O último dia da 17ª Mostra ocorreu no sábado, 3 de agosto, após três dias de muitas atividades como apresentações de trabalhos, mesas temáticas, rodas de conversas e homenagem aos 50 anos do CRP-RJ.
Ao todo, o evento somou 2.802 pessoas inscritas, 1.580 credenciadas, 602 trabalhos submetidos, dos quais 575 foram aprovados pela comissão científica, 90 salas com apresentações de trabalhos e 66 monitoras(es).
Todas as mesas temáticas, conferência de abertura, solenidade de entrega de medalhas e encerramento estão disponíveis no canal oficial do Conselho no YouTube e no Facebook.
MESA DE ENCERRAMENTO – CAMINHOS DA PSICOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DO BEM VIVER EM TEMPOS DE NECROPOLÍTICA
Com a plateia lotada, a mesa de encerramento da 17ª Mostra apresentou uma reflexão crítica sobre o papel da psicologia em um contexto social marcado pela violência e pela desumanização.
Com o tema “Caminhos da Psicologia na Construção do Bem Viver em Tempos de Necropolítica”, a mesa foi composta por Geni Nunes (CRP 12/21795), ativista indígena, psicóloga, escritora e membro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Jeane Tavares (CRP 03/02458), psicóloga pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Saúde Comunitária, doutora e pós doutora em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (ISC/UFBA), docente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e docente do Mestrado Profissional em Saúde da pop negra e indígena (CCS/UFRB), Viviane Martins (CRP 05/32170), psicóloga e vice-presidenta do CRP-RJ na mediação e Iamara Peccin (CRP 05/73933), integrante da Comissão de Eventos do CRP-RJ.
Antes da mesa iniciar, Monica Sampaio (CRP 05/44523), coordenadora da Comissão de eventos do CRP-RJ e integra a Comissão dos Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) muito alegre falou sobre a construção com muitas mãos do evento como ela se orgulhava em ver tudo isso dando certo, sendo o auditório lotado um sinal desse sucesso e fez uma breve apresentação sobre o 12º COREPSI, destacando a importância do sistema conselhos para o desenvolvimento da Psicologia.
Muito emocionada, a vice-presidenta do CRP-RJ, Viviane Martins, enfatizou a proporção e as emoções do evento que contou com diversas atividades desde o primeiro dia, contendo discussões pertinentes e importantes para a categoria e também para a sociedade. Martins também recordou a homenagem que a Câmara do Deputados fez ao Conselho no primeiro dia, com a entrega de medalhas Pedro Ernesto, por reconhecimento do trabalho da Psicologia.
Jeane Tavares, iniciou sua fala abordando a importância do tema central: o racismo e seus impactos na saúde mental, especialmente da população negra. Ela argumenta que o racismo, presente em todas as esferas da sociedade, incluindo a psicologia, precisa ser continuamente reafirmado e debatido, pois ainda há pessoas que acreditam na democracia racial. Tavares introduz o conceito de necropolítica, que consiste na exclusão moral e a hiper exposição à morte, como mecanismos de controle e manutenção da hierarquia racial. A psicóloga também destaca indicadores alarmantes, como os altos índices de assassinatos da população negra pela polícia, que demonstram a realidade da necropolítica no Brasil. Por fim, a convidada palestrante critica a forma como a memória é apagada nesse contexto, exemplificando com a destruição do memorial em Jacarezinho, e ressalta a necessidade de manter a memória viva para que as lutas por justiça e reconhecimento continuem.
Geni Nunes, mulher indígena, teceu uma crítica profunda à colonização, enfatizando a persistência da lógica colonial e a importância da contra-colonização. Ela utilizou a experiência de seu povo, o Guarani, para ilustrar como a colonização se manifesta em diferentes esferas da vida. Ela abordou a exposição da alma como um conceito central, mostrando como a colonização reduz o indígena à condição de animal, negando sua humanidade. A busca por civilizar e cristianizar os indígenas revela a tentativa de apagar a cultura e a identidade. Nunes também argumentou que a desordem, para o povo indígena, representa a contra-colonização, a busca por romper com a ordem imposta pela colonização e utilizou o conceito de etnocídio, mostrando que a destruição da cultura e da identidade indígena é parte fundamental da lógica colonial.