Um dos pontos altos do primeiro dia da II Mostra Regional de Práticas em Psicologia, realizada pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) entre 10 e 12 de julho, foi uma mesa redonda sobre o tema “O Mercado que temos, o trabalho que queremos”. Mediada pela coordenadora da Comissão de Análise para a Emissão de Título de Especialista (CATE) do CRP-05, Maria da Conceição Nascimento, a mesa teve como palestrante Miguel Ângelo Barbosa Maia, mestre em Psicologia pela UFF na área de Subjetividade, Política e Exclusão Social e especialista em Educação para a Saúde.
A mediadora fez uma breve análise introdutória, contextualizando a função do psicólogo no mercado de trabalho contemporâneo. Ela ponderou, também, que a Mostra tem como objetivo problematizar as práticas em Psicologia e promover debate e reflexão em torno da função social do profissional de Psicologia.
Miguel Maia analisou a construção da atitude ética do psicólogo, como meio de posicioná-lo perante o mercado e suas exigências. Ele considerou que, atualmente, a conflituosa relação entre o trabalhador e seu trabalho faz com que a psicologia tenha a função reguladora nessas relações. Maia destacou, também, a importância da inventividade, da singularidade e da autonomia dos trabalhadores como possível alternativa ao modelo do mercado de trabalho em vigor.
O psicólogo também discordou da compartimentalização da psicologia em especializações estanques. “Somos psicólogos onde estivermos”, concluiu, contrariando a atual divisão da Psicologia em especialidades.
De acordo com o palestrante, é importante haver uma humanização do trabalho. “Criamos uma espécie de dicotomia entre trabalhador e trabalho, de forma que qualquer problema é atribuído ao fator humano”. Salientou, ainda, que humanizar o trabalhar significa romper com a perspectiva da filosofia humanista, que cria um modelo humano padronizado. Deste modo, caberia ao profissional psicólogo potencializar a singularidade, focando a questão na relação capital/trabalho, não individualizando as questões.
Durante o debate foi discutida também a precarizacão do trabalho e as situações de violação de direitos humanos que os psicólogos estão vivenciando em algumas de suas práticas. Miguel terminou sua intervenção sugerindo que mais fóruns, com o da II Mostra em Psicologia, fossem instituídos para o debate amplo dos conflitos éticos inerentes ao mercado de trabalho capitalista contemporâneo.
Ao final, realizou-se um debate entre o palestrante e os presentes. Entre os temas abordados, esteve presente a questão da precarização das condições de trabalho do psicólogo, levantada pelo conselheiro do CRP-RJ Lindomar Darós, cunhada no modelo de terceirização da força de trabalho. Outro assunto discutido foi a formação do psicólogo. “O tema ‘O mercado que temos, o trabalho que queremos’ me remete à formação que devemos ter. A Psicologia é uma das poucas profissões regulamentadas, mas grande parte dos alunos não conhece suas resoluções”, destacou o vice-presidente do CRP-RJ, Pedro Paulo Bicalho.
Miguel Maia fechou a mesa defendendo o fim da especialização, não apenas na Psicologia, mas em toda a área da saúde. “Psicólogos, psiquiatras, médicos e enfermeiros somos todos profissionais de saúde, e temos que nos unir em defesa dessa prática”. O palestrante afirmou que, às vezes, o psicólogo, quando atua em Psicologia do trabalho, termina constituindo-se no “porteiro do mercado de trabalho”, ou seja, aquele que define quem pode ou não entrar.
Veja mais notícias sobre a II Mostra.
Texto: Felipe Simões
Fotos: Bárbara Skaba
10 de julho de 2008