O CRP-RJ participou da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial , realizada entre os dias 27 de junho e 1º de julho, em Brasília. A Conferência reuniu delegados de todo o país eleitos nas Conferências Estaduais, entre eles cinco representantes do CRP-RJ.
A IV Conferência teve participação de cerca de 1.600 pessoas, entre representantes dos Conselhos Estaduais de Saúde, profissionais que atuam na Saúde Mental, usuários destes serviços, familiares de usuários, gestores e profissionais de outras áreas. O encontro teve como objetivo discutir propostas intersetoriais para a Reforma Psiquiátrica no Brasil a partir da interação com outros campos.
“É importante destacar que a Conferência Intersetorial afirmou a direção da política da Reforma Psiquiátrica baseada no Movimento pela Luta Antimanicomial, confirmou seu sucesso e apontou para a diversidade de dispositivos que se tem hoje para acolhimento e tratamento das pessoas em sofrimento psíquico”, declarou Ana Carla Souza Silveira da Silva (CRP 05/18427), conselheira presidente da Comissão de Saúde do CRP-RJ e delegada na Conferência.
Cristiane Knijnik (CRP 05/39275), colaboradora da Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ, foi outra das delegadas que representaram o CRP-RJ. Para ela, “o mais importante talvez tenha sido a presença de muitas pessoas de distintas partes do Brasil, que, por ocuparem lugares diferentes, já que são trabalhadores, usuários, gestores e pessoas ligadas à academia, apresentaram as questões da Saúde Mental de maneira bem diversa, dialogando para encontrar propostas comuns. A intersetorialidade em questão tinha como objetivo discutir a Saúde com pessoas que não são do campo, ligadas à Cultura, Educação, Segurança; a Saúde não é restrita aos saberes da Saúde: ela está nessa produção interdisciplinar”.
De acordo com a assessora técnica do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas públicas (CREPOP) do CRP-RJ, Beatriz Adura Martins (CRP 05/34879), também delegada na Conferência, a realização do evento foi “uma vitória para o movimento social”. Ela destacou como um dos pontos positivos a rejeição ao modelo de Organizações Sociais e da privatização da Saúde.
No entanto, a psicóloga apresenta algumas ressalvas. “Na minha opinião, a IV Conferência marcou um retrocesso com relação à anterior no sentido de que os discursos se centraram na patologização da loucura, limitando-a à assistência, inclusive utilizando termos da psiquiátrica mais tradicional”, afirmou.
Conforme avaliam Ana Carla, Cristiane e Beatriz, o ponto alto da Conferência foi a participação dos usuários nos debates e na proposição de diretrizes para a Reforma Psiquiátrica. Segundo Ana Carla, “a marca mais forte e rica da Conferência foi o protagonismo dos usuários de saúde mental, que se colocaram de igual pra igual com qualquer outro participante, interferindo na construção das propostas de forma bastante positiva”.
Para Beatriz, “a participação dos usuários foi fundamental porque essa presença política representou, por si só, outro modo de pensar as políticas públicas na Saúde Mental, impondo-nos outra sensibilidade para pensar estas políticas para a Saúde Mental”.
Cristiane salientou, contudo, a importância de se colocar em análise a própria metodologia empregada ao longo do processo que culminou na IV Conferência Nacional. “Os usuários me fizeram pensar que essa modalidade ‘conferência’ precisa ser revista, porque é uma metodologia demasiadamente racional”.
Beatriz exemplifica com uma experiência ocorrida na própria Conferência. “Achei muito interessante uma discussão feita em uma mesa composta por usuários e familiares. Foi outra forma de conferência, com outros tempos para fala e participação nos debates”.
Também participaram da Conferência como delegadas as psicólogas e colaboradoras do CRP-RJ Helena Fialho de Carvalho (CRP 05/34864), da Comissão de Saúde, e Daniela Albrecht Marques Coelho (CRP 05/30760), da Comissão Regional de Direitos Humanos.