Evento pretende estimular participação do interior do estado

A mesa de abertura do evento de Resende foi intitulada Práticas de Ensino: Criminologia na Universidade.
Nesta segunda-feira, 25 de junho, o CRP-RJ realizou em Resende, no sul do estado do Rio de Janeiro, mais um evento preparatório para a Mostra Regional de Práticas em Psicologia, que acontece entre os dias 9 e 12 do próximo mês. O evento foi o segundo realizado no interior do estado: no sábado, psicólogos e estudantes de Campos dos Goytacazes, no norte do Rio, puderam debater questões sobre Psicologia e Justiça.
A mesa de abertura do evento de Resende foi intitulada Práticas de Ensino: Criminologia na Universidade e teve como palestrantes Pedro Paulo Bicalho (CRP 05/26077), professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e João Carlos Pivatto Lipke, graduando do Instituto de Psicologia da UFRJ, monitor da disciplina Criminologia. Pedro Paulo apresentou o curso de Criminologia, que ministra na UFRJ, falando sobre questões que atravessam o trabalho do psicólogo que atua no sistema judiciário e na Polícia. Ele afirmou que, apesar de estas áreas estarem em expansão, com aberturas para o trabalho de psicólogos, o ambiente universitário ainda não corresponde às demandas de conhecimentos em criminologia.
“É um discurso ainda incipiente nas universidades. Temos percebido uma crescente abertura de vagas para psicólogos: em 1998 foi promovido o primeiro concurso para psicólogos nos Tribunais de Justiça do Rio de Janeiro e em 2002, a Polícia Militar do Rio de Janeiro promoveu, pela primeira vez, um concurso para psicólogos”, disse Pedro.
“Apesar de estarmos ocupando estes lugares, temos discutido pouco a questão”, afirmou o psicólogo. Pedro Paulo destacou que a disciplina que ministra procura averiguar se um pensamento positivista (baseado nos criminologistas italianos Lombroso e Ferri, cujas literaturas tiveram destaque na antropometria e sociologia criminal do século XIX) ainda persiste em instituições atuais.
João afirmou que há grande interesse por parte dos alunos em relação ao tema, que é bastante atual, por causa de problemas como a violência no Rio de Janeiro: “Muitos alunos querem se formar nessa área, estão vendo que é uma área rica. Atualmente, os monitores estão fazendo uma pesquisa sobre as milícias, há um enfoque sobre a subjetividade das pessoas que moram em comunidades dominadas por milícias”, disse.
Ainda comentando a questão do positivismo, questionada nas aulas do professor Pedro Paulo, a colaboradora da Coordenadoria Técnica do CRP-RJ (COTEC), Paula Rego Monteiro (CRP 05/34842), afirmou que “para o psicólogo, às vezes, é confortável pensar como um positivista, dentro de uma profissão angustiante como a Psicologia”.

