auto_awesome

Noticias






GT de Psicologia e Relações Raciais debate a identidade negra no Brasil


Data de Publicação: 9 de junho de 2009


O Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ realizou, no dia 3 de junho, sua segunda roda de conversa de 2009, com o tema “Ser negro(a) e ser branco(a) no Brasil”. O primeiro encontro havia ocorrido no dia 29 de abril (veja aqui como foi) e o objetivo do GT é, a partir de junho, realizar essas atividades na primeira quarta-feira de cada mês.

A conselheira Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929) deu início ao evento explicando a criação do GT. “Esse grupo surgiu da necessidade de trazer à Psicologia uma discussão que está muito ausente, desde a formação. Questões como a situação do negro no Brasil não estão presentes nas universidades. O CRP-RJ criou esse GT, então, para fomentar esse debate junto aos psicólogos, pensando na nossa prática e no nosso cotidiano, enquanto profissionais e cidadãos”.
Segundo a conselheira, o tema do evento foi escolhido a partir da discussão que ocorreu na primeira roda de conversa. “A questão da identidade dos negros no país apareceu bastante no último encontro. O que é ser negro ou negra, branco ou branca atualmente?”.

Para fomentar a discussão, foi apresentado um vídeo que reproduzia uma pesquisa realizada pelos psicólogos americanos Mamie e Kenneth Clark, em 1947, nos Estados Unidos. Nela, o pesquisador colocava uma boneca branca e uma negra em frente a uma criança negra e realizava uma série de perguntas, tais como “qual é a boneca bonita?”, “qual é a feia?”, “qual é a legal?” e “qual é a má?”. Em todos os casos, as crianças associaram os adjetivos bons à boneca branca e os ruins à negra. Mesmo assim, os meninos e meninas se consideravam parecidos com a boneca negra.

O estudo mostrou, dessa forma, o impacto negativo do racismo entre crianças norte-americanas e seu efeito sobre a autoestima dessas crianças. “Essa pesquisa foi fundamental para que a segregação entre crianças brancas e negras nas escolas fosse proibida nos Estados Unidos”, esclareceu o psicólogo e colaborador do GT Celso Vergne (CRP 05/27753).

Foto da professora Perses Canellas.

A professora Perses Canellas apresentou sua experiência no Projeto Griot, que realiza atividades de leitura de autores e temáticas africanas ou sobre relações raciais em geral.

Em seguida, a professora Perses Canellas, convidada pelo GT para conversar com os presentes, apresentou sua experiência em um projeto que realiza no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC), em Niterói. O Projeto Griot (nomeado devido aos “griots”, os contadores de histórias na África) consiste em atividades de leitura de autores e temáticas africanas ou sobre relações raciais em geral. As histórias são contadas em um espaço ambientado por ela, com esteiras no chão em vez de cadeiras e uma decoração que inclui bonecas negras e fotos dos alunos nas paredes.

“No final do ano, faço uma avaliação com a turma, para eles me dizerem o que acharam do projeto. O que percebi foi que a atividade foi muito significativa, para todas as idades. Eles revelaram, por exemplo, que se identificaram com as bonecas e que nunca haviam visto bonecas negras antes. Também se repetiu muito as declarações de que se sentiram seguros naquele espaço e que tomaram gosto pela leitura”, contou Perses.

De acordo com a professora, muitas das crianças aproveitaram o espaço para falar de suas experiências e angústias. “Começo a contar histórias africanas, de orixás, por exemplo, e eles começam a pedir para contarem histórias também. Quando eles falam, contam suas próprias histórias de vida”. Segundo ela, isso faz com que a leitura e a escrita comecem a fazer parte do cotidiano e da formação desses alunos.

A partir do vídeo e da fala de Perses, deu-se início ao debate sobre a questão da identidade negra no Brasil atual.

Alguns pontos levantados na discussão apontavam para a importância de este tema passar a ser parte integrante das reflexões da Psicologia. Segundo os presente, os efeitos do racismo estão presentes na construção da autoimagem das crianças e jovens, fazendo-se necessário propor outros modelos de identificação, nos quais a imagem negra tenha uma positividade.

Outro tema que produziu intenso debate foi sobre os efeitos da política de “branqueamento” da população negra no Brasil, uma das bases da idéia de “democracia racial”, historicamente buscada na sociedade brasileira.
Por fim, foi anunciada a data da próxima roda de conversa, a ser realizada no dia 1º de julho, às 18h, no auditório da sede do CRP-RJ, com o tema “Ações Afirmativas”. A sede do Conselho fica na Rua Delgado de Carvalho, 53, Tijuca.

Texto e Fotos: Bárbara Skaba

09 de junho de 2009