“Uma Luta Transnacional contra o Racismo, o Neocolonialismo e o Genocídio – Pegar nossa história pelas mãos e demolir o que reduz a nossa humanidade” foi o tema da conferência de abertura do X Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos e IV Seminário Regional de Psicologia e Políticas Públicas.
A mesa emocionou os participantes na manhã do dia 11 de novembro e contou com a fala de Hamilton Borges dos Santos, idealizador e articulador da Campanha Reaja ou Será Morta / Reaja ou Será Morto, coordenador da II e III Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro e militante da Quilombo Xis-Ação Cultural Comunitária.
Hamilton iniciou sua fala abordando o nascimento da Campanha Reaja ou Será Morta / Reaja ou Será Morto. Esse movimento, que hoje atua em diversos países do mundo, surgiu numa cela de penitenciaria de Salvador (BA) a partir da ideia de combater a opressão, a violência e o extermínio do povo negro.
Em seguida, o conferencista passou a fala a Irone Santiago, moradora do Conjunto de Favelas da Maré e mãe de um jovem que, vítima da violência de Estado, acabou tornando-se paraplégico. “Meu filho encontra-se hoje em cima de uma cama pagando a conta de algo do qual ele não tem culpa. Meu filho, infelizmente, é uma das várias vítimas da opressão à favela. Existem mais vítimas dessa violência, mas as pessoas se calam por medo. Eu, pelo contrário, não posso me calar diante de uma crueldade dessas”, declarou Irone.
A seguir, Caroline Amanda Lopes Borges, representante do movimento Reaja ou Será Morta / Reaja ou Será Morto no Rio de Janeiro, falou da importância de o povo negro se unir para denunciar as diversas estratégias genocidas que o Estado brasileiro promove e relatou os principais episódios de violência racial contra jovens e mulheres negros na cidade do Rio desde 2013.
“Para quem ainda duvida que existe um processo racial dado e institucionalizado com uma diretriz ideológica muito concreta”, afirmou Caroline, “acho que a fala do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, em 2007 é muito concreta. Ele disse assim: ‘Se você pega o número de filhos por mãe na Lagoa, na Tijuca, no Méier ou em Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha: é padrão Zâmbia, Gabão, África. Isso é uma fábrica de produzir marginal’. Como podemos ver, na própria fala, o ex-governador faz esse recorte racial”.
A seguir, Hamilton retomou a fala exortando as (os) profissionais de Psicologia à reflexão sobre seu papel na questão da violência racial contra o povo negro. “A primeira questão que esse debate coloca para as (os) psicólogas (os) é como atuar na reconstrução da nossa humanidade? Como vocês, psicólogos, estão lidando com essa reconstrução de humanidade?”.
Hamilton destacou ainda que “o racismo é um problema para todo o mundo, sejam negros ou brancos”. Ele chamou atenção também para o fato de o Brasil “ser o único país do mundo que, proclamada a República, foi instituído um Código Penal antes mesmo da Constituição. Vocês compreendem isso? Nós precisamos discutir nosso projeto de nação!”.
Ele acrescentou que “em uma sociedade que mata pretos como mata baratas, que nos encarcera e mata por uma simples suspeita, que tipo de controle é esse exercido sobre nós, coletivamente, para que toleremos essa situação de forma tão naturalizada?”
“O projeto de Estado visando à nossa eliminação transnacional é algo antigo. Esse projeto segue propagando um holocausto sem que a lei proteja o nosso povo, sem que alguém se importe. Se ninguém se importa, então nós precisamos nos importar. O corpo negro é historicamente um corpo visado, um corpo etiquetado, um corpo mercadoria exposto e eliminado quando o mercado não mais puder lucrar. Nós estamos falando da insistência racista em nossa sociedade, do vandalismo contra o nosso povo”, sublinhou.
Dezembro de 2015