Após a entrega do VIII Prêmio Margarete de Paiva Simões Ferreira, teve início a segunda mesa de debates do dia. Com o tema “A práxis da Psicologia no SUAS”, essa mesa teve como palestrantes Luane Neves Santos, mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia e autora do livro “A Psicologia na Assistência Social: Convivendo com a desigualdade”; Marcelo Gomes Pereira Junior, professor da Universidade FUMEC e autor do livro “A atuação da Psicologia no SUAS: Um enfoque no CREAS, em seus desafios e potencialidades”; e Júlio Cesar Cruz Collares da Rocha (CRP 05/29845), psicólogo, professor da Universidade Católica de Petrópolis e líder do grupo de pesquisas Representações Sociais e Processos Psicossociais.
Esse debate teve a mediação da psicóloga Paula Smith (CRP 05/34667). Marcelo Gomes iniciou o debate pontuando o excesso de burocracia e a precarização das condições de trabalho dentro do SUAS. “Uma grande questão é a burocratização do trabalho nos equipamentos do SUAS. Nós muitas vezes perdemos mais tempo provando que o trabalho foi feito, preenchendo relatórios, do que trabalhando de fato”.
“Como promover empoderamento aos usuários do SUAS se nós mesmos não estamos empoderados? E ainda sofremos com a culpabilização dos técnicos pelo não sucesso do trabalho, quando, na verdade, essa culpabilização encobre o que está por trás de tudo isso, que é a falta de vontade política de que a população seja de fato empoderada. Interessa a quem uma população que sabe reivindicar de verdade seus direitos violados?”, questionou Marcelo.
Já Luane Neves falou sobre a importância do olhar do psicólogo na produção de subjetividade. “Nossas construções coletivas são de suma importância para uma práxis da Psicologia no SUAS. O processo de invisibilidade é tão forte que faz com que, apesar de um discurso engajado e comprometido, tenhamos uma prática que acaba promovendo a manutenção dessa invisibilidade. O nosso olhar cotidiano reproduz nosso pacto com um conjunto de valores que nem questionamos.”
“O que é a compreensão da desigualdade social das psicólogas do CRAS e do CREA?”, acrescentou. “Geralmente, isso é atribuído à desigualdade meramente de renda, porém é desprezada toda a subjetividade que essa desigualdade carrega. Além disso, essa desigualdade de renda cai na culpa do Estado e não paramos para refletir que isso é inerente ao sistema que vivemos. Isso é o capitalismo. Não é um acidente”.
“Um discurso que diz que o usuário é acomodado no bolsa-família, por exemplo, é encontrado inclusive em funcionários do SUAS. E temos que lutar contra isso, pois esse tipo de discurso nunca vai produzir a mudança que queremos e necessitamos”, concluiu Luane.
O psicólogo Júlio Cesar, último palestrante da mesa, trouxe uma importante ponderação sobre como o trabalho do psicólogo muitas vezes está pouco conectado com o que foi aprendido na Academia. “O olhar do psicólogo deve ser guiado pela teoria e metodologia escolhida por ele, não pode ser uma prática aleatória. A maioria dos psicólogos, por exemplo, não sai da Academia preparado para trabalhar com práticas em grupo, que é um trabalho de suma importância dentro da política pública.”