‘Psicologia e relações raciais’ foi tema do último Cine-Psi que ocorreu dia 12 de novembro na Subsede da Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu, coordenado pela conselheira do CRP-RJ, Viviane Martins (CRP 05/32170), integrante da Comissão Gestora da Subsede Baixada. Depois de ser passado o filme “Racismo no Brasil Preto No Branco – Nem Tudo é o que Parece”, houve o debate que contou com profissionais psicólogos, parceiros e estudantes representantes de várias municípios da Baixada.
A conselheira do CRP-RJ, Andris Cardoso Tibúrcio (CRP 05/17427), começou provocando a plateia perguntando o que levou cada um deles a estarem presentes naquele espaço para ouvir ou falar sobre racismo. Logo depois, Joilson Santana Marques, do Centro de Cidadania LGBT/SEASDH, que também é conselheiro do CRESS-RJ e mestre em Saúde pelo IFF/FIOCRUZ, levantou a discussão com um fato que aconteceu semanas anteriores. Ele falou sobre a escolha da Miss Universo, onde havia uma única negra.
“A apresentadora do evento sempre perguntava o porquê aquela mulher estava entre as finalistas, já que não era tão bonita. Visivelmente, ela perguntava isto e insistia em repetir porque aquela negra tinha um padrão de beleza diferente das outras. O cabelo dela era crespo, a cor era preta, tinha nariz grande, mas que ela deve ter passado para a final porque tinha uma roupa exótica. Ou seja, o que está em disputa nesta discussão? Normalmente a gente não questiona isto. Ela não fazia parte do padrão de beleza, mas a roupa era exótica. O negro não é bonito para esta sociedade, mas é sempre o exótico, é sempre assim que nos vêem”, disse.
Joilson questiona ainda o porquê que as roupas, a cor, o comportamento, o corte de cabelo para o negro tem que ser uma questão ética. “Eu quero ter o direito de ter o cabelo assim. Não quero estar na moda. A mulher branca faz o que quiser com o cabelo e ninguém pega no cabelo dela e questiona. Queremos ter direito ao nosso corpo, devolvam o corpo que me tomaram”, expõe. Ainda diz mais: “Ou o nosso corpo foi tomado pela ciência ou foi colocado como exótico. E se a gente conseguir ter a posse dele, a gente vai poder avançar em muitas outras questões sociais. Uma coisa é fato, ninguém quer sentir como é o cabelo do branco, o cabelo liso. Nosso cabelo não é de livre acesso”, afirmou.
São questionamentos que muitos não se fazem no dia a dia. São comportamentos que são feitos diariamente e as pessoas até acham normal tais tipos de atitudes. Élson Alexandre, da Coordenadoria de Igualdade Racial de Nova Iguaçu, também levantou inúmeras perguntas: O que justifica essa luta? Por que ela existe? Para ele, o racismo e todas as diferenciações são muito difíceis de compreender, somente quem sente na pele é quem sabe. “É vergonhoso que tenham que existir leis como Maria da Penha, ou Cotas Raciais. Mas hoje é preciso. Historicamente o negro foi proibido de se inserir na sociedade. Cresci sem a consciência da minha própria beleza. Cresci vendo a cor escura como oposição à pureza, o cabelo crespo como ruim. Demonização sobre as religiões africanas. Não via a ousadia e a coragem desse povo negro que teve e tem que resistir a tudo”, falou.
Para Márcia Alves Tassinari (CRP 05/1718), ex-conselheira presidente do CRP-RJ, psicoterapeuta especialista em Psicologia Clínica e professora da Universidade Estácio de Sá, é importante que existam movimentos que lidem com questões especificas como estas para que as resistências continuem. “A cota é necessária, mas precisamos dela provisoriamente porque os direitos necessitam um dia ser de todos e todas”, disse.
Concluindo o debate, a conselheira do CRP-RJ, Andris, volta às perguntas feitas no início do debate e abre o bate papo com o público presente. Cada um pegou o microfone e falou sobre o que levaria para casa depois da exibição do filme e do debate. Muitos colocaram a sua experiência e contou exemplos de resistências do povo negro.
Finalizando o evento, houve o lançamento do livro: Revisitando Plantão Psicológico Centrado na Pessoa com os Psicólogos Organizadores do livro Márcia Tassinari, Ana Paula da Silveira Cordeiro e Wagner Teixeira Durange. Na ocasião foi lembrado a importância das contribuições de Márcia Tassinari à categoria quando esteve à frente como presidente no CRP-RJ, na defesa dos princípios éticos e dos interesse do coletivo dos profissionais psicólogos. Os presentes demonstraram grande gratidão à psicóloga por sua valiosa e corajosa dedicação no período de sua Gestão.