auto_awesome

Noticias






Pré-Congresso Livre reúne profissionais e estudantes de Psicologia na Zona Sul do Rio


Data de Publicação: 7 de abril de 2016


O processo de eventos pré-Congresso Regional de Psicologia (pré-Corep) foi encerrado no dia 2 de abril, sábado, na Universidade Santa Úrsula, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde psicólogos e estudantes elegeram delegados e votaram propostas após um debate sobre Psicologia, Diversidade Sexual e Religião.

Compuseram a mesa debatedora a psicóloga e psicoterapeuta Cristiana Serra (CRP/05 34086), o cientista social Rafael Morello Fernandes, e o psicólogo Mario Felipe Lima Carvalho, do CLAM/UERJ (Centro Latino-Americano em Sexualidade em Direitos Humanos do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Carvalho abordou a luta LGBT, desafios e mortes de LGBT’s (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). “Não é raridade encontrarmos notícias sobre ataques letais a pessoas LGBT, com armas de motivação religiosa ou fascista. Quando não estão combinadas uma parceria nazi-cristã, que choca qualquer simpatizante de noções básicas de direitos humanos e cidadania plena”, afirmou o pesquisador. zona sul 1

“A denúncia e análise da situação em que vivemos pode parecer um apelo desesperado e inócuo, e muito provavelmente é o desespero que simboliza mais claramente o momento político da luta LGBT frente à redução das políticas públicas, ao avanço conservador e à chamada quase inquisição tupiniquim notada nos números alarmantes de violência letal, principalmente contra a população de travestis e transexuais”, disse Carvalho, apontando que, desde o início do ano, a cada 36 horas, morre uma travesti ou uma mulher transexual no Brasil.

Fernandes falou sobre a crescente visibilidade LGBT a partir da década de 1970 e as resistências, principalmente religiosas, e a moralidade sexual. “A partir do final dos anos 1960, principalmente na década de 1970, a gente teve uma crescente visibilidade LGBT: luta por direitos, maior expressão na sociedade, e isso também aumentou as resistências conservadoras, algumas delas de cunho religioso. No Brasil, no mesmo momento, houve o florescimento de um neopentecostalismo crescente, de igrejas com uma leitura bastante fundamentalista da bíblia, e uma moral sexual especialmente muito rígida no que tange à liberdade sexual da mulher e dos LGBT’s”, afirmou o cientista social.

A moralidade sexual, segundo ele, então “aparece como fronteira, aquilo que vai distinguir os ‘cidadãos de bem’ daqueles que precisam ser combatidos em seus direitos”, como um divisor de águas da arena pública dos discursos”. Ele apontou a política como o campo em que o embate se dá de forma mais visível, com consequências públicas, como o fato de se “usar a sexualidade para fins de angariar interesses políticos e energia para a criação de novas leis ou para barrar determinados direitos, por meio de uma espécie de eleição de um inimigo comum da sociedade” – como as bancadas religiosas fazem com a população LGBT.

zona sul 2A psicóloga e pesquisadora Cristiana Serra propôs “sair um pouco do campo psicológico para o campo histórico” para falar sobre “a forma como se concebia a diferença entre homem e mulher” no passado. “Na virada do século XVIII para o século XIX, viu-se uma Medicina cada vez mais obcecada com a diferença sexual, com a definição do que é ser homem e do que é ser mulher, e com um monte de classificações e manuais patológicas sobre qualquer coisa que se desviasse minimamente do que era ser um homem ou uma mulher normal”, disse Serra.

Ao abordar o modo como “a sexualidade se tornou a ferramenta perfeita de controle e adequação dos cidadãos aos seus papéis”, a psicóloga deu como exemplo o discurso de que as mulheres não deveriam trabalhar fora ou estudar “porque quando a mulher começa a investir muita energia em elementos intelectuais, ela vai desviar energia do seu organismo e não vai conseguir gerar filhos saudáveis”.

“Isso são argumentos e discussões médicas seríssimas no contexto da saída da mulher para o espaço público no século XIX”, contou ela, no debate que, em seguida, contou com intensa participação dos psicólogos participantes do evento. Eleição de delegados e elaboração de propostas A mesa diretora, por votação, foi composta pelos psicólogos Cristiana Serra, Roseli Goffman (CRP 05/2499), conselheira do CFP de 2008 a 2013, e Lincoln Torres Homem Junior, coordenador do curso de Psicologia da Universidade Santa Úrsula.

Foram eleitos três delegados e um suplente, e aprovadas oito propostas, entre as quais a de que “seja aberta uma discussão ampla sobre o subjetivismo que envolve a minoria dentro da perspectiva predominante da religião”, a de “que o Sistema Conselhos produza uma cartilha com orientações acerca do tema ‘Psicologia, Religião, Diversidade Sexual e Laicidade’” e a de que sejam “fomentadas discussões sobre identidades de gênero, diversidade sexual e laicidade no âmbito das formações em psicologia, bem como do Sistema Conselhos”, entre outras, que também demonstraram o envolvimento dos profissionais presentes com o debate instalado na mesa que precedeu o processo do Pré-Corep.

A diferença do pré-Corep Livre para os demais pré-Corep reside no fato de os livres não serem promovidos pelo CRP-RJ, mas organizados por psicólogos de modo independente. Foi uma novidade da 9º edição do COREP – que ocorrerá no Rio de Janeiro entre os dias 29 de abril e 1º de maio.

Abril de 2016



zona-sul-1-300x200.jpg
zona-sul-2-300x200.jpg