O Conselho Federal de Psicologia (CFP), recentemente, lançou o edital do Prêmio João W. Nery – “Práticas de Promoção de Cuidado, Respeito e Dignidade das Pessoas Trans”. Seu objetivo é identificar, valorizar e divulgar experiências de psicólogues, coletivos, grupos e organizações que envolvam a Psicologia como prática profissional alinhada aos direitos dessa população.
Pensar o cuidado em saúde e a despatologização das identidades trans é urgente. A cisgeneridade compulsória causa graves processos de sofrimento, criminalização, marginalização, estigmatização e exclusão. No Dia Internacional da Visibilidade Trans (31 de março), é importante relembrarmos a Resolução CFP nº 01/2018, que orienta normas de atuação para ês psicólogues em relação às pessoas transexuais e travestis, garantindo a autodeterminação em relação às expressões e identidades de gênero.
O nome do edital lançado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) também é muito significativo. João W. Nery foi um psicólogo, escritor e militante dos direitos da população trans. Ele foi o primeiro homem transexual a passar por cirurgia de redesignação no Brasil e teve seu registro profissional cassado por se assumir homem trans. No dia 29 de janeiro de 2020, o CRP-RJ entregou a Carteira de Identidade Profissional (CIP) dele para sua companheira Sheila Salewski como uma reparação simbólica por anos de transfobia. Infelizmente, a importância de João W. Nery nas transformações do campo da Psicologia é apagada.
Este apagamento revela um mecanismo de epistemicídio operado por uma estrutura social que visa silenciar e invisibilizar existências trans. Assim como ele, uma série de outras figuras revolucionárias foram marginalizadas por anos por questionar o status quo de muitas práticas que reproduzem violências contra a autonomia de pessoas trans.
No dia de hoje, é preciso valorizar vozes que contribuem para a construção de uma Psicologia ética, socialmente implicada, que respeita a singularidade dos sujeitos e promove cuidado com dignidade.
