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CRP-RJ DEBATE A SAÚDE MENTAL DA POPULAÇÃO LGBTI+ E COMEMORA OS 5 ANOS DA RESOLUÇÃO 01/2018


Data de Publicação: 27 de fevereiro de 2023


WhatsApp Image 2023-02-27 at 9.13.22 AM (2)Abrindo o mês de fevereiro, o Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro, por meio do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual e da Comissão de Eventos do CRP-RJ, em em parceria com o Programa Rio sem LGBTIFobia, representado pela equipe do Centro de Cidadania LGBTI Capital 1, realizou em sua sede, o evento “Reflexões sobre a Saúde Mental da População LGBTI no município do Rio de Janeiro”, que teve como objetivo debater o assunto e celebrar o quinto aniversário da resolução 01/2018 do CFP – celebrado no dia 29/01.

O evento contou com uma mesa de abertura e mais duas mesas temáticas, recebendo diversos palestrantes ao longo do debate.

A abertura foi com a conselheira presidenta do CRP-RJ, Céu Cavalcanti, que pontuou a celebração dos 5 anos da resolução 01/2018. “Estamos também situando um marco histórico, fazem cinco anos, que nós, enquanto Psicologia, publicamos a resolução do Conselho Federal de Psicologia 01/2018, que foi uma resolução que, cinco anos atrás, pautou um conjunto de maneiras de atuação da Psicologia em relação com pessoas trans, nos mais diversos espaços em que a Psicologia se relaciona com pessoas trans. ‘Ah, então foi específica para que a psicóloga, psicólogo ou o psicólogue trabalhe em algum ambulatório especializado ou serviço especializado?’, não, é uma resolução se propôs a pensar a Psicologia de um modo tão amplo, como a Psicologia é, mas em qualquer desses lugares tendo uma relação com pessoas trans, seja na clínica, na escola, no Detran, seja em qualquer lugar que a gente executa a psicologia e produz a psicologia”. 

WhatsApp Image 2023-02-27 at 9.13.22 AMCéu também compartilhou do orgulho em fazer parte da trajetória da luta pela saúde mental e pela identidade da população LGBTI+. “Uma das vantagens de ir envelhecendo é vendo a história acontecendo e vendo os ecos das coisas que a gente vai propondo, se espalhando e produzindo. Estamos produzindo coisas que a gente nem imagina ainda e quando passa um intervalo de tempo, a gente vive algo inimaginável. Essa resolução ajudou a produzir alguns inimagináveis para nós, pessoas trans do Brasil, quando ela pauta coisas que hoje, espero, no nosso entendimento coletivo, sejam básicas, mas cinco anos atrás não eram, como a perspectiva de que identidade trans não são patologias, não patologizáveis, não são da ordem de nenhuma disfunção, nada a corrigir, são possibilidades de vida, como qualquer outra. Acho que esse foi o primeiro ponto, que espero que esteja óbvio, mas em cinco anos atrás e para alguns grupos ainda não é tão óbvio assim, mas como Psicologia brasileira, desde essa resolução a gente marca com muita força de que identidades trans não são patologias, como já marcávamos que orientações sexuais não eram”.

Em seguida, Maria Eduarda Aguiar – Presidenta do Conselho LGBT do Estado do Rio de Janeiro, destacou a importância da representatividade. “Era inimaginável estar no CRP, tendo ao meu lado uma Presidente trans, uma mulher trans, que representa toda a nossa comunidade, dentro do CRP, porque a gente vem de um lugar, onde é difícil as coisas”.

Maria também indagou sobre a necessidade de uma rede mais forte na assistência das pessoas trans. “Na área da saúde mental, temos pensado muito, pois quando olhamos para a nossa rede de saúde, vemos que não temos espaços específicos para falarmos sobre essas questões, porque a população trans, se pensarmos hoje, é uma população que também precisa de uma boa assistência social, porque não tem. É a população que está precisando de um trabalho, porque não consegue ter saúde mental para terminar nem a formação básica, pois não temos na educação, uma maneira inclusiva à população LGBT, quiçá uma população trans. Então, como uma pessoa pode ter saúde mental, quando ela fica com medo até de utilizar um banheiro público num ambiente escolar? Se somos agredidas num shopping, imagina numa escola”.

