibilidades de intervenção da Psicologia na sua prevenção.
O encontro fez parte da agenda de eventos do CRP-RJ para marcar a importância da campanha internacional Setembro Amarelo, cuja ideia é mobilizar a sociedade em torno do debate sobre o suicídio, considerado um grave caso de saúde pública no mundo atual.
Dando início ao evento, a conselheira-presidente da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), fez uma breve apresentação de estatísticas divulgadas recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os índices de suicídio no mundo.
Conforme apontou, a população jovem, na faixa etária de 15 a 29 anos, é a mais atingida pelo suicídio, que corresponde atualmente à segunda causa de mortes no mundo. No Brasil, especificamente, Mônica destacou que o suicídio é a terceira causa de mortes entre os jovens, atrás apenas dos homicídios por arma de fogo e dos acidentes de trânsito.
“A média brasileira é de seis suicídios a cada 100 mil pessoas. O recorde mundial é da Guiana, onde há 44,2 casos de suicídio para cada 100 mil habitantes”, afirmou. “Segundo a OMS, o índice de suicídio no mundo cresceu 60% desde a década de 1960”, revelou também a psicóloga.
“E a Psicologia tem tudo a ver com esse cenário. Em todos os espaços onde atuamos, vamos ser perpassados por essa questão. Por isso, nós, psicólogos, precisamos estar preparados para atender a essas demandas”, argumentou.
Em seguida, para instigar o debate sobre a temática, foram exibidos trechos do filme “Orações para Bobby”. Produção norte-americana de 2009, o filme conta a história de uma devota cristã que, ao descobrir que Bobby, um de seus filhos, é gay, tenta “curá-lo” por meio de seus princípios religiosos. Não suportando as pressões da sociedade e de sua mãe, Bobby entra em depressão e acaba cometendo suicídio.
A conselheira do CRP-RJ Viviane Siqueira Martins (CRP 05/32170) e o psicólogo Tiago dos Santos (CRP 05/47737), colaborador do CRP-RJ na Comissão de Psicologia e Assistência Social, foram os debatedores do evento.
Viviane destacou a dificuldade de abordar a temática do suicídio, inclusive na Psicologia. “O suicídio é um tema bastante delicado, difícil de se falar e de como se falar. Nós encontramos muitas barreiras e dificuldades”, disse.
“Como se previne o suicídio?”, questionou a psicóloga. “É muito difícil trabalhar a prevenção, mas é possível através de políticas públicas voltadas às populações mais vulneráveis. Em cidades onde há CAPS e outros equipamentos públicos de Saúde Mental, por exemplo, os índices de suicídio são menores”.
Tiago também destacou a dificuldade em debater o suicídio e possíveis formas de prevenção. Segundo ele, nossa sociedade historicamente trata como tabu assuntos relacionados a sexo e à morte. “Se não se fala sobre esses temas, é como se não existissem. Se não existem, não se debate a possiblidade de prevenção. E, com isso, as pessoas vão continuar morrendo debaixo dos nossos olhos”, afirmou.
A seguir, Tiago teceu críticas ao processo de medicalização da vida humana, que progressivamente mais estimula o consumo de medicamentos e produz morte. Para ele, a Psicologia tem uma responsabilidade ética no combate a esse cenário. “A Psicologia precisa ajudar o indivíduo a se redescobrir, a se redimensionar e a encontrar seu lugar no mundo. Precisamos reconhecer a importância da nossa profissão para a sociedade, fazendo frente à ditadura capitalista que se manifesta pela indústria farmacêutica”.
Após a fala da mesa, aconteceu um debate entre os participantes, no qual foram destacadas importantes questões. Uma psicóloga da região destacou que o suicídio convoca a Psicologia à “clínica da urgência”. Outra profissional enfatizou que muitos casos de suicídio estão relacionados à banalização e à estigmatização do sofrimento humano. Ainda, outra psicóloga chamou atenção para o compromisso da Psicologia junto aos grupos sociais vulnerabilizados, mais propensos a cometer suicídio.