auto_awesome

Noticias






CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO NA 15ª MOSTRA TEM AUDITÓRIO CHEIO E REAFIRMA A IMPORTÂNCIA DO EVENTO PARA A PSICOLOGIA FLUMINENSE


Data de Publicação: 18 de agosto de 2022


WhatsApp Image 2022-08-18 at 12.14.13A tarde de sábado (30 de julho), após a última rodada de apresentação de trabalhos de psicólogas e psicólogos no campus Tijuca da Universidade Veiga de Almeida, teve a Conferência de Encerramento “Direitos Humanos e Psicologia: desafios para os próximos 60 anos”.

A conferência que encerrou a 15ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia encheu o auditório e trouxe Ângela Soligo, graduada em Psicologia, com mestrado e doutorado em Psicologia pela PUC de Campinas, docente/pesquisadora colaboradora da Faculdade de Educação da Unicamp, que foi presidente da ABEP-Associação Brasileira de Ensino de Psicologia e da ALFEPSI-Associação Latino-americana de Formação e Ensino de Psicologia; e              Céu Silva Cavalcanti  (CRP 05/57816), doutoranda em Psicologia pela UFRJ, conselheira do XVI plenário do CRP-RJ, integrante da diretoria nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura (ABETH) e da Articulação Nacional de Psicologues Trans (ANP Trans). A mediação foi de Isabel Scrivano (CRP 05/26162), psicóloga (UFF), doutora em Psicologia (UFRJ), conselheira do XVI Plenário do CRP-RJ e Técnica em Assuntos Educacionais do IFRJ.

Ângela, a partir da perspectiva dos desafios para a Psicologia daqui para o futuro, contextualizou sobre os mais diversos tipos de violência, como feminicídio, violência contra as crianças, violência contra negros e indígenas, entre outras tantas violações. “A cada dia, 3 mulheres são vítimas de feminicídio e 9 são vítimas de violência sexual, destas, 29% são crianças de até 10 anos. A cada 25 minutos um jovem negro é assassinado, na sua maioria, pelo aparato policial. O Brasil ocupou o topo do ranking de assassinato de pessoas trans, no ano de 2020 o número foi 975. Racismo, machismo, LGBTIA+fobia fazem parte do nosso cotidiano. Pensar no futuro implica entender o presente na relação da nossa história. Quando pensamos nas violências cotidianas, muitos porquês vem a nossa cabeça” pontuou.

“Me parece cômodo demais atribuir toda a violência a questões individuais, quando na verdade somos atravessados por todo contexto social, territorial, econômico, étnico, racial, religioso, no qual o machismo, racismo e patriarcado estrutural ainda produzem toda ordem de desigualdades, e nos subjetivam. A violência é coletiva e estrutural, não uma questão meramente de índole individual como muitos querem fazer parecer”, explicou a professora.

WhatsApp Image 2022-08-18 at 12.14.55Céu Cavalcanti propôs uma grande reflexão sobre a indissociabilidade entre a Psicologia e a luta pela garantia dos direitos humanos: “Pensei sobre essa articulação da psicologia com os direitos humanos, com alguns pontos que eu acho que fazem muito sentido. Esse é um diálogo inescapável, pensar essas palavras: direitos humanos. E se as palavras são vivas, como a gente vai pensando na Psicologia em vários campos diferentes, direitos humanos é uma palavra que vai ter os sentidos disputados constantemente. Não à toa, vimos nessa geração, essa palavra se alongando em disputas, então em alguns contextos, se nós chegarmos e falarmos sobre direitos humanos, parece que estamos falando um palavrão, algo proibido, ou algo que vai abrir uma série de debates inóspitos que não caberiam à Psicologia. Então, eu convido todo mundo aqui a pensar: que contexto tem essa palavra nos lugares onde você circula? É uma palavra pacificada ou é uma palavra que gera atritos? Isso nos coloca a pensar: se é um atrito geral falar sobre direitos humanos, isso significa que talvez a gente precise falar ainda mais sobre eles.”

Segundo Céu, um texto de Foucault, “Polêmicas, Políticas e Problematizações”, traz uma pista muito importante para esta reflexão: “uma forma muito eficaz de você barrar um debate é polemizando o tema porque a polêmica esgota o diálogo, esgota a escuta, a polêmica impossibilita que possamos pensar aberturas e perspectivas. A polêmica já traz verdades pré-estabelecidas porque estão fora do debate. Então, direitos humanos, assim como gênero, assim como várias outras palavras nesse contexto são polemizadas com o intuito de evitar o debate. Então convido a perceber: quais são as palavras que são demonizadas de certo modo para evitar comentários como: ‘afasta essa palavra daqui, afasta essa palavra dessa sala de aula, afasta essa palavra desse contexto de trabalho, isso não tem a ver’”.

E problematizou, “é muito curioso que direitos humanos, na Psicologia seja uma palavra tão polemizada quando no nosso Código de Ética atual se lê o princípio fundamental número 1 que diz: ‘o psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos’. Então, como direitos humanos pode ser uma palavra demonizada nos contextos da Psicologia brasileira quando é uma palavra que articula o primeiro princípio geral do nosso Código de Ética? O código que destrincha todas as nossas práticas começa a partir dos direitos humanos.

Dialogando com a fala de Ângela, Céu explicou que a partir da contextualização de uma psicologia como ‘ferramenta’, ela é manipulável para diferentes finalidades, em diferentes contextos e diferentes momentos históricos. E esse entendimento indica que deve-se ter um alerta constante. A ferramenta psicológica com seu conjunto discursivo enquanto campo do saber, já foi pensada para fins completamente diversos, como já justificaram, por exemplo, a expansão dos manicômios e de tratamentos desumanizantes. Já justificaram por muito tempo uma série de práticas higienistas em nome de uma suposta ciência.

Durante todo o evento, de forma quase espontânea, todas as palestras e falas dialogaram entre si, apontando para a ideia de que a Psicologia é indissociável das questões sociais estruturais que produzem as subjetividades do sujeito. E que a partir deste entendimento é necessário lutar por uma Psicologia brasileira que sirva a todas, todos e todes, tornando seu compromisso de transformação social mola propulsora da profissão, cheia de sentido e significado, não esvaziada como apenas um slogan. A Psicologia que queremos é construída a cada dia, a cada ação, a cada prática, a cada fazer psi. A 15ª Mostra foi mais um pedacinho nessa história de 60 anos de regulamentação, com a perspectiva de um futuro de muitos desafios e lutas, mas também mais digno e democrático.

Quer assistir na íntegra tudo o que rolou na 15ª Mostra? Clique aqui.

Para ler a cobertura completa da 15ª Mostra, comece aqui .



WhatsApp-Image-2022-08-18-at-12.14.13-300x209.jpeg
WhatsApp-Image-2022-08-18-at-12.14.55-300x162.jpeg