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No Ano da Psicoterapia, Comissão de Estudantes promove debate sobre Formação e Direitos Humanos


Data de Publicação: 16 de novembro de 2009


Ocorreu, no dia 11 de novembro, mais um Fórum de Debates da Comissão de Estudantes, sobre Formação e Direitos Humanos. O evento ocorreu em comemoração ao Ano da Psicoterapia, eleito pelo Sistema Conselhos como 2009. A mesa de debates contou com a psicóloga Anna Paula Uziel (CRP 05/17260), professora da UERJ e colaboradora da Comissão de Estudantes, o conselheiro Pedro Paulo Gastalho de Bicalho (CRP 05/26077), presidente da Comissão Regional de Direitos Humanos/CRP-RJ e professor da UFRJ, e Raiana Micas Macieira, estudante da UERJ.

Ana Lúcia Furtado (CRP 05/465), conselheira-coordenadora da Comissão de Estudantes, abriu o encontro falando sobre a Comissão, que definiu como “um espaço de diálogos entre o CRP-RJ e os estudantes”, e ressaltando a importância da maior participação dos estudantes junto ao Conselho.

A psicóloga Adriana do Espírito Santo (CRP 05/), colaboradora da Comissão de Saúde e da Comissão de Avaliação do Título de Especialista (CATE), aproveitou a oportunidade para falar sobre os COREPs (Congressos Regionais de Psicologia) e o CNP (Congresso Nacional de Psicologia), que acontecerão no primeiro semestre de 2010. Segundo ela, é importante que estudantes de Psicologia produzam teses, embora eles não possam assiná-las, e as enviem para o CRP. Essas teses serão discutidas nos pré-congressos e podem vir a compor as diretrizes do Sistema Conselhos nos próximos três anos.

Carlos Eduardo Nórte, estudante da UFRJ, colaborador da Comissão de Estudantes e participante da Comissão Organizadora do Ano da Psicoterapia, falou um pouco sobre os Anos Temáticos eleitos pelo Sistema Conselhos e, mais especificamente, sobre o Ano da Psicoterapia, lembrando do primeiro Fórum de Debates promovido pela Comissão de Estudantes, sobre Formação e Psicoterapia.

A mesa de debates

Foto dos palestrantes Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, Anna Paula Uziel , Carlos Eduardo Nórte e Raiana Micas Macieira.

Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, Anna Paula Uziel , Carlos Eduardo Nórte e Raiana Micas Macieira, da esquerda para direita, participaram do Fórum de Debates da Comissão de Estudantes sobre Formação e Direitos Humanos.

Abrindo a mesa de debates, Pedro Paulo afirmou que a CRDH do CRP-RJ tem trabalhado para “que os Direitos Humanos se deem na própria prática do psicólogo porque nós, da CRDH, partimos de uma concepção de direitos humanos que não se prenda a tratados e convenções”.

“A CRDH estranha a forma como naturalizamos práticas e fazemos delas bandeiras. No Ano da Psicoterapia, por exemplo, a prática psicoterápica não foi pensada ainda como violadora dos direitos humanos. Foi justamente por isso que o V Seminário de DH debateu a psicoterapia como pena”.

Ainda de acordo com o psicólogo, é preciso que a categoria discuta outras questões que atravessam a profissão. “Em que sentido podemos colocar em questão essas novidades que vêm aparecendo e atropelando a Psicologia, como a Ato Médico? Dentro da comissão, temos discutido também o papel do psicólogo na síndrome da Alienação Parental, no Depoimento sem Danos e nos testes psicológicos. Nós, psicólogos, não queremos esse lugar de judicializador; não estamos aqui para punir”, acentua.

Sobre a inserção dos direitos humanos nas grades curriculares de graduação, o conselheiro disse que a CRDH “não afirma a necessidade de disciplina na academia, na formação em Psicologia. Os direitos humanos devem estar atravessados em todas as nossas práticas”.

Raiana afirmou, por sua vez, que “existe uma naturalização das práticas dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, uma paradoxal naturalização da violação desses direitos”. A estudante citou como exemplo “adolescentes que são encaminhados ao Degase porque a pobreza lhes é apontada como um primeiro delito. A violação de direitos é muitas vezes institucionalizada”.

Ela se questionou como se dá a inserção de todas essas discussões na formação e apontou a defasagem entre a formação teórica e a formação prática como razão principal para que essas questões não sejam contempladas na graduação. “É importante conduzir a discussão transversalizando a Declaração de DH com as políticas públicas. É importante também não cair na armadilha da judicialização”, afirmou.

Anna Paula Uziel qualificou a Comissão de Estudantes como uma iniciativa fundamental do CRP-RJ, por representar “uma marca da mudança do Conselho de instituição que só cobrava anuidades para um importante espaço de discussão. A proposta é o diálogo e ele está acontecendo agora”.

Segundo a psicóloga, “na década de 1990, Psicologia e direitos humanos era uma combinação considerada muito estranha, e hoje é possível ver o quanto avançamos nesse sentido, porque já não é mais possível falar em Psicologia sem falar em direitos humanos”.

Anna Paula criticou ainda o fato de a Psicologia ser requisitada a estar presente em tudo. “Eu morro de medo das pessoas que acha que tem de haver psicólogo em todos os lugares. Não queremos saber somente das causas de tudo. Queremos pensar quais as práticas que estamos produzindo”.

A psicóloga se disse impressionada pelo fato de todas as discussões do Plano Nacional de DH de 2002 dizerem respeito à Psicologia. Para ela, “essas discussões precisam estar presentes na formação”. “Pergunto-me porque isso ainda não está em pauta na Psicologia. É necessário discutir isso de maneira mais integrada e próxima”.

Finalizando a mesa, Carlos Eduardo afirmou que “colocar as diretrizes curriculares e o mercado como vilões da formação pode ser uma armadilha. Quais são as práticas que formam estudantes, que formam sujeitos? Que práticas discursivas formam psicólogos? As faltas éticas estão relacionadas à má formação ou à falta de compromisso com a problematização de suas práticas?”.

Texto e fotos: Felipe Simões

16 de novembro de 2009