“Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos: ‘Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?’”.

Roda de conversa reuniu estudantes e profissionais
Foi assim, com “O Caso do Espelho”, de Ricardo Azeredo, que a psicóloga e contadora de histórias Jacqueline Pereira Lopes de Lima (CRP 05/32918) iniciou a Roda de Conversa “Um pouco de possível senão sufoco: reinvenções da Psicologia” na 5ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ). O momento foi o espaço reservado para que os participantes pudessem analisar e entender a chamada “reinvenção da psicologia” por meio de novos métodos de tratamento na área Psi.
Entre os psicólogos e psicólogas convidados para a Roda, além de Jacqueline, estavam a colaboradora e ex-conselheira do CRP-RJ, Maria Márcia Badaró Bandeira (CRP 05/2027); a terapeuta corporal Catarina Mendes Resende (CRP 05/30282) e o artista Raphael Vaz Rocha (CRP 05/27549).
Márcia e Jacqueline falaram sobre suas experiências em presídios do Rio de Janeiro. Nesse contexto, o trabalho de contar histórias serviu não só como forma de aproximação entre as psicólogas e as presas, mas também como válvula de escape. “O objetivo de contar histórias é provocar os afetos e possibilitar que as presas falem de suas histórias a partir das histórias do outro. Depois de contarmos, podemos falar dos sofrimentos delas”, explicou Jaqueline. Márcia disse que esse tipo de abordagem foi importante para ela mesma. “É a aplicação da ideia do ‘um pouco de possível senão sufoco’”, contou.
Raphael apresentou exemplos do seu trabalho no desenvolvimento do potencial artístico de alguns pacientes. Ele explicou que o que se busca atualmente é procurar novas alternativas e não estagnar o olhar naquilo que é óbvio com relação aos pacientes. “Nossa busca tem sido pela utilização do ‘olhar descoberta’ em oposição ao ‘olhar viciado’. A arte é transversal, ela não se dá nas escolas de arte. O cotidiano é a principal fonte de trabalhos artísticos”, explicou.
Como já tinha mostrado na oficina “A Corporeidade da Palavra” (INSERIR LINK PARA http://www.crprj.org.br/noticias/2011/0727-oficinas_estimulam_interacao_durante_mostra.html), Catarina Resende contou alguns exemplos que vivenciou em seu trabalho com reeducação motora e a reabilitação pelo movimento. O caso de uma jovem em estado terminal que sofria com um enfisema pulmonar e que, por conta disso, não conseguia respirar, foi o que chamou mais atenção dos presentes. “O que faltava aquela menina não era ar. Faltavam possíveis”, contou Catarina. Citando o psicanalista inglês Donald Winicott (“Que eu esteja vivo na hora da minha morte”), a terapeuta observou que a questão prioritária é “viabilizar o acesso à vida a quem está morrendo”.