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Crepop realiza encontro sobre políticas de diversidade sexual na IV Mostra


Data de Publicação: 26 de julho de 2010


No segundo dia da IV Mostra de Práticas em Psicologia, 23 de julho, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) realizou uma oficina sobre políticas de diversidade sexual. O encontro fez parte do terceiro ciclo de 2010 do Crepop.

Iniciando o evento, a psicóloga Beatriz Adura Martins (CRP 05/34879), assessora técnica do Crepop-RJ, explicou o trabalho desse Centro. “Em cada ciclo, fazemos encontros presenciais com psicólogos da área e disponibilizamos um questionário online. O relatório deste encontro será enviado a vocês para opinarem antes de ser encaminhado ao Crepop Nacional. Lá, serão reunidos os relatórios de todos os CRPs, que, junto com as respostas ao questionário, serão base para um documento de referências para o campo”.

Em seguida, o conselheiro coordenador do Crepop-RJ, Lindomar Expedito Silva Darós (CRP 05/20112), explicou que a metodologia trabalhada seria a sociodramática. Ele pediu que todos se dividissem em duplas para se conhecerem e, sem seguida, apresentarem ao outro em primeira pessoa. “Hoje, vamos falar do outro e, na medida do possível, ser o outro”, afirmou.

Beatriz Adura explica o funcionamento do Crepop

Beatriz Adura explica o funcionamento do Crepop

Entre os participantes, havia estudantes, psicólogos e outros profissionais que trabalham em diversos espaços – escola, ambulatório, Caps, sistema socioeducativo, CREAS, clínica etc. – e se deparam com a questão da diversidade sexual de algum modo em sua prática e/ou vida. Eles destacaram que sua expectativa com o encontro era trocar experiências e aprender com a prática do outro.

Em seguida, os participantes se reuniram em três grupos para conversarem sobre suas práticas e criarem uma história que se relacionasse com a questão da diversidade

Lindomar Darós conduz o sociodrama

Lindomar Darós conduz o sociodrama

sexual. As três histórias foram ouvidas por todos posteriormente e uma delas foi eleita para ser encenada no sociodrama.

O caso escolhido, chamado de “A cura”, falava sobre uma psicóloga do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) que recebe uma mãe que quer “curar” a orientação sexual da filha de 14 anos. A menina seria bissexual e estaria se envolvendo afetivamente com uma jovem de 18 anos. A profissional leva o caso ao supervisor, que a estimula a trabalhar para que essa menina seguisse a orientação heterossexual. Na cena, há ainda colegas de trabalho que se dividem quanto à direção a ser tomada no acompanhamento. Cria-se, então, um impasse ético entre psicólogos e supervisor.

Durante o sociodrama, apareceram diversas questões, como a culpabilização da mãe, por não aceitar a orientação sexual da filha; a dificuldade que os psicólogos ainda enfrentam ao trabalhar com diversidade sexual; a questão do consentimento, devido ao fato de a menina ter 14 anos; entre outras.

Encerrando a cena, Lindomar pediu que todos se colocassem no lugar daquela psicóloga e dissessem como se sentiam. Alguns dos sentimentos colocados foram os de impotência, revolta, desafio e solidão.

Durante o debate que se seguiu, uma das questões levantadas foi se o que estava em jogo era realmente uma possível “cura” para a homossexualidade ou o sofrimento, fosse o da mãe ou o da menina.

Muitos psicólogos apontaram ainda o despreparo dos profissionais em lidar com a diversidade sexual. “Muitas vezes, acabamos discriminando sem perceber”, afirmou uma participante. Sobre isso, um psicólogo que havia interpretado a menina no sociodrama lembrou que sentiu sua personagem invadida pelas perguntas da psicóloga no atendimento, apesar de ela não ter procurado patologizar.

Além disso, foi ressaltado que não há neutralidade em nenhum atendimento, pois o profissional também é produto da sociedade em que vive. O ponto debatido foi como evitar que suas crenças e valores morais predominem e, ao mesmo tempo, reconhecer e encaminhar a outro profissional quando o psicólogo perceber que não conseguirá atender um caso devido a questões pessoais.

Outra psicóloga destacou que sentiria dificuldade com o caso apresentado pelo fato de a menina ser menor de idade e sua suposta namorada ter 18 anos. Sobre essa questão, um participante lembrou que o Código de Ética do Psicólogo dá o respaldo para que ele avalie o consentimento. “Devemos ver o consentimento para além da questão burocrática da idade. Apesar de a lei dizer que a idade mínima para consentimento é 16 anos, isso não significa que uma menina dessa idade possa consentir, nem que uma de 14 anos não possa”.

Também foi levantada a importância de ver a diversidade sexual para além da homossexualidade, apesar de o grupo ter escolhido esse recorte para a cena.

Finalizando, Lindomar declarou que a reunião era apenas um primeiro encontro e, como seria criada uma lista de e-mails para compartilhamento do relatório, isso possibilitaria contatos posteriores entre os presentes. O objetivo, segundo ele, seria a construção de redes e trocas de experiências.



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