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Debate sobre medicalização é ampliado com simpósio


Data de Publicação: 5 de dezembro de 2011


Realizado no último dia 23 de novembro, o I Simpósio “Medicalização da Vida: novas capturas, antigos diagnósticos na ‘era dos transtornos’” lotou auditório em debate sobre o tema, uma das bandeiras do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ). O evento, que aconteceu na  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi organizado pelo Núcleo Rio de Janeiro do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, do qual o CRP-RJ faz parte.

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Psicólogos, estudantes e outros profissionais interessados encheram o auditório da Uerj

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A mesa de abertura teve a participação das psicólogas Adriana Carrijo, Helena Rego Monteiro, Kátia Aguiar e Giovanna Marafon.

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A segunda mesa do evento apresentou práticas substitutivas à medicalização.

A discussão foi aberta em mesa redonda sobre controle e aprisionamento da vida com as psicólogas Giovanna Marafon (CRP 05/30781), Helena Rego Monteiro (CRP 05/24180) e Kátia Aguiar (CRP 05/5549). Giovanna e Helena são conselheiras do CRP-RJ, e representam a entidade no Fórum Sobre Medicalização, enquanto Kátia é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ao abrir a discussão, Helena destacou pontos relevantes, como o excesso do consumo de medicamentos como o metilfenidato (Ritalina) no Brasil e no mundo. A psicóloga, que trabalha com o tema desde 2003, mostrou-se muito entusiasmada com as ações desenvolvidas no Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade.

“Quando começamos a discutir a proliferação de diagnósticos de TDAH e o consumo exagerado do metilfenidato estávamos isolados. Entretanto, agora, representando o CRP-RJ na construção desta rede nacional e com a articulação que estamos fazendo com o Fórum argentino (Fórum ADD) acreditamos que os professores, pais e familiares já têm a quem recorrer para refletir sobre a medicalização da vida escolar”, lembrou Helena.

Giovanna, por sua vez, foi responsável por contextualizar a relação entre as discussões sobre
medicalização e judicialização.  A psicóloga explicou que conceitos que cada vez ganham mais espaço na mídia, como o bullying, levam para o interior das escolas uma noção judicializada das relações.

“Nem tudo é problema. Várias relações têm sido tipificadas da mesma forma. As relações humanas comportam boms e maus encontros”, alertou a conselheira. “O que estamos produzindo? Cada vez há mais verbas para pesquisas sob esse olhar, fortalecendo projetos de judicialização com ajuda da mídia”, lamentou.

Antes da abertura para debate com o público, Kátia Aguiar fechou a fala da mesa. Além de comentar as discussões abertas por Giovanna e Helena, ela apontou outros caminhos de aprisionamento e controle, e destacou a importância da ampliação das discussões com eventos como o Simpósio. “Nossas práticas não são contrárias à medicalização, mas queremos mostrar uma nova ética, com práticas substitutivas”, disse.

Ao final da mesa, os participantes do evento assistiram ao vídeo “Medicalização da Vida Escolar”, de autoria de Helena, que ressaltou a importância de “novas linguagens para os
debates” sobre o tema.

A segunda mesa do evento apresentou práticas substitutivas à medicalização. Para debater o tema, estavam presentes Claudia Perrota (fonoaudióloga de São Paulo e membro da Associação Palavra Criativa), e os psicólogos Jorge Luis Ferreira (CRP 05/11050), Israel Côrtes
Santos (05/39417) e Gabriela Salomão (CRP-05/28372). Jorge e Israel são membros da equipe de Psicologia Escolar da Secretaria Municipal de Itaguaí, enquanto Gabriela atua no Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas Municipais (Proinape).

Claudia alertou para o fato de muitos de seus colegas de categoria estarem usando suas técnicas para legitimar diagnósticos de supostos transtornos. Apresentando dados e até reproduções de bilhetes e comentários de crianças, ela destacou que pequenos deslizes na escrita e na fala são totalmente normais para aqueles que estão em idade escolar, principalmente na alfabetização. Ainda assim, muitas vezes são taxados como doentes.

Gabriela, Jorge e Israel destacaram as dificuldades que encontram em seus respectivos campos de trabalho, mas garantiram que não abrem mão de sugerir e implantar medidas para combate ao excesso de diagnósticos de supostos transtornos – muitos deles dados por professores – a crianças com comportamentos considerados “fora do normal”.

O simpósio foi encerrado com a palestra “Medicalização do Comportamento e da Aprendizagem: O obscurantismo reinventado”, da médica pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).



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