A segunda mesa do evento debateu Psicologia em Prática: Sistemas de Privação de Liberdade.
A segunda mesa do evento, Psicologia em Prática: Sistemas de Privação de Liberdade, teve como palestrantes as psicólogas Márcia Badaró (CRP 05/2027), psicóloga da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (SEAP) e Aparecida Kazue Esaki (CRP 05/4797), psicóloga do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (DEGASE), que atua na unidade de Santa Cruz, do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Menor (CRIAM).
Márcia, que também é conselheira do CRP-RJ, falou sobre o projeto Leitura Também é Saúde, que criou na unidade Frei Caneca e sobre as Oficinas de Contação de Histórias, projeto aplicado junto às presidiárias com as quais trabalha. Segundo ela, é necessário “buscar saídas para as práticas institucionalizadas”. Márcia afirmou, ainda, que o trabalho do psicólogo ainda é visto como aquele estritamente ligado à clínica: “Falar em biblioteca, isso se associa diretamente a alguém da área de educação. Por quê? A biblioteca tem dono? Os agentes de segurança do sistema penitenciário costumam achar que o trabalho do psicólogo é fazer atendimento interno, não aquele tipo de trabalho”, criticou.
Aparecida apresentou um panorama da situação de trabalho nas 17 unidades do CRIAM, no Rio de Janeiro. Ela afirmou que o trabalho de psicólogos, dentro das unidades, privilegia um sistema de redes: “Existe todo um trabalho, não só com os adolescentes, mas com as famílias, além de termos parcerias com as Secretarias de Saúde (com oficinas de DST/Aids). Nós participamos também das redes sociais para tentar encaminhar os adolescentes para atividades externas”. Entretanto, Aparecida criticou as medidas de juízes, que determinam internações desnecessárias para os jovens: “Havia mais de 200 adolescentes em internação provisória até semana passada, e isso é um número muito grande. Os juízes ainda não perceberam que o melhor lugar para os adolescentes é ao lado de sua família”, disse a psicóloga.
Assim como Aparecida Esaki, que afirmou a necessidade de compreender a rede social em que o jovem está inserido, e Márcia Badaró, que falou em buscar saídas para práticas institucionalizadas, a psicóloga Eliana Olinda Alves (CRP 05/24612), da Vara da Infância, Juventude e Idoso da Comarca de Rio Bonito – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, questionou as demandas colocadas em relação à Psicologia, dentro do Sistema Judiciário. Para ela, o psicólogo costuma acatar pedidos dos profissionais do Direito que, muitas vezes, são inadequados: “Na relação Psicologia-Justiça-Clientela, onde a gente produz subjetividades vitimadas ou delinqüentes, há a questão da ética. Que ética é essa? É uma onde eu privilegio o outro? Ele é uma vítima, um algoz? Acho que o psicólogo responde a uma demanda sem pensar sobre ela, ele se coloca em uma posição de vítima”, criticou.

A mesa A Prática do Psicólogo: Tribunal de Justiça e Forças Armadas debateu a necessidade de buscar alternativas para as práticas de psicólogos, dentro de instituições de hierarquias e ordens rígidas, como as Forças Armadas.
Eliana participou da mesa A Prática do Psicólogo: Tribunal de Justiça e Forças Armadas, ao lado da psicóloga Janaína Barros Fernandes (CRP 05/ 26927), que foi tenente psicóloga do Exército Brasileiro, entre fevereiro de 2006 e fevereiro deste ano. Janaína atua hoje na Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro. Ela também afirmou a necessidade de buscar alternativas para as práticas de psicólogos, dentro de instituições de hierarquias e ordens rígidas, como as Forças Armadas.
Janaína questionou o modelo “hospitalocêntrico”, existente principalmente antes do movimento pela Reforma Psiquiátrica. Ela explicou como era seu trabalho no Centro de Recuperação de Itatiaia (CRI), na região sul do Rio de Janeiro, na época em que atuou como tenente do Exército: “O trabalho não era muito coletivo. Era necessário tentar fuçar, ver o que havia naquele contexto, o que eu podia fazer”, disse. “Passei a observar as reuniões de famílias que eram feitas no CRI.
Parecia haver dois grupos antagônicos: os técnicos e as famílias, cada um empurrando o paciente para o outro lado. Então começamos a pensar um novo modelo de reunião, a gente resolveu acabar com a distância entre os grupos”.
A psicóloga afirma que, depois de promover atividades de aproximação entre os familiares e pacientes a “discussão pôde circular melhor entre os familiares, e não partir dos técnicos”. Ela afirma, ainda, que, em vez de trabalhos padronizados, foram elaborados planos terapêuticos para os pacientes, a partir da rede das quais eles participavam.
Palestrantes e o público presente concordaram sobre a necessidade de buscar saídas para modelos pouco flexíveis de práticas dos psicólogos, no interior de instituições, como as colocadas durante o evento. O conselheiro do CRP-RJ, Pedro Paulo Bicalho, ressaltou a importância de os psicólogos do Estado, em especial aqueles das regiões interioranas — que costumam ter participação menor dos eventos promovidos pelo Conselho — apresentarem os trabalhos que vêm desenvolvendo nas instituições em que atuam.
Pedro Paulo lembrou que os eventos promovidos em Resende e em Campos dos Goytacazes tiveram como grande objetivo estimular os psicólogos dessas regiões a participarem da Mostra Regional de Práticas em Psicologia, que acontece entre os dias 9 e 12 do próximo mês. Se você ainda não se inscreveu na Mostra, ainda é possível participar. Confira aqui a programação da Mostra e faça sua inscrição.