
A primeira mesa redonda do Fórum de Ética, “Avaliação psi nos dias de hoje”, teve participação de Mônica Labuto, Esther Arantes e Cecília Coimbra, respectivamente da esquerda para direita.
A primeira mesa redonda do Fórum de Ética teve como tema “Avaliação psi nos dias de hoje”, com mediação de Esther Arantes e participação da psicóloga e professora da UFF Cecília Coimbra (CRP 05/1780) e da juíza de Direito Mônica Labuto.
Cecília criticou a idéia platônica de que tudo tem uma essência a ser descoberta, que, segundo ela, predomina no Ocidente. “Há uma crença predominante de que as coisas que estão no mundo têm uma natureza. Na verdade, elas são produzidas pelas nossas práticas sociais. As subjetividades são produzidas o tempo todo, histórica e socialmente”.
A psicóloga exemplificou com dois pontos, trazidos do filósofo Michel Foucault. “A primeira questão que trago é a do discurso de que ‘onde está o pobre, está o perigo’. Mais importante do que o que o sujeito fez é aquilo que ele pode vir a fazer, devido à ‘sua natureza de periculosidade’. São impostas cada vez mais subjetividades moralistas, policialescas e paranóicas. Dizem que ninguém está seguro; o perigo está na rua, que é o lugar da pobreza”.
O segundo ponto levantado foi o do excesso de especialismos. “Como é que se dá a nossa formação? Com um modelo criado na Ditadura, em pleno terrorismo de Estado. É um modelo que intimiza, familiariza e psicologiza. Mas política não exclui Psicologia. Pelo contrário, quando você faz Psicologia, você está politizando. Assim, são precisas outras formas de pensar a Psicologia, outras formas de se escreverem laudos, não de maneira técnica e ‘verdadeira’. O laudo é um instrumento poderosíssimo de controle nas mãos de cada um de nós. Por isso, não podemos ser ingênuos; temos que pensar os usos políticos que ele pode ter”.
Mônica abordou, em seguida, a relação entre Direito e Psicologia. Ela comparou o Direito ao sujeito cartesiano, que vê uma “verdade universal”, “o certo e o errado”, enquanto a Psicologia tem relação com o sujeito do inconsciente. “A contradição do sujeito psi com o cartesiano se dá porque o primeiro tem a ver com subjetividade e com uma verdade do particular, enquanto o segundo tem relação com a razão, a objetividade e uma ‘verdade absoluta’. Assim, o juiz, por um lado, quer laudos objetivos e cobra isso do psicólogo, que, por outro, não pode fazer isso, pois trabalha com o subjetivo”.
Segundo ela, a Psicologia Jurídica surge a partir da “necessidade de se fazer chegar aos autos a fala do inconsciente a fim de que a verdade psi sobre os fatos seja materializada como instrumento de prova. A contradição do psicólogo jurídico é exatamente ter que colocar no laudo uma verdade universal, que não é a que ele pode trabalhar”.