auto_awesome

Noticias






CREPOP dá início ao ciclo sobre Educação Básica


Data de Publicação: 20 de abril de 2009


O Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) do CRP-RJ iniciou seu segundo ciclo do ano, sobre Educação Básica, no dia 17 de abril, no município de Campos (Norte-Fluminense).

0420-crepop-da-inicio-ao-ciclo-sobre-educacao-basica01

Dando início ao encontro, a psicóloga do CREPOP, Beatriz Adura Martins (CRP 05/34879), explicou que o CREPOP é um “dispositivo do Sistema Conselhos encarregado de pensar e mapear, junto à categoria, as práticas do psicólogo, e estabelecer, a partir delas, referências técnicas”.

O conselheiro-coordenador da Comissão de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ, na qual se insere o CREPOP, Lindomar Expedito Silva Darós (CRP 05/20112), ressaltou que a iniciativa de promover dois encontros para cada ciclo, um no interior do estado e outro na capital, faz parte da proposta da atual gestão do CRP-RJ, de se aproximar mais da categoria.

Em seguida, Lindomar explicou que a discussão se daria a partir da metodologia sociodramática, que ele classificou de potente “por dar voz ao outro”. Os presentes foram, então, convidados a formarem duplas para se conhecerem e, depois, apresentarem o colega em primeira pessoa, constituindo, segundo o conselheiro, um “importante exercício de escuta e de se colocar no lugar desse outro”.

No momento de eleger o tema da dramatização, os participantes dividiram-se em grupos para compartilhar casos que tenham vivenciado ou tomado conhecimento em seus campos de atuação e que poderiam servir de ponto de partida para a encenação. Após escutarem uns aos outros, os presentes escolheram uma das histórias para o sociodrama.

O caso escolhido foi denominado José, aquele que talvez tivesse razão, sobre a trajetória de um adolescente de 13 anos que se afastou da escola e, a partir de então, tornou-se usuário de drogas. Durante o sociodrama, os participantes puderam entrar no lugar de qualquer um dos personagens, realizando intervenções no rumo da história.

A dramatização discutiu, entre outros pontos, a falta de articulação entre o trabalho dos profissionais que atuam no espaço escolar Foi abordado ainda o fato de, muitas vezes, a expulsão aparecer como alternativa mais comum, em vez de um acompanhamento psicossocial.

O psi na Educação

À dramatização, seguiu-se um debate, no qual os presentes manifestaram suas dúvidas, angústias e descontentamentos com relação ao papel e à atuação do psicólogo em Educação.

A primeira questão levantada foi a dificuldade de o profissional psi desenvolver, na escola, um trabalho que não seja, necessariamente, clínico. Segundo uma psicóloga, embora haja esforços para se pensar essa atuação não somente como uma intervanção clínica, ainda existe muita resistência por parte dos demais profissionais desse espaço. “As demandas que nos chegam, nesse espaço, são puramente clínicas. Quando se diz que a escola tem um psicólogo, acha-se que devemos estar lá à disposição para um tratamento psicoterápico”, afirma.

Outra psicóloga concordou, acrescentando que “ações no coletivo, com estudantes, professores e pedagogos, não se sustentam porque, na maior parte das vezes, o gestor não entende que isso seja de fato eficaz. Ele acredita no nosso trabalho de forma isolada, com o estudante sozinho na nossa sala”.

De acordo com outra participante, o psicólogo “precisa fazer diferente na escola; ele precisa implicar os demais profissionais a participarem da construção de projetos e atividades que envolvam a todos, e não somente chegar invadindo o espaço dos outros profissionais e impor um projeto ou uma visão”.

Nesse sentido, muitos presentes apontaram “a falta de entendimento” entre os profissionais da escola como um dos maiores desafios. Segundo uma psicóloga, “o que mais incomoda é não nos entendermos [psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e professores] enquanto grupo. Se conseguirmos nos comunicar, lidar com as diferenças, talvez nosso trabalho produza efeitos mais concretos”.

Já de acordo com outra psicóloga presente, o problema não é a falta de interlocução entre os profissionais, mas a “fragilidade dos vínculos construídos com eles”. Ela lembrou também que “essa iniciativa [de interlocução] deve partir da equipe, não do profissional”.

Por fim, os presentes buscaram avaliar como se dá a inserção do trabalho do psicólogo na escola. Uma participante sublinhou as dificuldades de realizar um trabalho de acompanhamento que permita ao psicólogo “estar de fato com esse jovem, de forma que isso produza realmente alguma mudança”.

Outra profissional destacou ainda que “o psi precisa entrar para fazer diferente e, ao esbarrar nas dificuldades, ele pode achar que não vai haver mudança e que nosso papel não é bem desempenhado. Essa busca é inquietante”. Já uma outra participante advertiu que a função do psicólogo no espaço escolar “é potencializar as falas da criança, do adolescente, do professor, que vão sendo esvaziadas e naturalizadas”.

Ao final do encontro, os participantes saudaram a iniciativa do CRP-RJ de procurar conhecer o cotidiano do psicólogo atuante em Educação Básica. Muitos afirmaram que saíam do encontro “com uma postura mais crítica da sua prática”, enquanto outros enfatizaram a importância “desse dimensionamento político das práticas”.

A próxima reunião do CREPOP sobre Educação Básica ocorrerá no dia 28 de abril, terça-feira, a partir das 9h, na sede do CRP-RJ, na Tijuca, Rio de Janeiro. O evento é aberto à participação de todos os profissionais interessados em debater o tema ou atuantes na área.

Texto e foto: Felipe Simões

20 de abril de 2009



0420-crepop-da-inicio-ao-ciclo-sobre-educacao-basica01-300x200.jpg