WhatsApp Image 2023-02-27 at 9.13.22 AM (1)Após, Daniela Murta (Assessora Técnica da Coordenadoria Executiva de Diversidade Sexual vinculada à Secretaria da Casa Civil e da Superintendência de Promoção da Saúde da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), provocou sobre como promover saúde mental para a população LGBTI+. “Acho que temos alguns caminhos necessários para pontuarmos e o primeiro deles é a gente pensar que, ao contrário do que a Medicina tentou fazer por muito tempo e a Psicologia por alguns mecanismos reprodutores dessa lógica médica, fez também e ainda faz em alguns espaços, é que pessoas LGBTI não são doentes ou não tem um sofrimento psíquico por essência. Esse sofrimento psíquico, esse adoecimento mental, é decorrente de uma violência cotidiana. Uma violência da hora que você acorda à hora que você dormir. É a violência de você ter que provar o tempo inteiro quem você é. É violência de você ter que esconder o que você vive, de não poder expressar o que sente, de não ser reconhecido no que se faz, como só entrar num trabalho porque houve uma vaga específica para você. Então a primeira coisa que temos que discutir, quando falamos sobre a saúde mental da população LGBTI, é sobre como a gente promove essa saúde, principalmente num país que mais mata pessoas trans, no mundo, que mais consome pornografia trans, no mundo e que mais agride e tira a dignidade das pessoas trans por elas não seguirem uma matriz heteronormativa”.

Fechando a mesa, Junior Braga – Coordenador do Centro de Cidadania LGBT Capital 1 e Colaborador do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual, apontou que o número de atendimentos à população LGBTI+, que nos últimos anos, vêm crescendo. “A falta de acesso ao mercado de trabalho, à alimentação básica e à saúde, essa população LGBTI adoeceu muito, no quesito da saúde mental, então, acho importante considerarmos o que as pesquisas estão apontando, pois quando olhamos para os dados do programa, de 2020 para 2023, nós pulamos de 10 mil atendimentos para 25 mil atendimentos anual, no último ano, tivemos mais de 25 mil atendimentos considerando todo o território e os 18 centros que atendem a população LGBTI do Estado do Rio de Janeiro”.

 

WhatsApp Image 2023-02-27 at 9.13.23 AMA primeira mesa temática, debateu sobre a “Interseccionalidade, questões LGBTI+ e Conselho de Psicologia”, sendo iniciada pela Representante do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual do CRP RJ, Juliana Tempone, que salientou: “É importante destacar que a interseccionalidade é um fator importante a ser considerado em saúde mental, pois ela argumenta que diferentes formas de opressão que podem se cruzar e se somar, causando impactos negativos à saúde mental. As mulheres LBTQ+ em suas existências, enfrentam questões interseccionais, pois sofrem descriminações por outras razões em sua natureza enquanto sujeito, como as descriminações e fobias por raças, etnias, gêneros, classe social, religiosa ou de capacidade, sendo fatores que vão se somando a experiência LBTQ+ e podem multiplicar o risco de desorganização em saúde mental”. 

Seguindo, Maycon Pereira – Representante do Eixo de Políticas e Práticas Anticapacitistas do CRP RJ, enfatizou a importância de um espaço diverso. “Fomentar que o meu corpo existe, que o seu corpo também”. “Um lugar de fala protagonizado por um homem gay que vivencia a experiência de ser uma pessoa com deficiência”, completou.

Maycon lembrou que, mesmo em tempos modernos, temos que conviver com padrões impostos e reprimiu. “Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que subalterna qualquer pratica e condições que estão fora de uma normatividade imposta, isso precisa ser debatido, refletido e encaminhado, pois a sociedade brasileira contemporânea, ainda é uma organização que aniquila corpos e mentes que se desviam de uma normatividade estética. O corpo com deficiência é silenciado em todas as tentativas e práticas de existência. Outro dia, uma frase verificada foi: ‘como pode ser gay e especial?’. Eu já ouvi essa frase, daí eu retruco: ‘especial é sabor de sorvete, nós somos pessoas com deficiência’, esse é o termo que nós cunhamos, que nós gostaríamos de ser representados. Não somos pessoas especiais, não somos excepcionais, somos pessoas com deficiências, sujeitos de direitos”.

