A II Jornada de Estudantes de Psicologia da Região Serrana ocorreu no dia 03 de junho e contou com a participação de mais de 150 pessoas, dentre estudantes, profissionais e representantes das instituições de ensino de Psicologia da Região Serrana. O evento foi promovido pelo CRP-RJ por meio da Comissão de Estudantes – Núcleo Região Serrana, com apoio da Comissão Gestora Serrana, e teve como tema “Compromisso social, diversidade de atuação e ética para as futuras psicólogas”, contando também com reflexões sobre a garantia de direitos.
A segunda edição da Jornada ocorreu 4 anos depois da primeira, que foi realizada em 2019, antes da pandemia e do desastre socioambiental ocorrido na cidade. A realização deste evento depois desses acontecimentos reafirma a proximidade entre o CRP-RJ e as (os) estudantes da região. As temáticas do evento foram pensadas pela Comissão de Estudantes com o intuito de promover discussões sobre a formação, ampliando e fortalecendo as perspectivas estudantis sobre as diferentes áreas de atuação da Psicologia e seu compromisso social na luta pela garantia de direitos, promoção da diversidade e da ética profissional. Essa edição da Jornada de Estudantes de Psicologia da Região Serrana foi apresentada pela estudante Vanessa Jabour. O evento contou com intérpretes de libras e também foi transmitido ao vivo.
A mesa de abertura foi composta pela coordenadora da Comissão de Estudantes e conselheira do XVII plenário Victoria Antonieta Tapia Gutiérrez (CRP 05/20157), pela conselheira-presidenta do CRP-RJ Céu Cavalcanti (CRP 05/57816) e o coordenador da Casa dos Conselhos, local onde ocorreu o evento, Tiago Ezequiel. Em sua fala Victoria Gutierrez ressaltou a importância de a II Jornada contar com a participação de instituições dos municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, destacando o engajamento e união dos estudantes para a realização do evento. “Um evento para estudantes, feito por estudantes”. Céu Cavalcanti afirmou sua satisfação por um evento presencial após a pandemia de Covid-19 e em nome do Conselho saudou a todos e reforçou o compromisso de estar cada vez mais presente, uma vez que esse foi um dos eixos centrais da proposta de sua gestão, bem como a possibilidade da interiorização das discussões. “Acho que aqui se inaugura um fluxo que no nosso campo do desejo, vai ser cada vez mais fortalecido, de compor com as pessoas do território, as temáticas e demandas do território, o que é muito caro para nós”. Tiago Ezequiel afirmou sua felicidade pela presença da Jornada na Casa dos Conselhos, que é segundo suas palavras “a Casa da democracia participativa.” Aproveitou ainda para agradecer aos profissionais de Psicologia pela atuação na tragédia ocorrida na cidade de Petrópolis, em fevereiro de 2022. Após a mesa de abertura, as coordenadoras e representantes das instituições de ensino da região tiveram espaço de fala.
A primeira mesa do evento debateu sobre as diversas áreas de atuação da Psicologia, a mediadora Larissa Pereira Decoló (CRP 05/67508) abriu a mesa destacando “Tema muito importante para gente poder pensar a Psicologia além das quatro paredes do consultório.”
O primeiro participante da mesa, Raphael Curioni (CRP 05/47980), destacou sobre o contexto da Psicologia da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente no setor de atenção básica de saúde. Ele destacou: “Nessa inserção que vai sendo gradual dos profissionais da Psicologia dentro da área da saúde. Existem várias possibilidades de se trabalhar e elas vão estar sempre de acordo com aquilo que é na lógica do espaço que a gente vai estar inserido”.
A segunda participante da mesa, Eliane Lima (CRP 05/26769), falou sobre a Psicologia no contexto militar, dando ênfase a sua área de atuação no Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, no âmbito de emergências e desastres, e sobre a importância de se atuar além da técnica, “tem muita coisa que não está no livro, não está no protocolo, a gente vive junto”.
