Uma homenagem do CRP-RJ e de sua Comissão Regional de Direitos Humanos à combativa mulher brasileira
Ao contrário do que a história oficial nos conta, o retrato do Brasil como nação está também vinculado às lutas de mulheres brasileiras que, ao longo do tempo – ainda que invisibilizadas –, tiveram e ainda têm papel importante na construção cultural, política e social do nosso país.
Brasileiras se fizeram presentes em movimentos políticos e culturais desde as lutas do Brasil Colônia, atravessando o Império e chegando aos dias atuais. Mulheres negras participaram da resistência à escravidão e em movimentos abolicionistas. Trabalhadoras da cidade e do campo participaram das primeiras lutas sindicais e mulheres de distintas classes sociais lutaram pela emancipação feminina desde o século XIX, exigindo direitos até então reconhecidos apenas como masculinos. Assim, essas pioneiras pelejaram, entre outros, pelo direito ao trabalho, à educação, à criação artística e literária, à participação política e ao voto feminino – conquistado em 1932.
Desde o início da década de 1960, quando o ritmo de industrialização do Brasil foi acelerado, os estilos de vida, costumes e vestuário começaram a ser alterados, o mesmo ocorrendo com as dinâmicas familiares e com os padrões de fecundidade, tendo as mulheres participado ativamente desse processo. A partir do golpe civil-militar, em 1964, que decretou uma ditadura que durou mais de 20 anos, cerceando liberdades democráticas, instaurando a censura e a violenta repressão política, muitas mulheres participaram ativamente da resistência ao regime, lutando pela restauração da democracia e pagando um preço muito alto pelas suas escolhas**. Entre elas, várias psicólogas e estudantes de Psicologia.
Ao longo das décadas seguintes, as mulheres não ficaram passivas e passaram a se engajar mais ativamente nos debates políticos e culturais, exigindo participação na transformação da sociedade e de seu papel nela. Passaram a se destacar cada vez mais no mundo do trabalho, na política, nas artes, nos esportes, na literatura, na área tecnológica, nas ciências, na comunicação…
Hoje, com muito mais visibilidade, as mulheres têm papel destacado no mundo profissional, na vida acadêmica, nas lutas por direitos reprodutivos, nos movimentos nas ruas, nas batalhas contra a violência em suas várias formas. Pouco a pouco se sobressaem em postos de comando da esfera pública e da iniciativa privada. Cerca de 50% dos trabalhadores brasileiros são mulheres e, na Psicologia, as mulheres representam mais de 89% dos psicólogos do país.
Contudo, apesar de inúmeros avanços, ainda há muito por conquistar na consolidação efetiva dos direitos da mulher em nosso país. Por exemplo, a remuneração das mulheres ainda apresenta defasagem em relação a dos homens. A renda das mulheres negras é inferior à metade da recebida pelos homens brancos e equivale a 56% dos rendimentos das mulheres brancas***. Essa disparidade se repete quanto à situação educacional, à inserção no mercado de trabalho, ao acesso a bens duráveis, às tecnologias digitais, à condição de pobreza e a vivência de situações de violência, entre elas a sexual.
Nesse panorama, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, como instituição defensora dos Direitos Humanos, se une à luta da mulher brasileira em prol da redução das disparidades de direitos que ainda persistem entre homens e mulheres. Para tanto, defendemos a criação e o incremento de políticas públicas visando à superação dessas desigualdades, no sentido do enfrentamento às diversas situações de violência institucional/institucionalizada a que ainda estão expostas as mulheres em nosso país.
__________________________________________________________________________________
* O ano de 1975 foi consagrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Mulher e, em 1977, foi instituído, também pela ONU, o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher com o intuito de lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.
** Ver as seguintes publicações:
- Luta, Substantivo Feminino – mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura – (BRASIL–2010). Disponível para download aqui.
- A Verdade é Revolucionária (CFP–2013) – Disponível para download aqui.
*** Ver a publicação Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil – (IPEA – 2013) Disponível para download aqui.