Celebrando o Dia Internacional da Mulher (8 de março) como um importante marco na luta pela defesa dos direitos da mulher, a Comissão Gestora da Subsede do CRP-RJ na Baixada promoveu, no dia 18 de março, em Nova Iguaçu, a 39ª edição do Cine Psi com temática “Violência contra a mulher: seus personagens, desdobramentos e implicações”.
É importante destacar que casos de violência contra a mulher ainda são uma terrível realidade em nosso país, onde, a cada 15 segundos, uma mulher é agredida. Para retratar essa grave situação, foi exibido o documentário “Da janela”, que exibe diferentes casos de violência contra a mulher. Em seguida, os debatedores deram início à conversa com os presentes.
Solange da Silva Brito, vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Nova Iguaçu, deu início ao debate relatando uma experiência pessoal. “Quando minha filha era pequena, precisei brigar com ela e, por causa disso, meu marido me empurrou e me jogou ao chão. Eu imediatamente me levantei, peguei uma faca e coloquei água para ferver em uma panela. Naquele momento eu tomei coragem e o enfrentei, dizendo que não toleraria outra situação como aquela. Vivi 25 anos com ele e nunca mais fui vítima de qualquer espécie de violência. Eu sei que muitas mulheres ficam com medo, mas nós precisamos reagir de alguma forma para que a violência não se repita”.
Theodomiro Amaro da Silva Júnior (CRP. 05/27646), psicólogo coordenador do Grupo de Reflexão de Homens Agressores no Juizado da Violência Doméstica de Nova Iguaçu, ressaltou que “o problema atualmente é que não há políticas voltadas para o homem agressor, apenas para a mulher agredida. É claro que precisamos acolher a mulher vítima de violência, mas precisamos também trabalhar na responsabilização desse agressor pelos seus atos”.
Segundo ele, os grupos de reflexão têm sido importantes no acompanhamento desses homens. “Os grupos têm duração média de dois meses e temos visto um baixo retorno desses homens à justiça como agressores reincidentes de suas companheiras. Isso nos dá fôlego para continuarmos nosso trabalho, articulando para que o poder público abrace também essa política”, afirmou.
“A gênese da violência é quando as palavras perdem o seu valor. A violência acontece quando não permitimos que o outro fale, e é isso acontece com frequência em relação à mulher nessa sociedade machista e sexista em que vivemos”, destacou Paulo César, coordenador do Centro de Referência do Homem de Duque de Caxias.
Paulo enfatizou também a importância do trabalho de acompanhamento do homem responsável pela agressão. “Quando o homem é acusado e condenado por agressão, na maior parte dos casos ele presta serviços à comunidade. Então, por exemplo, um homem que é forçado a trabalhar para o poder público nos seus dias de folga para cumprir sua pena, é claro que ele não acredita que aquilo é culpa dele. Pelo contrário, ele vai responsabilizar a sua mulher por aquilo e é nesse momento que a situação de violência pode voltar a acontecer”.
Por fim, ele falou do trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência do Homem em Duque de Caxias. “O Centro trabalha na desconstrução da legitimação dos atos de violência contra a mulher. Nossa atuação é baseada em três eixos: responsabilização jurídica do agressor, prevenção da violência e promoção da saúde do homem”, explicou.
Elizete Lopes da Silva (CRP 05/34578), psicóloga e coordenadora do Centro Integrado de Apoio à Mulher (CIAM) da Baixada, abordou, por sua vez, o trabalho desenvolvido pelo CIAM na região da Baixada.
“O CIAM é um centro especializado para nortear os trabalhos nos municípios da Baixada. Em nossa região, infelizmente ainda temos muitos casos de violência contra a mulher todos os dias e essas vítimas precisam de um espaço de acolhimento e assistência. O CIAM foi pensado a partir da estrutura necessária para atender de modo qualificado e respeitoso essa mulher em situação de violência”, disse a psicóloga.
Elizete sublinhou ainda que “é preciso trabalhar também para desconstruir os papeis que são dados à mulher e ao homem em nossa sociedade, pois é essa diferenciação que muitas vezes contribui para a naturalização da violência. Além disso, quando atendemos uma mulher vítima de violência, precisamos ter uma escuta atenta, sempre respeitando o tempo de cada uma, pois cada mulher tem um tempo próprio para romper com a violência”.
Luciana Moreira, superintendente da Casa da Mulher de Nilópolis, explicou que, ao contrário do que se pensa, as recentes estatísticas da violência contra a mulher no município indicam que, em se tratando de violência, não há muitas diferenças entre mulheres negras ou brancas, de classes altas ou baixas.
Luciana mencionou ainda uma “campanha do laço branco” desenvolvida em Nilópolis pela Casa da Mulher da qual os homens participavam, não apenas defendendo os direitos da mulher à não-violência como também se comprometendo a não praticá-la.
“O enfrentamento da violência ainda é pouco por parte da mulher. Contudo, elas procuram cada vez mais ajuda e acolhimento, e isso é muito bom. Agora, essa questão, como já foi abordado aqui nesse evento, tem de ser trabalhada em conjunto tanto com a mulher quanto com o homem. Somente assim poderemos enfrentar de modo mais eficaz essa forma de violência”, apontou.
O evento foi coordenado pela psicóloga Mônica Affonso (CRP 05/44523), integrante da Comissão Gestora da Subsede da Baixada e representante do CRP-RJ no Conselho Municipal da Mulher de Nilópolis.
O objetivo do evento foi, além de abordar as diversas manifestações da violência contra a mulher, dar enfoque também ao homem agressor com a presença de profissionais que acompanham e atendem esses personagens para que fosse debatida também a importância desse serviço e as implicações do homem nesse processo de violência.
“O debate foi caloroso com ótima participação dos presentes. Avaliamos que o encontro possa ter contribuído na afirmação do compromisso social do CRP-RJ na Baixada junto aos seus profissionais, estudantes e a comunidade para a informação e formação na busca por Direitos Humanos e uma vida digna”, finaliza a presidente da Comissão Gestora, Vanda Vasconcelos Moreira (CRP 05/6065).