Por último, Alfredo Assunção Matos (CRP 05/60474), destacou aspectos da Psicologia no campo do trabalho, “Quando a gente pensa em psicologia do trabalho, a gente não está falando só da psicologia organizacional, da saúde do trabalhador ou saúde ocupacional, a gente está falando do fazer de cada profissional dentro do seu espaço, dentro do seu campo de atuação”. Alfredo nos trouxe também dados do último Censo da Psicologia Brasileira. Após essas colocações foram abertos blocos de perguntas para os profissionais presentes.
A segunda mesa debateu sobre a atuação da psicologia na garantia dos direitos. O mediador Heverton Muniz (CRP 05/61078) recepcionou todos os integrantes para assim dar início aos debates.
A primeira participante da segunda mesa Ariel Pontes (CRP 05/64806) abordou sobre o tema de Emergências e desastres: como atuar com o luto. Ariel destacou que o luto não é somente quando se perde alguém e sim uma vivência diária. Ela abordou a atuação do psicólogo diante da perspectiva de emergências e desastres e pontuou que “o luto é um processo, o luto tem um início o meio, mas não tem um fim, não tem um tempo para acabar… o luto ele vai ter uma vivência na sua vida para sempre e a forma como você vai elaborar isso que aí a gente vai saber como vai ser esse luto na sua vida, se ela vai virar uma saudade se vai continuar como dor…”. A psicóloga também pontuou que a perda para cada indivíduo é singular. Vale ressaltar também que Ariel destacou também a importância de uma rede de apoio para uma boa elaboração do luto.
O segundo participante da mesa, o psicólogo Lucas Gonzaga (CRP 05/49596) abordou o tema “Luta antirracista e violência de Estado: percursos clínico-políticos”, de extrema importância para a sociedade como também no contexto da Psicologia. Lucas falou sobre sua experiência no campo do sistema prisional e na garantia de direitos. Destacou como existe uma grande seletividade do sistema penal, a violência de estado e violações de direitos que se encontram presente no sistema prisional brasileiro, pontuando a importância pela luta de direitos e igualdade social, e o trabalho da psicóloga diante deste cenário, como também o sofrimento das mães que se encontram com filhos encarcerados. Lucas destacou “há muito tempo o racismo não foi debatido, foi legitimado”, reforçando o quanto esses temas devem ser debatidos, e enfrentado na sociedade, a fim de se obter formas de enfrentamento contra a violência e o racismo, onde jovens da periferia morrem diariamente diante de toda a violência do estado.
Por fim, a terceira participante da mesa, a psicóloga Céu Cavalcanti falou sobre subjetividade, diferença e garantia de direitos, tema este de grande importância na Psicologia. Céu pontuou que “somos quem podemos ser”, frase a partir da qual aponta diversas ideias e questões sobre como o profissional deve lidar diante das situações, diante das subjetividades e das diferenças, e como isso é importante para conhecimento e pela busca por garantia de direitos. Destaca a importância de se abrir para o mundo e se encontrar aberto às diferenças de cada um, de cada sociedade e de cada cultura. Céu falou também a importância do Sistema Único de Assistência Social para a Psicologia em todo o seu trabalho no meio social.
Ao fim da segunda edição da Jornada, foi possível refletir sobre a Psicologia nos mais variados campos práticos, reafirmar o compromisso com a ética enquanto futuras psicólogas e reafirmar ainda o compromisso social, não permitindo que a Psicologia seja excludente, reprodutora de estigmas e preconceitos. É preciso lutar por uma Psicologia democrática e acessível para toda a população, independente de classe social, raça ou gênero.
*Texto escrito pelos integrantes da Comissão Especial de Estudantes do CRP-RJ – Núcleo Região Serrana: Bruna Menezes, Carla Regina Coelho, Gabrielle Dunley, Flavia Trajano, Lucas Fontaine e Nathalia de Leo.