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CRP-RJ realiza III Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos


Data de Publicação: 12 de dezembro de 2007


No dia 7 de dezembro, a Comissão Regional de Direitos Humanos (CRDH) do CRP-RJ realizou o III Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos. Com o tema “Trabalho, Direitos Humanos e Psicologia”, o Seminário reuniu psicólogos e estudantes de Psicologia em Copacabana, Rio de Janeiro.

O III Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos reuniu psicólogos e estudantes de Psicologia para debater “Trabalho, Direitos Humanos e Psicologia”.

O conselheiro presidente do CRP-RJ, José Novaes, e a conselheira coordenadora da CRDH, Suyanna Barker, abriram o evento. Os dois lembraram que o XII Plenário, assim como o anterior, tem os Direitos Humanos como diretriz principal. “Nosso objetivo é sempre discutir e trocar, de modo que as questões dos Direitos Humanos estejam permanentemente na pauta da Psicologia”, disse Suyanna.

Em seguida, a psicóloga e professora de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo, Maria Elizabeth Barros de Barros, abriu a conferência. Maria Elizabeth falou sobre como os diversos modos de trabalhar criam modos de subjetivação. Para ela, o conceito de trabalho é diferente de emprego: “Não há trabalho que não seja gestão. Não há situação em que haja uma obediência cega às prescrições. Sempre há criação. Estamos sempre gerindo nosso próprio trabalho”, disse.

O III Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos reuniu psicólogos e estudantes de Psicologia para debater “Trabalho, Direitos Humanos e Psicologia”.

O III Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos reuniu psicólogos e estudantes de Psicologia para debater “Trabalho, Direitos Humanos e Psicologia”.

“É preciso se perguntar quais as escolhas metodológicas e conceituais que fazemos e que efeitos elas produzem. Na Psicologia, por exemplo: como pensar uma Psicologia que não tome como objetos sujeitos abstratos? Para mim, essa é a grande questão”, apontou Maria Elizabeth.

Apoiando-se em autores como Humberto Maturana, Francisco Varela, Yves Schwartz e Yves Clot, ela afirmou que “o modo de trabalhar é inseparável do modo de subjetivar”. “Nesse sentido — apontou —, estou afirmando que o trabalho não é neutro. Estamos produzindo modos de produção de subjetividade. O foco do nosso trabalho precisa se deslocar para os nossos processos de trabalho, a forma como se organiza o campo da psicologia”. A psicóloga afirmou, ainda, que é necessário saber “que modos de subjetivação estamos afirmando nos nossos diferentes locais de trabalho”.

Ela questionou a idéia de “gestão”. De acordo com Maria Elizabeth, é comum a idéia de que o gestor é a pessoa que detém um alto cargo em uma instituição. Entretanto, refutando essa concepção, ela apontou que a responsabilidade e a capacidade de gestão devem ser valorizadas de outra maneira: “Cada um de nós é gestor de nosso trabalho. O gestor não é o que está em um cargo instituído, numa Secretaria… Se trabalho é atividade humana, é criação incessante de modos de subjetividade, estamos falando que trabalho é gestão, o trabalho é gerado por cada um de nós” ressaltou.

O doutor em filosofia e professor na PUC-SP, Peter Pál Pelbart concentrou, em sua palestra, as questões do poder, na contemporaneidade.

O doutor em filosofia e professor na PUC-SP, Peter Pál Pelbart concentrou, em sua palestra, as questões do poder, na contemporaneidade.

O doutor em filosofia e professor na PUC-SP, Peter Pál Pelbart, foi o segundo a falar. Ele concentrou, em sua palestra, as questões do poder, na contemporaneidade. Segundo Peter, a biologização dos indivíduos caracterizaria a sociedade atual: “Hoje, a subjetividade foi reduzida ao corpo. Surgiu um corpo-espetáculo, que concentra todos os nossos desejos e cria categorias. A sociedade é dividida em grupos biológicos: os hipertensos, os soropositivos…”.

Peter analisou o conceito de ‘biopoder’, presente na obra do filósofo Michel Foucault: “Quando cunhou o termo de biopoder, Foucault tentava discriminá-lo do regime que o havia precedido, denominado de soberania. O regime de soberania consistia em fazer morrer e deixar viver. Cabia ao soberano a prerrogativa de matar, de maneira espetacular, os que ameaçassem seu poderio, e deixar viverem os demais. Já no contexto biopolítico, surge uma nova preocupação. Não cabe ao poder fazer morrer, mas, sobretudo, fazer viver, isto é, cuidar da população, da espécie, dos processos biológicos, otimizar a vida. Gerir a vida, mais do que exigir a morte”, afirmou.

