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Trocando em Miúdos: CRP-RJ debate o racismo


Data de Publicação: 7 de abril de 2008


No dia 27 de março, o CRP-RJ recebeu psicólogos e outros interessados para debater um tema polêmico: o racismo. O assunto foi discutido durante a primeira edição de 2008 do “Trocando em Miúdos”, evento promovido pela Comissão de Direitos Humanos do Conselho.

 Palestra abriu o evento "Trocando em Miúdos" sobre racismo.


Palestra abriu o evento “Trocando em Miúdos” sobre racismo.

Com o tema “Racismos: o que temos a ver com isso”, o objetivo do encontro foi pensar a relação da Psicologia com as diversas formas de discriminação racial existentes no Brasil. O evento começou com as palestras de três convidados e, em seguida, foi aberto o debate com todos os presentes.

Para estabelecer um diálogo mais aberto e abrangente, não apenas psicólogos falaram com o público, mas também um antropólogo. Júlio Tavares, professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), abriu o ciclo de palestras com um ponto fundamental: a importância da discussão sobre o racismo para a democracia.

“Toda vez que se fala em racismo, cria-se um constrangimento. A pobreza conceitual no trato dessa questão no Brasil é a grande responsável por essa turbulência psíquica quando se fala em racismo. É nisso que oriento minha pesquisa: na dissimulação – que, em Psicologia, vira denegação – da questão racial”, afirmou. Tavares completou que, no país, há um “mito da cordialidade”, ou seja, coloca-se que o racismo mais disfarçado, como se isso fosse uma coisa boa.

O antropólogo destacou ainda que uma das formas de se combater a discriminação pode ser a valorização dos heróis negros da nação. De acordo com ele, muitos desses personagens que teriam todas as qualificações para virar heróis nacionais não são reconhecidos e, quando são, a cor da sua pele não é divulgada. “Muitas pessoas passam pelo túnel Rebouças, mas não sabem que o André Rebouças, que foi um grande engenheiro, era negro”, exemplificou.

“Erguer um herói de face negra no Brasil exige que indiquemos a razão de seu apagamento até então. O responsável por esse apagamento é o Estado, ao longo de 500 anos”, acrescentou.
Após a palestra de Júlio Tavares, os presentes ouviram a conselheira Maria da Conceição Nascimento, (CRP 05/26929), pós-graduada na área de Relações Raciais pela UFF, mestre em Estudos da Subjetividade pela mesma universidade e coordenadora da Comissão de Análise para a Emissão do Título de Especialista (Cate) do CRP-RJ. Conceição também é psicóloga clínica, atuando com grupos de adolescentes, mulheres, movimento negro e atendimento clínico.

A psicóloga começou explicando que o grande problema do Brasil é que a condição dos negros é vista como natural. “Parece que é natural que o negro seja pobre ou esteja em posições subalternas. Isso não é visto como construção histórica”, declarou. Segundo ela, essa prática é típica do modo de subjetivação capitalista. “Seu objetivo é apagar todas as formas de singularidade. Ele também coloca fronteiras entre negros e brancos, como se fossem mundos distintos. Vemos as pessoas da forma que o capitalismo quer”.

Conceição afirmou ainda que é preciso entender a discriminação racial como uma prática. “Entender o racismo só como ideologia é insuficiente. Ele é produtor de realidades, produtor de mundos. As vidas de milhões de brasileiros estão sendo limitadas por essa prática”. A psicóloga encerrou sua fala deixando um desafio: “vamos manter essa ordem ou nos comprometermos com a sua desconstrução?”, indagou.

O psicólogo Lúcio Magano Oliveira (CRP 03/02399), terceiro palestrante da noite, não deixou dúvida de que adota a segunda posição. Ele é coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CRP–03 (BA/SE), mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Consultor da Secretaria de Promoção da Igualdade (SEPROMI-BA) para ação intersetorial nas comunidades quilombolas e integrante da equipe do Instituto AMMA Psique e Negritude, de São Paulo.

Concordando com Conceição, Lúcio afirmou que o racismo é uma construção histórica. “A Genética já comprovou que não há diferenças entre negros e brancos, mas a genética não muda a cabeça das pessoas”, disse.

Ele também destacou o papel da Psicologia na desconstrução dessa mentalidade. “A Psicologia tem um papel muito importante para desarmar o racismo na nossa sociedade. É preciso deslocar o racismo de um exame individual – ele é um sistema invisível que funciona 24 horas por dia. Não são episódios isolados”, explicou. Como exemplo, Lúcio citou a questão da violência policial contra negros em Salvador. “É um verdadeiro Genocídio”, disse.

Fechando o evento, a conselheira Suyanna Linhales Barker (CRP 05/27041), coordenadora da Comissão de Direitos Humanos, agradeceu a presença dos convidados e do público. “Inauguramos o Trocando em Miúdos deste ano de forma intensa”, afirmou. Ela concluiu destacando a importância de uma análise transdisciplinar sobre o racismo.



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