Também compondo à mesa, Matheus Leal – Representante do Núcleo de Psicologia, Saúde e Saúde Mental do CRP RJ, exprimiu que a partir do trabalho feito sobre a saúde da trabalhadora e do trabalhador trans – mulheres trans e homens trans, questionou-se so seu privilégio em uma sociedade preconceituosa. “Entendendo, com números de 2020, só 13% das pessoas trans, trabalhavam em empregos formais, assim comecei a me questionar quais são os espaços em que eu consigo estar e que muita gente não consegue, neste sentido tivemos acesso ao dossiê do ANTRA: 181 pessoas trans, foram mortas em 2022, sendo 81% entre 15 e 35 anos. Hoje eu tenho 29 e não tive, em nenhum momento, o meu corpo ameaçado pelas pessoas, diretamente, por expressar a minha afetividade, isso por conta dos privilégios de classe e de gênero, isso me atravessa. 76% são pretos e pardos, isso me faz refletir sobre o meu comportamento, novamente”.

Encerrando a mesa de debate, Thiago Rodrigues – Representante da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP RJ, levantou a reflexão sobre debater até que o tema em questão seja, realmente, levado a sério pela sociedade. “Pensei no que eu poderia trazer de novo para esse debate e enquanto pensava sobre uma nova contribuição, me veio a conclusão de que eu não deveria trazer algo novo, mas algo velho, porque existem coisas que as pessoas ainda não escutaram e se escutaram, elas fingiram que não, pois se estivessem, de fato, escutados, não teríamos o genocídio dos povos Yamomami, como estamos presenciando”.

Thiago falou também sobre a sexualização dos corpos negros e suas ocupações impostas na sociedade como um todo. “Quando eu falo sobre a questão do racismo do corpo negro, tanto do homem quanto da mulher, eu preciso lembrar de que não estou falando só do racismo vindo de pessoas brancas heteronormativas, é um racismo que existe dentro da comunidade LGBTI+, de que o corpo do homem negro, vai ser sempre aquele corpo para o trabalho e para o sexo e o corpo da mulher negra vai ser sempre para o sexo e reprodução”. “Pensando numa estrutura social, hoje, a mulher negra trans, se coloca abaixo da mulher negra cis, então quando as mulheres negras se movimentam, a sociedade inteira é obrigada a se movimentar junto”, dissertou.

 

A segunda e última mesa do dia, teve como tema “Os Centros de Cidadania LGBTI e a Sociedade Civil (Atividades e ações de Promoção da Saúde”, levando de volta ao evento, o palestrante Junior Braga – Coordenador do Centro de Cidadania LGBT Capital 1 e Colaborador do Eixo de Gênero e Diversidade Sexual, que relembrou do aumento do número de atendimentos e destacou a abordagem do Centro. “Ainda que venhamos a explicar para o usuário e para a usuária, que a gente não faz esse atendimento clínico, ele(a) vai bater na nossa porta dizendo, ‘eu preciso de terapia, eu preciso de um acompanhamento psicológico’, então a gente vai desenhar junto ao usuário o acompanhamento que é possível, dando espaço de acolhimento, mas mobilizando a rede inter setorial, para que ele possa ter esse acesso”.

Convidado à mesa, Mauro Luiz (buscar currículo), completou a fala de Junior. “Aonde tiver um espacinho, um acolhimento, nós vamos. A gente procura acessar mais pessoas”

Mariana Machado, também convidada, afirmou a importância do trabalho do Centro de Cidadania. “Antes do atendimento era um pouco mais difícil, após, as meninas ficaram mais calmas, passaram a ter mais cabeça para conversar e dialogar entre elas. O atendimento foi um divisor de águas”.

Finalizando a última mesa, Glauco Vital – Homem trans e Ativista LGBTI+, que provocou a atenção para uma rede de atuação mais ampla. “Durante o evento as pessoas citaram muito sobre a rede, eu faço parte de uma rede não oficial, na qual eu chamo de ‘Rede do Desespero’. Faço parte de uma rede, que as vezes em plena madrugada, a gente recebe pedido de socorro, de meninas lésbicas que em muitas vezes estão sofrendo violências dentro de casa e a gente precisa direcionar para uma ajuda, que nem sempre o ‘oficial’ consegue. Faço parte de uma rede de homens trans também, que simplesmente estão na rua por não terem para onde ir, pois a família não quer em casa. Faço parte de uma rede das travestis, que só querem fazer uma hormonização e não conseguem”.

 

Ao final de cada mesa, foram abertas ao público presente, rodadas de perguntas. 

O evento completo está disponível no YouTube oficial do CRP-RJ.



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