De acordo com o professor, neste contexto, em que os indivíduos são submetidos não mais a poderes disciplinares coercitivos, mas a mecanismos de controle que fazem com que o poder se exerça de forma “imanente”, “de dentro para fora”, ainda há possibilidade para encontrar formas de resistência: “Tomemos apenas um exemplo. O capital precisa hoje não mais de músculos e disciplina, porém de inventividade, de imaginação, de criatividade, de força-invenção. Mas essa força-invenção, de que o capitalismo se apropria e que ele faz render em seu benefício próprio, não só não emana dele, como no limite poderia até prescindir dele” afirmou.

“É o que se vai constatando aqui e ali: a verdadeira fonte de riqueza hoje é a inteligência das pessoas, sua criatividade, sua afetividade, e tudo isso pertence, como é óbvio, a todos e a cada um. Tal potência de vida disseminada por toda parte nos obriga a repensar os próprios termos da resistência”, completou o professor.

A conselheira Cecília Coimbra fez o lançamento do livro “Direitos Humanos? O que temos a ver com isso?”

A conselheira Cecília Coimbra fez o lançamento do livro “Direitos Humanos? O que temos a ver com isso?”

Peter criticou ainda o “superinvestimento no corpo”, a que as pessoas se submetem diariamente: “É o que Francisco Ortega chama de bioascese. Por um lado, trata-se de adequar o corpo às normas científicas da saúde, longevidade, equilíbrio, por outro, trata-se de adequar o corpo às normas da cultura do espetáculo, conforme o modelo das celebridades”.

Após a palestra, a conselheira Cecília Coimbra fez o lançamento do livro “Direitos Humanos? O que temos a ver com isso?”, com as palestras dos dois primeiros Seminários de Psicologia e Direitos Humanos. Cecília fez uma homenagem à ex-coordenadora da Comissão de Direitos Humanos, Beatriz Sá Leitão, responsável pelos eventos: “Beatriz deu o tom às discussões sobre Direitos Humanos no CRP-RJ. Acredito que ninguém teria feito isso melhor que ela”.

Prêmio Monográfico Margarete de Paiva Simões Ferreira

Durante o III Seminário, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro lançou o Prêmio Monográfico Margarete de Paiva Simões Ferreira, que homenageia a ex-integrante da Comissão Gestora instituída no CRP-RJ em 2003 e psicóloga da Assessoria de DST e Aids do governo do estado do Rio de Janeiro, falecida em dezembro de 2006.

O CRP-RJ lançou o Prêmio Monográfico Margarete de Paiva Simões Ferreira, que homenageia a ex-integrante da Comissão Gestora instituída no CRP-RJ em 2003 e psicóloga da Assessoria de DST e Aids do governo do estado do Rio de Janeiro, falecida em dezembro de 2006.

O CRP-RJ lançou o Prêmio Monográfico Margarete de Paiva Simões Ferreira, que homenageia a ex-integrante da Comissão Gestora instituída no CRP-RJ em 2003 e psicóloga da Assessoria de DST e Aids do governo do estado do Rio de Janeiro, falecida em dezembro de 2006.

José Novaes, conselheiro presidente do CRP-RJ, falou sobre Margarete ao lançar o prêmio. Muito emocionado, ele lembrou que foi Margarete a responsável por levar grande parte dos participantes do XI e do XII Plenário ao CRP-RJ. “Sem ela, não estaríamos aqui”, disse.

Nesta primeira edição, o prêmio terá como tema “Experiências em Psicologia e Políticas Públicas”. O objetivo é dar visibilidade a experiências em Psicologia que tenham contribuído para a promoção e defesa de políticas públicas e dos Direitos Humanos. O prazo de inscrição de trabalhos vai até o dia 15 de maio de 2008.

O Prêmio será divulgado na II Mostra Regional de Práticas em Psicologia, em julho de 2008. Os vencedores nas duas categorias receberão um prêmio em dinheiro e terão seu trabalho publicado, no todo ou em parte, pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

Para ler o edital e saber mais detalhes sobre a inscrição de trabalhos para o prêmio, clique aqui.



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