auto_awesome

Noticias






Homenagem a Mãe Beata de Iemanjá


Data de Publicação: 29 de maio de 2017


Na manhã de hoje recebi a triste notícia do falecimento de Mãe Beata de Iemanjá. Imediatamente, inúmeras pessoas postaram nos mais diversos meios, seus sentimentos de consternação: “Beata foi para casa”; “Adeus mãe, nos encontraremos um dia e espero ficar ao teu lado. Iemanjá te receba nos braços”; “Vamos sentir muita falta da senhora”; “Perdemos uma estrela do mar”; “O céu ganhou uma estrela”.

Mãe Beata me disse um dia que a oralidade é a pedagogia do Encontro. O encontro entre o mais novo e o mais velho, no qual ambos aprendem sobre a vida e a existência. A generosidade de Mãe Beata era de tal sorte que estar diante dela era receber a brisa forte com cheiro de mar, com o axé que nos deslocava para uma dimensão mais próxima da intensidade e da construção de mundos nos quais existir se torna uma alegria.

Ela dizia que foi gestada no Recôncavo e “parida” no Rio de Janeiro, mais precisamente naquele pedaço de chão, em Miguel Couto, Nova Iguaçu, entre árvores, ancestrais, natureza e pessoas. Foi mulher, mãe, ativista, mas o que ela sempre será para seus filhos e filhas é espelho. Como o símbolo de sua Deusa-Mãe que segura um espelho nas mãos, ela foi, é e será espelho de luta contra todo tipo de desigualdade.

Beatriz Moreira Costa, ou Mãe Beata de Iemanjá, como era mais conhecida, nasceu em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira de Paraguaçu, Recôncavo Baiano, filha de Maria do Carmo e Oscar Moreira. Sacerdotisa suprema ou ialorixá da sua Casa de Candomblé – Ilê Omi Oju Aro, inaugurada em 1985, em Miguel Couto, na Baixada Fluminense; escritora, atriz, artesã, ativista do combate ao sexismo, ao racismo e à proteção do meio ambiente, por uma educação plural, pela saúde da população negra, contra a intolerância e pelo direito à pluralidade religiosa. E assim foi presidente da Ong Criola, integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – CEDIM e outras Ongs da luta por acesso aos direitos, fez parte do “Conselho Griot” que brigou, construiu junto e monitorou a Pesquisa de Mapeamento de Terreiros de Matrizes africanas, realizada pelo NIREMA/PUC e que deu origem ao livro “Presença de Axé” que conta sobre os resultados e experiências desta pesquisa.

Referência incontestável para a comunidade de terreiro de todo o Brasil e lutadora incansável da causa da liberdade religiosa, integrava o Movimento Inter Religioso – MIR e teve grande atuação na luta para que fosse criado o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos no Rio de Janeiro, pois, como ela sempre dizia, não bastava que houvesse tolerância, ela brigava por respeito, não só para ela, mas para todas as pessoas, para todas as religiões.

Mãe Beata de Iemanjá marcou sua passagem pela Terra com a força dos ancestrais que vieram de África e se tornou símbolo da resistência da cultura negra no país. Bradou com sabedoria pelos diretos humanos e agora vai repousar e se aninhar nos braços do Grande Criador, Olorum, Nzambi, Deus. Vai mãe e de lá do Orun lança sobre nós o teu axé e tua sabedoria.

Por: Fabiane de Souza Vieira (Nany) e Abrahão de Oliveira Santos, psicólogos e membros do Eixo de Laicidade da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